Fabrica da Estrela
Benedita Azevedo]
A Real Fábrica de Pólvora foi criada pelo decreto de 13 de maio de 1808 e estabelecida na Fazenda da Lagoa Rodrigo de Freitas, que fora adquirida pela Coroa por meio de subscrição voluntária entre os moradores da cidade e em cujas terras também foi instalado um jardim botânico (BEDIAGA, 2007, p. 1.139).. O governo cogitava desde algum tempo, transferi-la para outra localidade, em melhores condições de segurança. Assim, pela portaria de 23 de outubro de 1824, nomeou a comissão para escolher um local na vizinhança e recôncavo da corte, de preferência às margens dos rios navegáveis ou seus afluentes do Rio de Janeiro.
Mandava também que a portaria “examinasse, igualmente o estado das obras do armazém de pólvora, às margens do Rio Estrela. A ida da comissão, para ver o armazém determinou a escolha do novo local para a fábrica. Os engenheiros optaram pela fazenda da Cordoaria, do coronel João Antônio da Silveira Albernaz, onde se hospedara D. João em 1809, que foi desapropriada pelo (decreto-38544-22-setembro-1825-567044-publi-) A posse foi efetivada pelo desembargador Juiz da Coroa e a fazenda ocupada de acordo com a ordem de 30 de junho de 1826, ao governador das armas da Corte e Província do Rio de Janeiro, por um destacamento militar. Em 30 de dezembro do mesmo ano, também foi desapropriada para a mesma finalidade, a Fazenda da Mandioca, que lhe era vizinha e pertencia ao conselheiro Langsdorff.
Desgostoso Albernaz morreu sem tocar no dinheiro que pagaram pela sua fazenda.
A transferência, iniciada em 1826, seria concluída apenas em 1832, quando a fábrica da Lagoa seria finalmente fechado e novos estatutos seriam aprovados em 21 de fevereiro desse ano para o seu funcionamento em nova sede, ao pé da serra da Estrela. A transferência se deu com muitos sacrifícios pela precariedade dos meios de transportes, considerando o tamanho e o peso das peças que precisavam ser deslocadas.
A reinstalação marcou uma fase de intensivo desenvolvimento local. O Governo, de início, alugou três armazéns no Porto Estrela o que fez sua movimentação triplicar e atingir grande apogeu, mais tarde, por medida de economia foi reduzido a dois. Com a fábrica chegou também o desenvolvimento. Imensas obras foram realizadas: água canalizada, construções de grandes açudes, imensos aterros, instalação de vias férreas etc.
No momento do conflito entre o Brasil e o Paraguai, a fábrica em plena produção forneceu todo o armamento necessário na defesa da nação, momento este que consolidaram as glórias obtidas por Luiz Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), filho do Distrito de Inhomirim.
Com o término do conflito, sem necessidade de constantes armamentos, a fábrica ficou ao acaso, em abandono, sem receber máquinas modernas, culminando com a paralisação total em 1875. O ressurgimento da fábrica se deu em 1885, pelas mãos do Coronel Ernesto A da Cunha Mattos. A reforma abrangeu os edifícios, às máquinas com reformas e compras de novos equipamentos. Passou a ter lucros compensadores e com o aumento da produção ocorre a necessidade de maior número de mão de obra. Com o advento da república, a produção abasteceu o Exercito da Armada, cujas armas e munições serviram para a nossa própria destruição com os Horrores de Magé.
Com a instalação da Fábrica de Pólvora, Raiz da Serra foi invadida por um surto de enorme progresso. O Caminho de Proença concluído em 1723 que servia de via para Minas Gerais e Petrópolis era muito movimentado, por ele passaram príncipes e princesas em suas liteiras carregadas por escravos.
A instalação militar proporcionou mais segurança à população surgindo assim. grandes casas comerciais. Os militares ali instalados, necessitavam de atividades sociais e lazer. Surgindo então, a usina hidrelétrica, cinema, clube para as reuniões sociais e esportes, hospital, cassino etc. A benéfica evolução foi sentida pelos moradores com uma verdadeira integração entre militares e civis, que serviu para um inestimável progresso social.
Referências: PONDÉ, Francisco de Paula Azevedo. O Porto da Estrela. Em: Revista do IHGB, No. 293, 1971.
Magé, junho de 2015
Benedita Azevedo