OS DIAS EM QUE A TERRA PAROU

Estamos vivendo dias que jamais imaginamos nos nossos seus piores pesadelos, onde a morte está ai fora, em qualquer lugar, precisamos nos proteger de um inimigo invisível, então ficamos dentro de casa, mas as vezes precisamos sair, lá fora está tudo muito estranho, como nos primeiros dias do livro Ensaio sobre a Cegueira, onde ninguém sabe nada, mas vai vendo as pessoas se contaminarem, as deixam isoladas, mas logo todos se contaminam também e o isolamento deixa de existir, nesse momento as pessoas se mostram no que tem de pior e de melhor.

Ao ler esse livro fiquei meio atordoada com a bestialidade das pessoas, com os cheiros de fezes e urina nas ruas, mercados saqueados, pessoas abusando de outras, matando-as para terem o quê comer, mais uma vez a arte antecipa os acontecimentos da vida real, ainda não chegamos aos extremos, mas quem sabe o quê virá adiante?

Não encontramos álcool gel, porque pessoas fizeram estoques, os preços estão nas alturas, vemos aí todo o egoísmo, a sordidez de pessoas que se aproveitam de uma tragédia para lucrar algum.

Vemos governantes dando exemplo de como não se deve comportar, minimizando a atual tragédia mundial, expondo os mais simples a morte porque essas pessoas quando se derem conta da letalidade desse vírus talvez não tenha mais tempo para elas e os seus.

Tem gente indo a bailes nas favelas, se aglomerando em mercados, nos bairros mais pobres, as ruas estão normais, como se tudo que está acontecendo fosse nada, gente indo as igrejas.

Me pergunto o quê é mais mortal, o vírus ou a ignorância das pessoas?

No início do ano se ouvia na TV que um vírus estava matando do outro lado do mundo, tudo era tão distante que a gente aqui nem tinha noção que em alguns meses ele estaria paralisando o mundo inteiro.

Ainda estou atordoada, do nada me vejo dentro de casa, sem saber quando a vida voltará ao normal, tudo bem que ficar sozinha em casa, pra mim não é nenhum esforço grande, pois a vida inteira pra mim foi sempre assim, estou acostumada, minha casa é meu porto seguro, aqui tenho tudo que preciso pra viver em paz, mas a maioria das pessoas que conheço tem um sério problema com isso.

Se vê sozinha com sigo mesmo, é pior que morrer, são pessoas que vivem imersas em grupos, agora a vida tirou isso delas, imagino como está sendo esses dias para elas, devem ter tapado os espelhos e se enfiado de vez nas redes sociais, que no momento não tem mais lugar para fofocas, mas sim para postagens sobre o vírus e tudo que diz respeito a ele, tá chata, assim como a vida.

Então a única rota de fuga é a literatura, a música, o amor real, o cuidado da casa.

Então minha gente, VAMOS TIRAR PROVEIRO DESSE MOMENTO IMPAR NA VIDA DO MUNDO, vamos fazer as pazes com a gente mesmo, reencontrar o universo encantado dos livros, deixar um pouco de lado as notícias, só vê-las uma vez por dia, para se manter atualizados, mas sem mergulhar o dia inteiro nesse tema, vamos descobrir como é bom ficarmos imersos em nós mesmos e nos nossos mais amados, quando tudo isso passar vamos recomeçar mais fortes e sabendo conviver mais em nosso universo particular, gostando disso, afinal nossa casa é nosso território de segurança e prazer

Espero que o planeta aprenda que somos predadores, mas também presas frágeis de inimigos invisíveis que podem nos derrotar rapidamente sem grandes esforços, somos seres pequenos demais diante do estrago que fazemos na nossa casa planeta.

Nesse momento Deus é algo além de nós, que como pai que educa, deixa seus filhos entenderem que cada ato tem uma consequência, não adianta ficar pedindo ajuda pra Ele, é preciso aprender a viver com equilíbrio e ajudando uns aos outros, caso contrário todos perdem.

Somos nada diante do inimigo menor que um grão de poeira, somos nada diante da ignorância, diante da arrogância, somos nada diante da luta de forma errada, somos ninguém diante de todos, só depois de nos vermos assim, talvez tenhamos condições de nos ajudarmos com empatia, solidariedade e amor, então assim seremos mais forte e venceremos a morte.

Um dia lá na frente contaremos desses dias para as novas gerações e eles pensarão que estamos inventando uma história de terror, vão sorrir e pedir para contarmos de novo, dos dias em que a terra parrou.