VOCÊ TEM MEDO DE MORRER? (resposta à pergunta feita por Well Coelho)

Não sei bem se seria uma simples pergunta ou um tiro na testa. Vivemos pensando na morte ao mesmo tempo em que nos enganamos, dizendo a nós mesmos, com aquela nossa voz íntima, que não estamos questionando coisa alguma. A pergunta vem como uma bala de fuzil e se aloja bem no meio da nossa testa distraída. Aí, inventamos uma mentirinha para não demonstrar mais medo do que imaginávamos ter.

Estou embromando, é evidente. Sabe por quê? Porque não sei a resposta. Tenho que me perguntar: Tânia, seja mulher, e diga se você tem medo ou não da morte? Isto só não adianta. Continuarei enrolando até a mim mesma. Fico pensando se é lógico e racional sentir medo da morte se é a lógica e a razão que nos dizem ser ela inevitável, certeira mais que qualquer bala.

Tenho ou não tenho medo de morrer? Estou agora pensando com meus caixões que eu queria mesmo era matar a morte. Mas, e onde ela está? Quero queimá-la viva na fogueira de Chernobyl. E ela tem vida? E como pode a morte ter vida? Sim, pode! Se ela não tivesse vida, como viria nos matar? Morte, ó Morte, tu és de arrombar. Sinto vontade de mandar você tomar naquele lugar. E você tem aquele lugar? Ah, sei, eu vou desejar que o Corona te pegue e te abrace até sufocar e matar. Que grande alegria para o mundo! E será que esse mundo complexo e conflitante se satisfaria com o fim da morte? Logo surgiriam as críticas e as reclamações de cansaço, de enfado da vida. Logo estariam gritando: Morte, vem! Vem nos matar...

Depois da morte nada mais dói, então o melhor é, caso eu sinta medo, tratar de me acostumar com essa perspectiva. Será que estou adotando essa posição safada? Bobagem, tudo o que se diz sobre a morte é bobagem ou poesia dos românticos. Triste da morte se não fossem os apaixonados românticos, eles amavam a morte. Tenho uma tendência forte ao romantismo, mas não tanta a ponto de amar a morte.

Como o leitor do meu texto pode notar, estou em cima do muro, tomara que aqui ela não me note e passe direto. A morte deveria ter vergonha na cara feia dela e se conscientizar que ela pertence ao grupo de risco e o Corona pode matá-la.