INCLUSÃO: O ENCONTRO EM OUTRA DIMENSÃO.

“Somos todos anjos de uma asa só e apenas podemos voar se estivermos abraçados uns aos outros.”

Fernando Pessoa

Inclusão, integração tornaram-se temas da moda, e muitos diálogos e discursos, e, muitas vezes pouca ação.

Por quê? Perguntas a mim. Porque inclusão se faz na ação. Inclusão é o encontro em outra dimensão... é a celebração da diversidade da vida sem limites ou barreiras como se faz em um encontro e diálogo do eu (mais dentro), do mim, do tu, do nós, do todo da vida!

Inclusão é um encontro encanto e de canto cantado...”viver e não ter a vergonha de ser feliz...cantar e cantar e ter a certeza de ser um eterno aprendiz...”eis aí a música de Gonzaguinha, eis aí música que cantou-cantamos eu e meu amigo João. E mais muitos amigos cantaram porque outras dimensões alcançaram... Outra dimensão sem barreiras, sem fronteiras...a dimensão do terceiro incluído da lógica quântica, da dialógica cântica!

Eu, com minha deficiência física e eficiência de alma não tenho vergonha de ser feliz. E, tenho a certeza que sou uma eterna aprendiz, autora. Autora de mim mesma, de meus caminhos e sonhos. Vivo o eterno agora proclamando minha liberdade de ser, estar e viver...com prazer!

“...cada um de nós compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz... diz Almir Satter em sua belíssima música... inclusão é encontrar o dom de ser capaz. Capaz de lidar com o outro diferente em mim, diferente de mim.. É ser capaz de compor minha própria história com minhas dores e glórias.

Inclusão é incluir o novo em ação, em emoção, no coração! É entender que todos somos partes que compõem este imenso universo. Todos somos composição cósmica. Todos somos poeira de estrela e compomos um ao outro e ao cosmos em igualdade, em diversidade, em trocas constante de átomos e moléculas que estão aqui e acolá num ir e vir sem parar.

Não existe um cair de folhas que não nos afete bem como, não existe uma ação que seja inócua. O universo cósmico é uma imensa rede de conexões no qual somos integrantes e insubstituíveis. Somos parte todo, mas o todo que compomos é maior que a soma das partes e, só o é porque nele fazemos a diferença: o compomos, nele estamos, ele somos.

Se, sorrio o mundo todo vibrará com meu sorriso, se tu sorrires a vibração do teu ser afetará a vibração de todo o universo. O cosmos não será mais o mesmo com o meu-teu sorriso, com a minha-tua lágrima, fazemos a diferença, somos a diferença porque somos-estamos diferentes nele a todo instante. Somos eternos mutantes, pois a mudança é uma razão constante.

Isto não é só poesia apesar do mundo ser poético e cantador como são nossos sonhos e os sonhos que brincam em nós. Podemos buscar apoio na física quântica (Zohar, 1990) que nos afirmará estes fatos, atos. Oras onda, oras partícula...será o que fizermos ser... Seremos o que nos fizemos Ser, porque fazemos a diferença.

O alargamento da compreensão do real, como renascimento do espírito e de uma nova consciência, consiste no desafiante exercício em que concorrem pensamento, ação, experiência, emoção, valores, compreensão dos níveis de realidade. E, compreender estas novas dimensões de realidades é transcender o olhar para além do que se olha. Precisamos olhar o outro, do olhar do outro... para recriarmos a compreensão desta nova dimensão, de nossa individualidade, identidade, singularidade, humanidade...Pelos caminhos do amor...

Inclusão: o verdadeiro encontro da ciência

Inclusão é o verdadeiro encontro entre sensibilidade e Ciência. A Ciência da consciência. Uma ciência de transcendência na qual nasce e floresce, ascende transcende o ser para além do Ser. Inclusão se conjuga como verbo incluir, ir para dentro, encontrá-lo(a) dentro de mim. Incluir é um verbo, encontro, união, cooperação e construção. Uma construção interior que reflete no exterior... ilumina. Conjugar o verbo incluir surge como uma necessidade para atuarmos criticamente sobre os novos saberes que viemos construindo através dos tempos. Pensarmos sobre os valores que mantêm estes novos saberes e modos de praticá-los, transportando nossos olhares em diversas perspectivas que visem o respeito e a nossa integridade humana.

Assim se constrói uma ponte maravilhosamente bem feita para outra dimensão, para outras dimensões. É uma ponte de transcendência e Supremacia. Uma ponte de autoria: Uma ponte do ser do Ser!

Ouvi em um provérbio que não me recordo a autoria “amamos no outro aquilo que há de melhor em nós.” Talvez, na lógica binária possamos também dizer “odiamos no outro aquilo que há de pior em nós”. Refletindo sob a ótica psicanalítica: aquilo que no outro vejo em mim está. E se sou parte, sou o ser do outro em mim. Posso ser quem sou e refletir meu amor no outro ou posso ser o que não desejo ser e ser o outro que está em mim... me faço ser ele, abomino ele porque nele estou...

Quando amo, domino. Quando odeio, abomino. Quando amo, incluo, quando odeio, excluo. Mas não excluo o outro de mim, excluo o outro em mim... e me fragmento, e me atormento. Sou aquilo que me faço ser... as barreiras construídas entre mim e o outro, do outro em mim, são construídas pelo preconceito, pelo medo. Medo de lidar com minha maneira limitada com os “meus sujeitos limitados”. Expulso de mim, excluo-o de mim, excluo o “outro” em mim.

“Estamos enraizados em nosso universo e em nossa vida, mas nos desenvolvemos para além disso. É nesse além que se dá o desenvolvimento da humanidade e da desumanidade da humanidade”. (MORIN, 2002, p.50).

Inclusão é a possibilidade de entendermos o ser humano em sua diversidade, complexidade e singularidade na qual os saberes do Ser quem sou e do Ser que sou, se faz tão necessário. Afinal, o todo é muito mais que a soma das partes, e somos um todo complexo. Sou o ser de ti em mim e o ser de mim em ti, somos o todo.

Incluir é compreender nossa formação humana como seres amorosos desde nossa criação como espécie que se fez através da cooperação e amorosidade, de ser sistêmico em que todos os sistemas fazem trocas entre si para garantir sua sobrevivência. Através de novos pensamentos inclusivos na diversidade e interativos do Sujeito sistêmico (MORAES, 2003), vamos entender as leis do universo e descobrirmos uma nova compreensão dos muitos aspectos de nossa vida. Destarte, encontraremos novos referenciais que ressaltam a condição de inter-relação e interdependência essencial entre os fenômenos, principalmente, entre a vida humana, entre nossa compreensão, cooperação e complexidade complementar, integrante da vida planetária.

O movimento de inclusão é um movimento de aceitação, de coração. É um movimento de cons-ciência, de ciência de mim que reflete minhas verdades internas. É um movimento de reflexão, do meu reflexo que se faz ação dentro do meu ser. E, novamente volto a ser um Ser: complexo, completo, complementar... com-ple(no)entrar, com ple(no)-amar!

Inclusão VERDADEIRA é incluir um outro mundo em nosso próprio mundo e juntos mostrarmos e acreditarmos no todo que somos: muito mais e além que a soma das partes. Somos filhos do cosmos e o cosmos em união. Somos o todo em comunhão.

Eh que belezura de vida! Este viver e com-partilhar, partilhar com o outro. É o que Beauclair (2007) escreve neste trecho lindo que recortei. Vamos dizer que viver é construir, é incluir “resgatando o prazer de estarmos juntos com os outros e, assim, sermos surpreendidos com um outro gesto, com uma nova forma de olhar, sentir, ser, estar.”

Incluir é...

CELEBRAR a expressão máxima do amor,

é dançar a eterna dança da vida na e pela expressão máxima de ser quem sou: uno múltiplo, singular e fruto de um eterno amar.

Amar que se faz do grandioso prazer de viver.

Viver o máximo de meu Ser!

Incluir é ter a certeza que os limites estão em nossa tola razão. Porque quando há Amor no coração não há limites!

’’Enquanto a pessoa com deficiência for vista como um problema para a sociedade, não teremos uma inclusão verdadeira’’. Mas, a verdade é, quem exclui fecha portas de seu próprio mundo para um crescimento maior. Possui limites e barreiras...torna-se deficiente...eis a verdadeira deficiência!

Enquanto existir o olhar e ação de exclusão, as pessoas não vencerão suas muletas mentais, seus apoios em não aceitar o ‘’diferente’’, aquilo que não tem coragem de superar em si mesmos.

A aceitação requer coragem. Coragem para romper paradigmas, barreiras internas limitadoras, é abrir-se espaço para possibilidades de crescimento...Verdadeiro!

‘’O que é essencial é invisível aos olhos...(Exupéry)

Inclusão inicia-se no coração. Em gestos de amor e solidariedade no qual percebamos-nos todos como filhos do cosmos e fios da teia da vida.

Excluir é fechar as portas para possibilidades para potencialidades. É desperdiçar jóias de crescimento e deixarmos de vencer nossas próprias barreiras internas, é cercarmos-nos na mediocridade da não aceitação do outro, do outro nós mesmos.

“O indivíduo humano permanece estranhamente calado diante da compreensão da complexidade. E com razão, pois fora declarado morto. Entre as duas extremidades do bastão-simplicidade e complexidade enfim, falta o terceiro incluído: o próprio indivíduo.” (Nicolescu, 1999, p.46)

Incluir é crescer, é outorgar-se o direito da autoria, é tomar as rédeas da vida e guiar-se por aspirações e valores verdadeiros. É abrir as janelas da alma e as portas para os jardins da Vida. É caminhar pelo mundo sem cansar-se nenhum segundo porque tem muitos caminhos e escolhas dentro de si. É isto mesmo: inclusão é autoria de pensamento porque é a escolha livre que voa por mundos e mundos distantes e me faz ser o Ser que sou: escolha de mim mesmo.

Saibamos que, enquanto limitações de dimensão física (cor, etnia, etc.) forem mais importantes que valores humanos universais como sabedoria, cooperação, amorosidade, conhecimento, paz, etc., não estaremos projetando, educando/ensinando a humanidade para a humanidade (Morin, 2002) e sim para a barbárie.

Como diz Léo Buscaglia “Vamos construir pontes antes que as fendas sejam tão profundas que jamais consigamos transpô-las’’, antes que a humanidade destrua-se... Vamos construir pontes de amor, aceitação, solidariedade, compaixão...vamos construir pontes para uma vida mais rica de sabedoria interior em que não tentemos concertar esta dimensão física do homem antes de tentar enxergar e concertar sua dimensão espiritual, transcendente...Estas são as limitações, as deficiências que ainda não vencemos, porque não conseguimos vê-las, porque não admitimos tê-las! Com um olhar e atitude de inclusão, surge a possibilidade de uma integração harmoniosa criando-se diferentes níveis de compreensão (Nicolescu, 1999) possibilitando a evolução do homem moderno pelo autoconhecimento. Permite-se com isto, a transcendência tanto interior quanto exterior para o alcance da liberdade ilimitada de forma consciente, amável e tolerante.

Tempo de reencontro e reestruturação: tempo de inclusão

O ser humano, desde o seu código genético, tem como característica a singularidade. Seguidamente nosso convívio social, cultural, nossas experiências e interações, nos fazem, nos outorgam, ainda mais estas diferenças, nos tornado únicos, irrepetíveis. O mundo passa por severas mudanças, quebras de paradigmas. Chegamos ao tempo de reestruturação e reconstrução de novos mundos. Mundos internos que foram esquecidos e fragmentados. Mundos externos que foram olhados aos pedaços passam por uma mudança radical: é tempo de reencontro de reestruturação. É tempo de olhar a diversidade como complementar, como integrante e característica ímpar de nossa identidade. Nada é igual. O ser homogêneo já não é mais integrante deste olhar que se fazia ao ser humano. Hoje, pensar em homogeneidade é tornar excluído, é pensar o “ser” não como humano, mas como máquina que repete e aciona os programas nela depositados.

No diálogo com o outro, conosco, com o complexo, aprendemos a aprender, aprenderemos a conviver, aprenderemos a ser.. Pensamos o conhecido e conhecemos o que pensamos. Desbravamos novos mundos (mundos internos desconhecidos). Inscrevemos nossa singularidade no mundo, escrevemos nossa marca na história, redescobrimo-nos como poeira e fragmento cósmico. Mas, únicos, unidos, complementares, filhos do cosmos, fios da teia da vida.

Ninguém aprende aquilo que não apreende, aquilo que não acolhe. Apreende-se aquilo que colhe e traz para si. Eu aprendo aquilo que apreendi em mim, aquilo que colhi, signifiquei e em mim, acolhi (Alves, 2006).

Também, podemos dizer isto do conhecimento, do aprender, do incluir. Para aprender, apreender, incluir, precisa-se colher e acolher. Mas, para o acolhimento precisa-se confiança... con-fiar. E, para confiar , para incluir, é preciso acolher. Quem acolhe, aceita, quem confia no que o outro pode dar, com o outro fia (Alves, 2006). Então, pode-se solidarizar e juntos tecer caminhos para o crescimento mutuo. Assim, encontramo-nos integrantes da humanidade e irmandade cósmica. Tornamo-nos dignos de pertencer a condição Humana.

É preciso despir-se dos medos dos espinhos, colher e acolher as rosas... eu escolho colher as rosas que há em mim, as rosas que vem de ti...

‘’Não foi dada atenção, não foi visto...

O não visto não havia emergido,

não era possível ver...

Quando veio à luz, foi possível ver...

(autor desconhecido)

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALVES, Maria Dolores Fortes. De Professor a Educador. Contribuições da psicopedagogia:ressignificar os valores e despertar a autoria. Rio de Janeiro: W.A.K. 2006.

BEAUCLAIR, João. Incluir, um verbo/ação necessário à Inclusão; pressupostos psicopedagógicos. São Paulo: Pulso Editorial, 2007.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A canção da sete cores: Educando para a paz. São Paulo: Contexto, 2005.

CAPRA, Frijof. A teia da vida: Uma compreensão científica dos sistemas vivos. ed São Paulo: editora primeira edição 1999.

D`AMBROSIO; Ubiratan. A era da consciência. São Paulo: Peirópolis, 1997.

MORAES, Maria Cândida. Educar na Biologia do Amor e da Solidariedade São Paulo: Vozes,2003.

MORIN, Edgard. O método V: A humanidade da humanidade: A identidade e humanas. Porto Alegre: Sulina, 2002.

NICOLESCU, Bassared. O Manifesto da Transdisciplinaridade. São Paulo: Triom, 1999.

ZOHAR, Danah. O Ser Quântico. Editora Best Seller, 1990

OBS. artigo publicado na revista DIRECIONAL ESCOLA de julho de 2007.

Professora, Pedagoga, Psicopedagoga. Escritora, Palestrante, Conferencista, Doutoranda em Educação pela PUC/SP; Mestre em Educação: Currículo pela PUC/SP; Mestre em Psicopedagogia; Pós Graduação em Distúrbios da Aprendizagem pela Universidade de Buenos Aires; Especialista em Educação em Valores Humanos pela Fundação Peirópolis; Pesquisadora de Educação em Valores Humanos, Inter e Transdisciplinaridade pela PUC/SP e Fundação Peirópolis; autora do livro “De Professor a Educador: Contribuições da psicopedagogia: ressignificar valores e despertar autoria.” e “O Vôo da águia: uma autobiografia” todos pela WAK. mdfortes@hotmail.com

Site pessoal: www.edupsicotrans.net.