Assim nasce a Personalidade
ASSIM NASCE A PERSONALIDADE
Freud no seu trilhar pelo cérebro humano, concretizou que nós temos personalidade, literalmente falando, e as dividiu topograficamente em três. E assim “consciente” de seu trabalho ele as definiu como: Inconsciente, Pré-consciente e Consciente. A partir daí, oficialmente, o homem reconhece seus erros e passa a assumir os seus atos, pois cientificamente já surge a consciência. Nesta caverna que fascina, chamada de consciência, é onde nascem os sonhos, impulsos, e seus fósseis, facilitando a leitura de diversos transtornos mentais e manifestações através dos atos falhos, lembranças e sonhos.
Dividiu-se assim a Teoria Freudiana: Consciente, onde concentram-se os pensamentos, a atenção em rápido acesso. O Pré-consciente, onde nossas memórias trilham para o consciente após muita concentração de atenção. Inconsciente, o eterno desconhecido, donde parte da memória migra para a pré-consciência e dali para o consciente.
A consciência é, senão o um pensamento lógico, estar ciente dos acontecimentos, também é ao mesmo tempo um atributo ao espírito, do pensamento humano ou da mente. Ali, revela-se o raciocínio lógico, matemático, e o como viver num habitat social.
Já o inconsciente é a casa dos fantasmas do passado, o famoso armário com um cadáver escondido que todos nós temos. Nele se encontra o espelho da nossa infância, dos nossos medos, nossos traumas não resolvidos, residência incontestável do Id, nossa energia troglodita, o “homem das cavernas na casa fantasma”. Diria Boris Casoy:“Isso é um absurdo!”. Mas não é ! Isso é psicanálise.. diria eu !
Conforme seu livro A Interpretação dos Sonhos, ou podemos chamar de “A Biblia Onírica”, título onorífico sugerido por quem vos escreve, Freud considera que os sonhos nos levam a desmascarar o inconsciente interpretando aqueles, baseado nas imagens daquilo que é lembrado e naquilo que é latente. Parafraseando Chico Xavier: “Os sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente!”.
Desde os tempos antigos já se fazia a interpretação dos sonhos, já os analisava. Platão foi o primeiro a perceber uma relação entre o sonho e a política. Sócrates traduzia os sonhos enviados pelos deuses. Aristóteles em um dos seus estudos revela sensações em movimento enquanto se sonha:
“...então, como num líquido, se alguém veementemente o perturba, às vezes nenhuma imagem refletida aparece, enquanto que, em outros momentos, apareceu uma imagem realmente, mas tão completamente distorcida, que não se parece com seu original; enquanto que, em outros ainda, quando um movimento cessa, as imagens refletidas são claras e nítidas; da mesma forma, durante o sono, os fantasmas ou movimentos residuais, que são baseados em impressões sensoriais, tornam-se às vezes bastante obliterados pelo movimento acima descrito, quando ele é violento demais; enquanto que, em outros momentos, as visões são realmente vistas, mas confusas e estranhas, e os sonhos que então aparecem não são saudáveis, como aqueles de pessoas coléricas ou febris ou embriagadas de vinho.”
(ARISTÓTELES, 1994a,p.5,traduzido por Divanize Carbonieri, grifo do original).
Artemidoro, faria a distinção entre sonhos alegóricos e teoremáticos. O primeiro, são aqueles que se deve codificar, meramente complexos. O segundo, são sonhos quase que interpretativos em sua visão. E assim, a história nos mostra que mesmo nos tempos remotos existiam diversos Freuds.
Já o pré-consciente, é uma espécie de ponte, que leva a lembrança do inconsciente ao consciente. Essa relação com ambos os opostos, criam fatos reais daquilo que deseja o inconsciente. Na ausência de um ator dessa tripartite, gera-se um tsunami de loucura...afinal como dizia Machado de Assis: “ A loucura é uma ilha perdida no oceano da razão”.
Freud veio a falecer em 1939, e sua pesquisa toma caminhos diferentes daquele proposto por ele, uma vez que a ciência obstante daquela época emuralhava as teorias abstratas de Sigmund. Mais tarde, nos anos 50, Lacan põe em pauta uma releitura das pesquisas de Freud, e a psicanálise retoma seu rumo nos trilhos. Lacan foi um médico, psiquiatra e psicanalista francês que se afastou da psicanálise ortodoxa, introduziu elementos novos como a teoria da linguagem e da matemática. Para Lacan, o inconsciente funciona como se fosse uma linguagem: “A estrutura do inconsciente é similar a uma linguagem”. Com novas teses, argumentos, propostas e pesquisas, reacendeu assim, o retorno à chama da linguagem freudiana. Na época, Freud chegou a se remexer no túmulo, mas se aquietou novamente.
Na junção dessa tríade nasce a PERSONALIDADE. Personalidade é o conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de pensar, sentir e agir. Características essas, marcantes de uma pessoa. Cada ser humano é exclusivamente único, existem muitas pessoas no mundo, no entanto, não há duas pessoas que sejam iguais. Cada ser humano tem sua maneira de ser, seu encanto pessoal, através da personalidade seu caráter é exibido. E assim Freud criou o homem !
Em entrevista concedida, em 1938, à BBC de Londres, Freud diz: “ Eu tive que pagar caro por esse pedacinho de sorte. A resistência foi forte e implacável. Finalmente, eu consegui. Mas a luta ainda não terminou. Meu nome é Sigmund Freud.”
Menotti Orlandi