ARTIGO – Pra onde estamos indo!? – 07.12.2019 (PRL)
ARTIGO – Pra onde estamos indo!? – 07.12.2019 (PRL)
Num telejornal de ontem à noite, por volta das 19.00 horas, pude ver um comentário duma economista especializada, a propósito desse aumento assustador nos preços da carne, que inclusive chegou a cogitar de que essa elevação, segundo os pecuaristas, veio pra ficar.
Claro que tal notícia muito me entristecera, mas neste país é sempre assim, pois não se aprende o caminho de volta, cada vez mais se acostumam a explorar o pobre cidadão nacional, que é um dos responsáveis pelas oscilações de preços no mercado.
No meu tempo de criança comia-se carne como uma espécie de complemento, ou seja, um reforço para facilitar a ingestão dos demais alimentos, e não para encher a barriga, era apenas um faz de contas. Ora se os preços estão subindo demais a tendência seria a queda na procura e, os preços tenderem a cair, não necessariamente. Mas aqui na terra do Cabral o sujeito vai ao mercado e compra logo uma quantidade superior às necessidades, alegando, muitas vezes que é para prevenir um novo aumento de preços...e quando a procura cresce...nem é preciso dizer!
Disse a notável comentarista, e repetiu várias vezes, entre outros, que a seca de 2014/15, obrigou os pecuaristas a gastar elevadas somas com a aquisição de ração suplementar para engordar os bois, elevando os custos, com reflexos altamente negativos na atividade, levando a que fossem abatidas as fêmeas reprodutoras, procedimento condenável, principalmente se levarmos em conta que ocorreu em administrações tidas como democráticas, eleitas pelo povo; e sem vacas no pasto a quantidade de bezerros decresceu, e os preços foram às nuvens, inclusive pela vigorosa entrada da China na compra desse nosso produto, pagando na atrativa moeda verde, o dólar.
Para mim, salvante melhor juízo, essa ocorrência é parecida com a expressiva queima dos nossos estoque de café, determinada por Getúlio Vargas, depois da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, a fim de, contendo a oferta, forçar a elevação dos preços de exportação – o Brasil era o maior produtor mundial dessa comodities --, calculando-se em cerca de quarenta milhões de sacas incineradas até 1945. Apenas a considerar que na época da queima dos estoques os pés de café ficaram vivos, produzindo, e, no abate das vacas matou-se o produto na origem.
As notícias dão conta de que o Brasil, que havia lucrado US$ 445 milhões, em 1929, viu essas cifras baixar para US$ 180 milhões no ano seguinte, afetando as economias dos estados produtores, tais como São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Paraná. A crise foi imensa, porquanto os cafeicultores ficaram em situação difícil, com débitos externos nessa moeda forte. O café destruído daria para abastecer o mundo pelo período de três anos.
As explorações pecuárias cresceram muito, práticas modernas de manejo foram introduzidas, de sorte que a produtividade aumentou consideravelmente. Hoje em dia, em 24 meses pode o bezerro virar um boi de cerca de 20 arrobas (300 kg), ao passo que antigamente demorava três anos para atingir o ponto de abate. A regra posta em ação é mais produtividade em menos tempo e com mais qualidade de carne. Na linguagem dos produtores, pelo que sabemos, um boi nessas condições teria, na realidade, 150 kg de carne c/osso e 150 kg de couro, sebo, sangue e a soma de todos os outros miúdos.
Em alguns estados da federação, especialmente do Norte, chegam a dizer que o gado cria o homem, não o inverso, porquanto a pastagem é tão próspera que chega a cobrir o lombo dos animais, não exigindo assim tanto gasto com ração suplementar (farelo, torta, etc.), embora no Maranhão, por exemplo haja produção abundante de torta de babaçu (muitas vezes exportada para Alemanha, que ainda extrai 10% de óleo), casca e farelo de arroz, pois não há falar em seca nessas áreas.
Na engorda confinada os custos devem ser muito mais elevados do que no pasto, no campo, ao deus dará, mas quanto mais tempo de duração dessa atividade mais gastos e diminuição dos lucros. Talvez um melhor direcionamento das pastagens, no futuro, pudesse trazer economia nessa área tão importante para o nosso país.
Meu abraço.
08/12/2019 22:11 - Antônio Souza fez os seguintes comentários:
Fantástico! - Um artigo deveras consciente e bem estruturado numa coerência exemplar, realmente é fato e não há contestações, todavia é lamentável que tenhamos que ser penalizados pela prática devoradora do capitalismo... A globalização realmente deixou um grande vácuo entre o consumidor interno e os interesses dos empresários, seja de qualquer natureza... boi, sabão, trigo... Não importa, as divisas sempre estarão à frente de qualquer interesse. Portanto, é mister aprender a conviver com essas anomalias econômicas, quem é rico vai continuar sendo... os menos favorecidos, esses amigo... tá complicado... urge surgir uma nova direção, com novos conceitos de sobrevivência, pelo menos... penso que a cultura de consumo deve ser melhor aplicada, vez que, quem realmente manda no mercado é o consumidor... no caso vertente, boicotar o consumo de carne seria uma ótima reação, mas é sempre complicado... Parabéns mestre pelo excelente trabalho, uma obra gigante, riquíssima no conhecimento da causa. Aplausos e meu abraço.