TESOURO

Definição abstrata de valor, aliada ao sonho individual, que completa o nosso prazer por inteiro.

Crescemos em um mundo que define tesouros e seus valores, e aprendemos a valorizar sentimentos, objetos e pessoas.

Algumas pessoas são infelizes, apesar de serem amadas, rodeadas de bens, boa formação e de reputação límpida.

Criaturas se lançam na aventura de vencer esta insatisfação pessoal cujos especialistas de várias áreas do conhecimento humano definem-na de maneiras diferentes.

Filósofos, psicólogos, sociólogos, teólogos, livres pensadores e críticos acéticos disputam uma concorrência entre o dever cívico e a conquista pessoal de cada ser humano.

Afinal de contas o que é mais importante? O ter ou o ser? A humildade ou a soberba? O indivíduo ou o coletivo?

Por certo que todos nós sabemos muito bem escolher quando colocamos em nossas balanças morais estas questões, julgadas sob a ética.

Mesmo vivendo padrões éticos, o homem não é feliz.

Pessoas manifestam sentimentos e sonhos que são contrários ao que aprenderam durante toda vida. Nem sempre o homem é produto do meio. Gentes que conviveram com a violência toda sua infância se tornaram dóceis quando adultos. Também somos surpreendidos por outros tipos de condutas.

Um ciclo que faz parte da história da humanidade. E ás vezes perguntou, por que isto? A resposta está dentro de cada um de nós. Apesar do desenvolvimento científico, somos seres em constante evolução. E a decepção é contundente, é fria, é esmagadora e cruel. Atitudes sem alienações; somos os únicos responsáveis.

Já se acreditou que tudo girava em torno de um astro chamado destino. Não demorou muito para este virtual conhecimento se desintegrar.

Divindades que faziam de nós marionetes. Viver a mercê dos caprichos de seres superiores e imortais. Tudo isto é apenas uma forma de fugir, uma desculpa tediante e nauseabunda.

Mas a busca pelo tesouro continua, e não pode parar.

Mas será que ninguém alcançou este limiar tão cobiçado? Um estágio que cada um batiza com nome diferente? Nirvana, iluminado, autogestão, sublimidade, elevação, magnificência, excelência, perfeição, beatificação etc.

Depois do relativismo uma avalanche se despenca da montanha criada por nós. Como se estivéssemos começando tudo de novo. Interessante que chega alguém, que se diz conhecedor da verdade, e lança seus morteiros científicos sobre todos os valores humanos, sobre tudo que acreditamos e nos orgulhamos; a religião, a cultura, o conhecimento agregado, a tradição e outros mais que, na opinião dele, precisam sair do palco para dar lugar a uma nova era.

Este estardalhaço é agarrado pelos incautos que se consideram vingadores do progresso. Como loba feroz que pega suas presas e as sangra no vale, as arrasta, deixando um rastro de sangue até a colina, são marcas indeléveis.

Governos tomam posse de uma teoria, e faz dela um lema, criando animosidade de caráter nacional e internacional.

O tesouro pode ser visto ou sentido em pequena ou grande escala: no brinquedo escolhido por uma criança; no garoto ou na garota dos sonhos de alguém; na área profissional que atuamos etc. Seus efeitos podem ser micro ou macro: quando se é micro, diz respeito a tesouros que nos levam a decisões que atingem apenas a nós mesmos ou nossa família; quando se é chamado de macro-efeito, refere-se a tesouros que nos levam a tomar decisões de repercussão maior. Cada um requer uma reflexão de diferente grau.

Curiosamente a busca pelo tesouro individual revela atitudes interessantes. A permuta de valores é a mais praticada, alguém abandona a religião deixando uma vaga em sua comunidade que é preenchida por outra pessoa, e esta deixa uma vaga que é preenchida por outra, partidos abandonados por políticos e assim vai...

Egoisticamente buscamos tesouros que não nos façam sentir que estamos sentados em uma gangorra, oscilando entre altos e baixos.

Misteriosamente o tesouro agarra nosso coração e enigmaticamente nos prendemos a ele. Nosso código genético apenas nos informa que aquela pessoa, aquele objeto ou aquela ocupação nos basta para sermos felizes. É quando a chave da eternidade desnuda nosso segredo. Não tem como a gente fugir.

Olhando sob este prisma, nos convencemos que a maioria das pessoas não é feliz.

E aí vamos para os livros de contos de fadas. O personagem mais austero, mais asqueroso das estórias fabulares, que tanto repugnamos, se desperta dentro de nós: o pirata e seu tesouro. Quando não temos nosso próprio tesouro tentamos roubar o de alguém. Sonhos construídos em detrimento de outros. Marchamos em busca de nossos ideais pisoteando os menos favorecidos.

Ironicamente morremos e deixamos um sonho que demorou uma eternidade para ser construído. E o pior, tudo pode evaporar-se em questão de dias. E para os que ficam, resta apenas uma assertiva: o verdadeiro tesouro levamos conosco.

O verdadeiro tesouro somos nós; nossos valores que, como um ímã, atrairam todos os bens materiais e todas as conquistas que nos fazem ser um personagem neste mundo sem substituto. Sem nós, nossos tesouros não têm valor algum.

Disse Jesus: "onde está o vosso tesouro, ai está o vosso

coração” evangelho de são Mateus cap. 6 v. 21.