O MUNDO PÓS-CORONAVID 19
Tenho lido alguns textos de jornalistas e também de médicos e outros profissionais que se referem ao mundo pós-Coronavid 19. Dizem que tudo será diferente, que a crise serviu para aprendermos mais sobre o comportamento da humanidade, sobre nossa saúde e sobre nossas concepções e modos de vida na sociedade. Sim, isto é parcialmente verdade. Porém, em termos de aceitação e mudança em torno de 100%, jamais aconteceu, jamais acontecerá. Se fosse assim tão previsível e possível, a humanidade estaria a caminho da perfeição tendo em vista as hecatombes que já viveu.
O Corona não é a primeira peste que assolou a terra, é a primeira que nos atinge. Até parece que as pandemias agem de forma planejada. Faz tempo que as mais danosas atingiram pessoas que já se foram da vida. A mais comentada em boa parte dos estudos científicos tem sido a Gripe Espanhola (1018-1919). De lá pra cá, foram enfrentadas as gripes Asiática (1957), Hong-Kong (1968-1969) e a Suína (2009), mas sem todo esse caos promovido pelo Corona 19. Quem está lembrado disso?
Tem uns versinhos que dizem: “tudo passa nesta vida/passa o prazer, passa a dor/só não passa a saudade/ do nosso primeiro amor”. Essa saudade, sabemos também passar. Sim, o Corona vai impor mudanças de comportamento em todos os setores sociais, mas somente por um tempo. A vida prosseguirá, as lidas se sucederão, tomando espaços. As crianças de agora, quando alcançarem a idade adulta, não se lembrarão do que está acontecendo.
Refletindo sobre o comportamento humano e, mais de perto, o do povo brasileiro, o que sinto é o que se vê a todo momento: intolerância, violência, egoísmo, ausência de cautela, de empatia e de compromisso social, indiferença ao sofrimento alheio, manifestações absurdas por toda parte, etc. Trata-se daquele velho e tradicional “cada um cuide de si e Deus de nós todos”. Ou então, os mais mal-educados gritando “vá sifu” e “vá tomar no c*”.
Seja pobre ou seja rico, o sujeito vai correr para recuperar o prejuízo, totalmente esquecido de tudo o que está acontecendo aqui, ali e acolá. O vendedor de pastel vai assar seus quitutes correndo contra o tempo, vai fingir cuidados que não costuma ter. O mesmo vale para feirantes, o mesmo vale para donos de grandes restaurantes, vamos comer carne estocada tão gelada e velha que vai parecer molambo. A sofreguidão bancária vai imperar na cobrança de juros, nas cobranças de boletos atrasados em geral. Os pais atacarão as escolas para que os filhos aprendam o conteúdo que não foi apresentado nestes dias de ira. Ficarão mais quietos os donos de funerária, tendo em vista que a feira tem sido boa. É, tem negociante, industrial e empresário que estão ganhando, até mesmo sem que tenham esperado essa “mão na roda”. As igrejas ganharão por rezar pelas almas. Os cinemas e canais de TV farão filmes e seriados. As mulheres voltarão aos salões de beleza, os homens às barbearias. As crianças comerão mais doces e chocolates. Os shoppings oferecerão maravilhas para atrair a clientela que esteve em isolamento. Os idosos gastarão com clínicas de saúde e de beleza, pensando que, assim, caso retorne um sujeito malvado como o Corona, eles não serão facilmente reconhecidos. Os campos de futebol arreganharão suas portas e aquelas torcidas ensandecidas estarão aglomeradas e gerando novos problemas de saúde. Ah, aqueles shows que reúnem milhares de jovens retornarão redobrados. As praias, imagine, terão tantos frequentadores e turistas que os tubarões fugirão bem para o alto mar.
Tudo como antes no quartel de Abrantes. É da nossa natureza estarmos inquietos.