A juventude e o futuro
A juventude e o futuro
Alexandre Santos (*)
Através dos tempos, por razões talvez explicadas por alguma espécie de medo da atualidade ou por uma neofobia qualquer, as pessoas tendem a acreditar que, no passado, a vida era melhor. Este fenômeno, tão bem traduzido por Wood Allen no filme 'Meia noite em Paris' (2011), vem sendo sistematicamente confirmado por pesquisas sobre qualidade de vida que destacam inconvenientes contemporâneos, como novas doenças, poluição, mudanças climáticas, violência, stress, engarrafamentos, altos índices de ruídos, etc. etc. etc. De fato, a despeito de todos os avanços científicos e tecnológicos, insatisfeitas, as pessoas costumam genericamente classificar a vida no passado como tendo sido 'melhor' do que aquela experimentada nos dias correntes e, nesta perspectiva, muitos lamentam a qualidade da sua própria vida, classificando-a [a qualidade da sua vida] como pior do que aquela vivida pelos seus pais, os quais, por sua vez, segundo este modo de ver o mundo, prefeririam ter vivido aquela vivida pelos seus pais [pais dos nossos pais, os nossos avós] e, assim, por diante, escrevendo um gradiente regressivo de felicidade - quanto mais pra trás, melhor.
Por outro lado, talvez por algum tipo de auto-afirmação, os mais velhos tendem a criticar exageradamente as gerações mais novas, como se, de alguma forma, [eles, os mais velhos] constituíssem um padrão de comportamento. Este fenômeno pode ser visto com nitidez nos filmes 'Juventude Transviada', de Nicholas Ray (1955), e 'Hair', de Milos Forman (1979), que aclaram a crítica aos mais jovens. Na realidade, via de regra, as críticas às roupas, adereços, preferências culturais, modo e ritmo de vida, forma de falar e jeito de ser vêm acompanhadas de reprimendas (implícitas ou não) e de dúvidas sobre a capacidade de as novas gerações conduzirem os destinos da sociedade. "Estamos perdidos" dizem os velhos ao ver os jovens exercitarem aquilo que a juventude lhes permite. Aliás, parece, até, que estes velhos tão críticos e exigentes nunca foram jovens. Tomando aqueles filmes como referencia, sem maiores dificuldades, observamos que a juventude, tão criticada em 'Juventude Transviada' envelheceu e constituiu a geração-algoz da juventude encarnada em 'Hair', a qual, por sua vez, também envelheceu e, hoje, se julga no direito de questionar a juventude que está por aí.
Na realidade, desde o início dos tempos, as gerações vêm e vão sem conseguir resolver os grandes problemas da humanidade - a fome, a miséria, a guerra, o desamor, o egoísmo e tantas outras mazelas. Sem aprender com as gerações passadas e sem conseguir ensinar às novas [gerações], todas elas [as gerações] amargam fracassos retumbantes e, assim, em verdade, nenhuma delas tem autoridade para servir de paradigma às outras. Mesmo assim, talvez sem consciência do próprio fracasso ou, quem sabe, por petulância ou desonestidade intelectual, algumas (normalmente, as mais antigas ainda vivas) agem como se pudessem julgar outras [gerações] e, mesmo, condenar algumas delas (e o fazem, especialmente com aquelas que estão se formando, crucificando os mais jovens).
Este é um tema controverso e, especialmente no âmbito das gerações diretamente envolvidas, acolhendo opiniões díspares. Da minha parte, não só estou convencido do fracasso da minha geração - que foi incapaz de resolver problemas que afetam a humanidade e [incapaz] de criar ou, pelo menos, lançar as bases de um mundo de paz, fartura e amor -, como confio no entusiasmo e força transformadora da juventude, que, através de métodos nem sempre compreendidos pelos mais velhos, tenta revolucionar o mundo, sepultando mazelas do passando e empurrando a humanidade para um regime de paz e de amor.
(*) Alexandre Santos é ex presidente da União de Desenvolvimento Cultural