A Filosofia na Fronteira da Importância: Prejuízo e resignação.

Quantas vezes se olhou no fundo do abismo e o abismo olho-os novamente? Não é necessário que haja entre o homem e o infinito uma noção de permanência, nem mesmo de autoconhecimento; mentes que olham com o auxílio da corporeidade e da poesia transmutada no que chamamos em Filosofia de “pensamento imaginativo”. O assunto a se tratar aqui é justamente como a força da natureza nos faz inventar conceitos, tais como o belo, o sublime e a inexorável vontade de adentrar certos abismos com lunetas, ou materiais de escavação. O limite entre o homem e aquilo que conhecemos como grandiosidade chegou a nos apertar o peito e a imaginação mais ou menos em 1958, ano de fundação da National Aeronautics and Space Administration - NASA. Era o início da guerra fria, postulada no fim da segunda grande Guerra Mundial.

Os Estados Unidos da América iniciava junto com a extinta União Soviética os primórdios daquilo que seria posto na História humana. Não me refiro ao conflito geopolítico e aos rumores de guerra nuclear. O que possibilitou o desenvolvimento de toda uma cultura do Cosmos e, sobretudo, de um avanço tecnológico não foram os rumores de mísseis e granadas, mas escondido na superfície mais branda do homem, a vontade e a vaidade de sempre ser o primeiro, ou, a grosso modo, de encarar o medo e a dúvida de que, ainda nos anos sessenta, iríamos explorar o Universo.

em 12 de Abril de 1961, Iuri Gagarin foi o primeiro homem a sair da estratosfera e chegar ao espaço, feito esse que deu lugar no primeiro assento a União Soviética na corrida espacial. Nesta façanha anunciada ao mundo inteiro, desdobrou-se importantíssima reação Norte-americana. O então presidente dos EUA John F. Kennedy fez um discurso memorável no campus da Universidade Rice em 12 de setembro de 1962, em que a frase que chocou o mundo, inclusive os Norte-americanos, foi dita: “Nós decidimos ir a Lua”.

Esses desdobramentos a História nos conta em livros e nas memórias orais: O que foi o anúncio do desenvolvimento tecnológico-militar e civil em escala regional, e posteriormente mundial.

Mas o que isso tem a ver com Filosofia?

Dado início ao que seriam anos de pesquisas, desenvolvimento de tecnologias fundamentais à exploração do universo, os norte-americanos tem uma dívida com a filosofia, dívida essa que tem de ser paga com muito prestígio e aclamação. Não é a toa que a NASA vem fazendo testes com inteligência artificial para que os seus astronautas não sintam necessidades básicas psicológicas no espaço. Alguns testes incluem escavação psicológica de seus aspirantes a astronautas; seus medos, sua moral, seus sensos de autocontrole e resignação. A NASA hoje trabalha na missão Marte, e explorar o grande planeta vermelho não será fácil e nem barato. Sem falar das dificuldades econômicas e a barreira limitante que a política atual nos EUA endossa à Agência, vemos que o limite mais crucial a estas missões e a continuidade da exploração do Cosmos é justamente o senso de avanço e progresso que encontramos nos

cidadãos norte-americanos, que, em grande maioria rejeitam os gastos da agência comparando-a a inutilidade.

O que seria um erro não levar em consideração os problemas reais nas economias mundiais, e na logística de aperfeiçoamento do próprio Capitalismo. Mas deixemos para lá este ponto, e vamos nos concentrar em quão doloroso é para a Ciência ser resignada a inutilidade, dado o fato de que temos engenharia espacial que nos permitiria fazer descobertas cruciais tanto para a Biologia, quanto para a Astrofísica. O fato é, como seria importante para a humanidade entender como a vida se originou e como desenvolveu-se. Conseguimos isso por exemplo, explorando asteroides como o Bennu, que além de ter uma possível colisão com a terra a menos de 150 anos, ainda pode nos dar raríssimas informações acerca dos primórdios da vida orgânica. “O Bennu contém uma massa rochosa de cerca de 500 metros de largura, orbita o sol praticamente à mesma distância da Terra, e pode ser rico em moléculas orgânicas baseadas em carbono que datam dos primeiros dias do sistema solar. A água, outro componente vital para a evolução da vida, também pode estar presente nos minerais do asteroide”(AEROFLAP).

Imaginemos um mundo onde haveria comprovações reais de algumas das grandes perguntas desenvolvidas pelo homem se utilizando da capacidade de filosofar, como por exemplo: “De onde viemos?” De onde viemos, então? É, a ciência está muito próxima de descobrir, e já formula algumas certezas brandas, como a possibilidade real de que alguns asteroides e planetas na escala de habitação possam nos dar essas respostas. O limite aí deriva do grau de importância que damos a estas perguntas, tão caras aos filósofos. Foi na Filosofia que demos origem a busca pela verdade, pela ciência, por Deus… E é a própria Filosofia, que vemos em desuso e agraciada muitas vezes no âmbito inocente e imprevisível do senso comum.

Como registrar margens plausíveis e fáceis na capacidade limitada do senso comum norte-americano em negar os gastos com a NASA, ou no Brasil, por exemplo, ao negar a Ciência em detrimento dos símbolos mais superficiais? Não neguemos, obstante, os desafios terráqueos e substanciais como já ditos. A humanidade se aconchegou nas costelas dos sistemas econômicos, e na fácil digestão dos sonhos. Vemos a exploração espacial ainda como um sonho, o que seria desastroso para a contemporaneidade se neste ideário não houvesse a capacidade maiêutica de filosofar. O que nos deu a Filosofia? Dúvidas!, digo.

Se negam a Ciência, negam a Filosofia, e se negam a filosofia, negam o “Talvez”. Somente no talvez saímos do panteísmo do sim e do não: pecado da linguagem.

Nessa diapasão relacionada à Ciência, o papel da Filosofia quanto timbre desprendido da organicidade dos métodos se faz na prática da práxis, o intervalo entre a negação da teoria da Evolução, por exemplo, e a caça às bruxas.

Quando disse anteriormente que a NASA deve a Filosofia, disse porque ela foi esquecida no imaginário popular, na construção do futuro, na realização do presente, e na possibilidade verídica e autêntica de fazer parte do programa espacial de uma forma executora de conteúdo e importância usual. Não falar de Filosofia é aprender a negar a sua necessidade futura, e pelo que vimos, a NASA e a Ciência em geral, sobretudo no Brasil, necessitam hoje da capacidade tanto do senso comum quanto de sua própria classe burguesa de falar, ler, aprender e ressaltar a prática constante e inerente do Filosofar.

No Brasil, por exemplo, as disciplinas de Filosofia e Sociologia só passaram a se tornar obrigatória novamente em 2008, após quarenta anos. O déficit de falta de conhecimento dessas disciplinas levaram toda uma geração a não praticar e estudar pontos importantes da vida em sociedade, como a Moral, no caso da Filosofia, e a democracia, no caso da Sociologia. Como entender temas tão profundos sem a prática e o estudo dos próprios? Vivemos hoje num país repleto de corrupção e estagnado em avanços tecnológicos e sociais, e isto me vem à mente como um roteiro construído a mais de quarenta anos.

E se o pouco da importância destas áreas do saber incomoda quem lê, as notícias só pioram, pois na nova Base Nacional Comum Curricular - BNCC, lei n° 13.415/2017 estabilizou as áreas do estudo no Ensino Médio em apenas componentes curriculares, o que torna tanto as ciências naturais quanto as humanas em disciplinas optativas, levando em consideração a diminuição do aspecto formal e totalizante.

Neste ponto, o Brasil retrocedeu quanto a importância especificamente da Filosofia para os jovens, a diminuição do espaço das ciências naturais entre os jovens tanto agraciados com a potencialidade filosófica dos possíveis colegas, quanto o seu próprio desenvolvimento crítico e moral dos que, digamos, seriam nossos cientistas.

A crítica que faço a National Aeronautics and Space Administration - NASA, é de certa forma mais branda, levando em consideração a cultura de seu país, cheia de potência relacionada ao patriotismo, e ao melhor uso das ciências em relação comparativa com a importância que damos no Brasil.

Neste sentido, não se trata de elogiar a cultura e a importância que os norte-americanos dão as ciências melhor que nós, pois, há uma implicação gigantesca em diferenciação a nós, que posso chamar de exploração mercantilista, globalista e um lapso na história do desenvolvimento econômico dos dois países, Brasil e EUA.

Mas a NASA não escapa da crítica ao uso da Filosofia, como já citei a cima.

Levando em consideração a brevidade deste artigo de opinião, me considero apto e livre a discutir acerca dos pontos brevemente citados e organizados neste artigo. Lembrando a frase do astronauta Neil Armstrong ao pisar pela primeira vez em solo lunar: “É um pequeno passo para o Homem, um grande salto para a humanidade”. Sinto informar, Neil, mas enquanto não aprendermos a lidar com a humanidade salutante e truncada, não daremos mais saltos, tendo em vista o que o filósofo Protágoras erroneamente nos disse: “...O homem é a medida de todas as coisas”. Não, o homem ainda não sabe medir. Tampouco sabe distinguir entre o salto e a estagnação.

Se não há espaço para as frases ditas, o presente reserva um lugar aos corajosos e aos filósofos, tanto da Ciência física quanto os das ciências especulativas. Se não Protágoras ou Armstrong, talvez sim Drummond, no trecho do poema Sentimento do Mundo: "Ó vida futura! Nós te criaremos!"

REFERÊNCIAS:

Rodapé 1: O globo, o que é a evolução de Darwin?

Rodapé 2: InfoEscola, Caça às Bruxas.

Por Fernanda Paixão Pissurno

Mestra em História (UFRJ, 2018)

Graduada em História (UFRJ, 2016).

3.___AeroFlap.com.br/Meteoro Bennu.

4.___Niel Armstrong, primeira frase dita na Lua. Fonte da busc: “Correio Braziliense”.

5. ___ Protágoras de Abdera, trecho.

“Relato do leitor” em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2019.

6.___ Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo, trecho 1940.

Kaio M Cardoso
Enviado por Kaio M Cardoso em 23/12/2019
Código do texto: T6825467
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