ALGUMAS PALAVRAS SOBRE A FORÇA DA PALAVRA

As palavras dizem coisas, expressam sentimentos, traduzem idéias. Há denominações, frases e expressões que na verdade se referem a idéias contrárias às que pretendem difundir. Por exemplo, alguém, cansado do atual emprego e com intenção de abrir a própria empresa, em vez de dizer para si mesmo “vou ser empresário, profissional liberal”, diz “não quero mais ser funcionário”.

A depender do contexto, a idéia pretendida em ambas as frases pode até ser a mesma, mas as cargas valorativas das palavras nelas contidas são diferentes. Na primeira, afirma-se. Na segunda, nega-se. Vistos isoladamente, afirmar e negar podem se contrapor, ou não. Como o objetivo é produzir pensamento positivo – positivo, reparem bem -, melhor fazê-lo de maneira direta do que negar aquilo que não se quer.

Outro exemplo interessante. Para disputarem a Copa do Mundo, as seleções nacionais de futebol disputam diversos jogos, em que os melhores posicionados classificam-se para a competição. Observem: as seleções classificam-se. Então por que o nome dessa competição prévia à Copa se chama “Eliminatórias”? Deveria ser “Classificatórias”.

Acompanhem o raciocínio.

Há alguma seleção de futebol cuja participação esteja garantida na próxima Copa? No caso da Copa de 2010, a resposta correta é sim, a da África do Sul, pois somente o selecionado do País sede tem vaga certa nesse campeonato mundial. Até a Copa de 2002, o atual campeão assegurava sua presença no certame seguinte. De lá para cá, é preciso que todos os times disputem as Eliminatórias, com exceção do País anfitrião.

Afastada a ressalva do País sede, nenhuma seleção está com participação garantida na Copa, por isso terão de disputar diversos jogos e os melhores colocados se classificarão para esse campeonato da FIFA. Enfim, os melhores classificam-se, ao passo que os não integrantes desse seleto grupo estão eliminados. Então por que dizer “Eliminatórias” em vez de “Classificatórias”? Por que enfatizar os eliminados e não os classificados? Para a disputa da Copa, interessa saber quem são os classificados e não os eliminados. Melhor seria usar “Classificatórias para a Copa do Mundo” por ser expressão de sentido positivo. Em tempo: isto nada tem a ver com o “politicamente correto”.

Pode parecer bobagem, mas não é. O exemplo utilizado – Eliminatórias, em vez de Classificatórias para a Copa – tem grande apelo midiático, por isso foi o escolhido. Percebam quantos outros nomes, de cunho negativo (ou não-positivo), são dados a um sem-número de situações. Outra situação ilustrativa: o plebiscito ocorrido em 2005 acerca da possibilidade da manutenção da venda de armas e munições no Brasil incidiu sobre dispositivos legais da Lei 10.826/2003, de antemão denominada “Estatuto do Desarmamento”. Curioso, não? Seria o mesmo se fosse chamada “Lei de Armas”? Creio que não. Bem assim a nomenclatura “Ministério da Defesa” transmite idéia diferente (e oposta) de “Ministério da Guerra”.

Pois bem, são apenas algumas palavras sobre a força da palavra. Afinal, palavra tem força. E muita.

Danilo Andreato
Enviado por Danilo Andreato em 14/10/2007
Reeditado em 14/10/2007
Código do texto: T693899