APOCALIPSE NA ITÁLIA

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Tudo começou numa sexta-feira de um dia cinzento e invernal (podia ser diferente?).

Na manhã do dia 21 de Fevereiro, a mídia italiana difundiu a notícia que na cidade de Codogno, na região Lombardia (Itália do Norte) haviam sido registrados alguns casos de pessoas contaminadas pelo coronavírus. No começo poucos se preocuparam, pois o número de doentes era pequeno e raramente a virose acabava com o falecimento do contagiado.

Também nos dias seguintes a opinião pública ficou tranquila e os jornais falaram de uma forma de gripe um pouco mais agressiva que a normal, a que afeta quase toda a população do mundo quando chega o frio. Entretanto, com o passar das semanas, não apenas a epidemia se alastrava cada vez mais, mas também o número de indivíduos necessitando de terapia intensiva aumentava de forma preocupante. O problema não foi evidente desde o início pelo simples fato que o tempo de incubação da doença é muito longo, de 7 a 14 dias, podendo chegar até 24 dias. Pensem quantas pessoas podem ser contaminadas por um único indivíduo durante todo esse tempo!

Entretanto, a partir do domingo passado (8 de Março), a realidade revelou completamente o seu lado dramático, com centenas de óbitos e quase 10.000 pessoas positivas ao vírus. Na noite entre sábado e domingo o Governo emanou um decreto com caráter de urgência: quase todo o Norte da Itália foi declarado “área vermelha”. Ninguém pode entrar ou sair dessa área se não por graves motivos, ou seja, por trabalho ou terapias médicas. Por enquanto essas medidas vão vigorar até o dia 03 de Abril mas, com toda a probabilidade, serão ampliadas no tempo e no espaço.

Todas as escolas e estabelecimentos de ensino foram fechados. O mesmo vale para as academias, as piscinas, os cinemas, os museus, os teatros, os estádios, as igrejas, etc. O transporte aéreo seja doméstico que internacional praticamente cessou de existir; poucos os comboios e a polícia controla os passageiros para que ninguém tente se afastar das áreas vermelhas sem motivos importantes. Há controles severos também nas autoestradas. Se os leitores acham que tudo isso é exagero, então saibam que uns governadores das regiões do Norte, junto com expoentes dos partidos de centro-direita, na oposição, pediram que todas as lojas, com a exceção das de produtos alimentícios e das farmácias, sejam fechadas. Por sinal, dois governadores resultaram positivos ao COVID-19.

Parece que, para vencer essa guerra, não há outras medidas pois, não existindo uma vacina, a única arma que temos é impedir o contato entre as pessoas. Foi assim que na China conseguiram reduzir significativamente os casos de contágio. Uma medida oportuna teria sido a de obrigar as pessoas a sair de casa com a máscara, mas o fato é que tanto as máscaras como as luvas descartáveis sumiram já nos primeiros dias da epidemia e as poucas que ainda se encontram na Internet custam uma fortuna. Por qual motivo? É que o nosso Governo (de esquerda), quando ainda não havia casos na Itália, teve a ideia genial de doar centenas de milhares de máscara à China. Agora elas estão faltando na Itália, onde o número de mortes por dia ultrapassa o da própria China!

Os especialistas estimam o tempo mediano decorrido entre a data de início dos sintomas e o diagnóstico em 3-4 dias. 10% dos casos são assintomáticos, 5% com poucos sintomas, 30% com sintomas leves, 31% são sintomáticos, 6% apresentam sintomas graves e 19% críticos. 24% dos casos examinados são hospitalizados. 24% pode parecer um número relativamente pequeno, mas multipliquem esse percentual por mil ou dez mil!

O drama dentro do drama é que os hospitais não estão equipados para receber tantos doentes em tão poucos dias. Já não há mais vagas nos pavilhões de terapia intensiva e os aparelhos para a ventilação mecânica se tornaram insuficientes enquanto 10% dos infectados necessita de ventilação artificial. Destarte, muitas vezes, os médicos devem escolher quem vive ou quem morre e, de regra, os equipamentos são disponibilizados apenas para quem ainda não completou 50 anos.

É verdade que, em pouco tempo, foram criadas mais vagas nos hospitais mas, para conseguir, tiveram que fechar os prontos-socorros e adiar as terapias de doentes cardiopáticos e oncológicos. Quem tiver patologias que não sejam extremamente urgentes terá que esperar e rezar... Muitos saram, mas o processo é demorado e leva quatro ou cinco semanas, assim o número de pessoas hospitalizadas não para de crescer. Enquanto isso, na Lombardia estão morrendo 135 pacientes por dia, sendo que a grande maioria tem mais de 70 anos, mas não faltam jovens com menos de 30 anos hospitalizados com graves pneumonias. De alguma forma, os próprios hospitais se tornaram os lugares piores para a propagação do vírus.

Enquanto isso, outros graves problemas estão atingindo a Itália, entre eles a revolta nos presídios, onde os detentos, devido a superlotação, correm um risco maior de serem contagiados e solicitam, muitas vezes violentemente, maiores tutelas.

Quanto à economia o baque é dos piores. O turismo está morto; todas as reservas vinda do exterior foram canceladas em poucos dias. Ninguém entra e nem sai da Itália e até os nossos produtos alimentares estão sendo discriminadas no exterior. Minha mãe, que viveu o drama da guerra, conta que nem naquela época a situação foi tão dramática quanto agora.

Mas, falando no exterior, o que está acontecendo no resto da Europa? Tanto os dados oriundos da França como os da Alemanha mostram um quadro parecido com o nosso de duas semanas atrás. Por enquanto o número de contaminados é relativamente baixo, mas a progressão diária é a mesma da Itália e é evidente que, dentro de uns quinze dias, a situação do resto da Europa será igual à daqui.

O que posso recomendar aos amigos leitores do Recanto? Posto que o contagio já chegou no Brasil, aconselho a todos de providenciar desde já, e antes que desapareçam do mercado, luvas descartáveis e, acima de tudo, oportunas máscaras respiratórias de tipo FFP2 ou melhor FFP3, lembrando que com o utilizo constante das mesmas o filtro perde a sua eficácia e a máscara deve ser substituída.

Seria bom ter em casa um estoque de alimentos não perecíveis, não pelo medo que falte comida, mas para evitar de ter que sair de casa e enfrentar filas nos caixas dos supermercados, em meio a indivíduos contagiosos. Outra norma importantíssima é a de lavar cuidadosamente as mãos quando se entra em casa e de evitar o contato físico com outras pessoas, mesmo que se trate de parentes e amigos evitando, ao mesmo tempo, de frequentar bares, restaurantes, e outros lugares lotados. Portanto, se a epidemia chegar na sua cidade, evite sair de casa e aproveite para escrever um poema ou ler algo de interessante no Recanto das Letras.

NOTA IMPORTANTE: No Brasil, as máscaras podem ser encontradas no site Amazon.com.br - Digitar máscaras pff2.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO DIA 11/03/2020.

O Governo acabou de emanar um decreto que permite às pessoas de sairem de casa somente por três motivos: trabalho, saúde e compra de alimentos. Necessário apresentar a identidade e uma declaração assinada contendo os motivos pelos quais se saiu de casa.

Todas as lojas devem permanecer fechadas com a exceção das farmácias e das que vendem alimentos.

Richard Foxe
Enviado por Richard Foxe em 10/03/2020
Reeditado em 11/03/2020
Código do texto: T6884863
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