VELOZES E FURIOSOS
Gosto muito de ler jornais e assistir aos noticiários da televisão. Envolvo-me com as notícias, que despertam em mim vários sentimentos. Algumas me comovem e emocionam ao ponto de me fazerem chorar. Outras despertam minha ira, indignação; desejo de poder modificar o curso de determinadas situações; especialmente quando envolvem injustiças.
Ultimamente, de tanto ver notícias relatando acidentes de trânsito, cheguei a uma triste conclusão: a vida de um ser humano vale muito pouco. E mais: o trânsito é a forma mais rápida e fácil para se tirar a vida de alguém e permanecer impune. Isto porque a legislação de trânsito vigente no País, não prevê punição para homicídio doloso – quando existe a intenção de matar.
Os noticiários estão repletos de casos de impunidade envolvendo acidentes de trânsito. Um exemplo a ser citado é o do cantor Alexandre Pires. Ele atropelou e matou um motociclista em Uberlândia (MG) e fugiu do local sem prestar socorro à vítima. Apesar de a Polícia Técnica provar a culpa dele, Alexandre Pires, que dirigia em alta velocidade, foi indiciado por homicídio culposo ao volante cuja pena prevista é a detenção, de dois a quatro anos, pelo artigo 302. Ele, porém, fez um acordo com a família da vítima e nunca foi a julgamento. Quer dizer, um punhado de dinheiro resolve tudo. Inclusive o valor de uma vida humana.
Edmundo, jogador do Palmeiras, também se envolveu num acidente de trânsito em 1995, no Rio de Janeiro, que resultou na morte de três pessoas. Apesar de ter sido flagrado pelos peritos dirigindo embriagado, a única punição que foi imposta a ele, foi a perda da Carteira de Habilitação.
O cantor sertanejo Renner, da dupla Rick e Renner também figura no ranking dos Velozes e Furiosos. Ele atropelou e matou o engenheiro químico Luís Antônio Nunes em agosto de 2001, quando dirigia sua BMW na rodovia Luiz de Queiroz, que liga Santa Bárbara d'Oeste a Piracicaba, no interior de São Paulo. O acidente também tirou a vida de Eveline Soares Rossi, que estava na carona da motocicleta pilotada pelo engenheiro.
De acordo com o inquérito policial, o cantor dirigia em alta velocidade na rodovia quando perdeu o controle, atravessou a pista e atingiu a motocicleta, que se partiu ao meio, deixando os corpos completamente mutilados, enquanto o cantor sofreu apenas ferimentos leves. A Justiça condenou Renner. Ele terá que prestar serviços comunitários pelas duas vidas que ajudou a abreviar. Só que o cantor pode recorrer da sentença. Está na lei e é direito dele.
Estes casos se destacam nos noticiários porque envolvem pessoas famosas, de sucesso e que ganham muito dinheiro. Mas, dia após dia, muitos outros brasileiros anônimos são assassinados no trânsito sem que seus nomes sequer, figurem nas estatísticas, enquanto os assassinos permanecem livres, leves e soltos, sem receber a merecida punição.
O pior de tudo é saber que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) acaba de completar 10 anos. Caduco, já está precisando de uma profunda revisão, que o torne mais rigoroso e confiável, porque é muito duro ter que conviver com a idéia de que “as leis existem no Brasil para serem descumpridas”.