BREXIT: Apoteose soberanista e fracasso do globalismo
A recente oficialização do Brexit tem uma força simbólica enorme e, de certo modo, acaba servindo de chave interpretativa para todo o panorama das relações internacionais contemporâneas.
De fato, na saída do Reino Unido da União Europeia se consubstancia a principal divisão do cenário político mundial na atualidade: de um lado, temos os países "soberanistas"; de outro, os ditos"globalistas".
Os primeiros destacam-se por possuírem governos que, em consonância com as demandas legítimas e democraticamente expressas de suas populações, adotam uma postura de independência e defesa da soberania nacional, valorizando e estimulando a autonomia das nações que representam.
Os segundos, ao contrário, são os países cujos governos se submetem servilmente aos ditames e arbítrios de organizações internacionais como a ONU ou a já citada União Europeia, comprometendo irremediavelmente, portanto, a força democrática e o poder decisório de seus próprios cidadãos.
Em suma, no caso dos países soberanistas, o que se busca priorizar é a vontade do povo politicamente organizado e da nação historicamente constituída; já no caso dos países globalistas, priorizam-se as decisões - muitas vezes ideologicamente enviesadas - oriundas de organismos externos, formados por burocratas que não foram eleitos por ninguém e que, com frequência, ignoram por completo os anseios e peculiaridades das várias nações que compõem a comunidade internacional.
O Brasil de Bolsonaro alinha-se hoje com o grupo de países soberanistas, ao lado dos EUA de Trump e, é claro, do Reino Unido de Boris Johnson. Outros países, no entanto, também destacam-se nesse sentido: podemos citar, por exemplo, a Hungria de Victor Orbán e a Polônia de Mateusz Morawiecki.
Como se pode perceber, os países soberanistas possuem, em geral, governos de direita e conservadores - o exato oposto, aliás, do que se verifica nos países mais atrelados ao chamado "globalismo"*, já que os governos destes últimos têm viés marcadamente esquerdista/progressista. Assim sendo, uma interessante correlação torna-se não apenas possível como muito pertinente: no mundo atual, quando se trata de política externa, Direita é sinônimo de afirmação e honrosa autonomia, enquanto Esquerda é sinônimo de covarde submissão a ingerências externas e interesses alheios.
* É importante não confundir globalismo com globalização: esta ocorre de modo espontâneo, em grande medida graças aos avanços nas áres de comunicação e transporte e às relações de comércio que se estabelecem voluntariamente ao redor do mundo; o globalismo, por sua vez, diz respeito a um processo de burocratização e excessiva concentração de poder em organizações internacionais, o qual se faz acompanhar, invariavelmente, por uma gradual mas significativa perda de soberania e autonomia por parte dos países sujeitos a tais organizações.