NIETZSCHE E RELIGIÃO
Louvar a Deus causa escândalo a Nietzsche? Louvar a Nietzsche é mais razoável?
Bem, as razões pelas quais a explanação de um conceito da religião prática não pode ser absorvido por quem quer que assuma a postura da espiadinha desde fora são de teor incontornável, é como tentar ensinar a Defesa Siciliana a um pinguim.
Muito a propósito :
"Talvez a idéia mais estúpida que já passou pela cabeça de um acadêmico -- onde idéias assim são tão abundantes -- é a de que as religiões podem ser estudadas utilmente de um ponto de vista agnóstico ou materialista, fazendo portanto abstração da veracidade ou falsidade das suas doutrinas. A presunção de veracidade absoluta é a ESSÊNCIA de todas as doutrinas religiosas e o critério último do seu julgamento. Estudá-las sem levar isso em conta é jogar futebol sem bola." (Olavo de Carvalho)
Já de algum tempo, a leitura de Nietzsche me inspirava dúbia reação : enquanto o fascínio pela elegância do estilo literário do autor não me permitia incorrer na depreciação gratuita e injusta, apenas por uma questão de divergência de ponto de vista, havia também a nítida percepção de que algo mais surgia, ali, entre as iconoclásticas noções de seu aforismo demolidor.
Era como se eu percebesse que, alternando lugar com o prosador brilhante, aqui e ali, assumisse o espetáculo o adolescente franzino e desprezível, que em algum momento jurou revanche contra todos que o ofenderam, real ou imaginariamente, pelos seus déficits, pela sua limitação, por não ser ele o além-homem.
Pois toda a obra de Nietzsche é permeada pela presença dessa esquálida fantasmagoria, sim, mas de um fantasma de algo vivo, como o não por acaso também germânico döppelganger...é a vingancinha pessoal do impotente projetada num futuro propício, nos devidos termos e meio -- as batalhas pela alma se dão nas arenas da arte etc.
Não por acaso,então, o sucesso fenomenal do autor entre os ressentidos e fracassados em geral.
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