Os dois lados da moeda

Os Dois Lados da Moeda

É muito bom quando, ao tomar uma decisão, o responsável por ela ouça todos os envolvidos. O que é necessário, por vezes, é deixado de lado pela personalidade do tomador de decisões, pela urgência delas ou ainda porque não aprendemos a conviver com a democracia. Muitas pessoas, por estarem há muito tempo numa função ou cargo, acabam acreditando-se donos da verdade e vêem somente um lado da questão. Por não terem feed back de suas decisões, pensam que elas são sensatas e justas.

A consulta é benéfica na medida em que torna benéficos os resultados das decisões. Da mesma forma que o soldado em batalha corpo a corpo sente muito bem o embate da peleja. Enquanto aquele que joga as bombas a milhares de pés de altura, nem analisa as mortes que está causando, uma vez que não ouve os gemidos dos abatidos por elas e nem vê os corpos dilacerados por sua decisão.

Há pessoas que dizem, com certo orgulho, que são detentoras de um cargo público há muitos anos. Políticos, então, estufam o peito para dizer que são reeleitos há tantos e tantos mandatos. Às vezes são vereadores há 5 mandatos e nunca passaram disso nem se arriscam a vôos mais altos com medo de cair. Seria necessário que se reciclassem. Quer mudando de esfera, quer ficando em casa por um mandato para voltarem a sentir o mundo dos mortais. Voltarem a ter barro embaixo das unhas ou graxa nas mãos, resultado do trabalho físico que seus eleitores são obrigados a fazer cada dia mais para sustentar os cargos dos mandatários.

Há membros antigos da alta hierarquia pública que, se fossem fazer um novo exame psicotécnico, daqueles que são exigidos para acessar o cargo, provavelmente refletiriam as fixações e paranóias que o cargo já lhes trouxe. De tão acostumados a verem as coisas do mesmo lado, não conseguem fazer uma leitura da forma que aqueles que estão do outro lado a fazem. O mesmo acontece com alguns executivos da iniciativa privada que, por não terem privilégios da cobertura de erros nem da reciclagem que têm seus colegas da atividade pública, acabam perdendo seus empregos. As empresas privadas tomam decisões drásticas para sobreviverem. Na função pública, quem é demitido é a eficiência e o servidor relapso ou estressado permanece. Para recuperá-la toma-se medidas às vezes atabalhoadas e drásticas que se refletem sobre toda a população.

Quando sofria do policiamento de idéias no auge do AI 5, no início da década de 70, ficava muito revoltado contra os opressores. Quando ouvia o lado deles, ficava estarrecido em descobrir que eles pensavam estar cumprindo seu dever. Quanto mais oprimiam, mais alto era seu conceito junto aos superiores e melhor desempenhavam seus papéis. Um total inversão de valores que pode ocorrer a cada instante, se não pararmos para analisar o todo.

Se estamos entre as árvores não vemos a floresta. Olhando a floresta de longe, não distinguimos as árvores.

Luiz Lauschner – Escritor e Empresário.

www.luizlauschner.prosaeveso.net

.

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 13/10/2007
Código do texto: T692459
Classificação de conteúdo: seguro