Verdades e inverdades sobre as políticas do livro.


Na semana passada, fui surpreendida pela fala do Presidente Lula que afirmava ter com suas políticas de incentivo aumentado o lucro das editoras, se queixava de não ter obtido resultados satisfatórios para a baixa de preços dos livros, mesmo tendo reduzido os impostos sobre a venda destes. Não posso responder por todo o setor, mas posso falar sobre o impacto das políticas recém-estabelecidas na gestão dos negócios das editoras pequenas.

 

Muitos têm dito que o livro é caro, minha pergunta é, se comparado a que? Se comparado à renda do povo, de fato, é caro, não só o livro, mas o teatro, o cinema e quase todas as manifestações culturais. Para dizer a verdade, acho o transporte, a moradia e a alimentação, caros também. O brasileiro ganha pouco.


Muitas políticas que aparecem na mídia como incentivadoras ao desenvolvimento do mercado editorial, na verdade, não surtem o efeito esperado. Vou citar apenas algumas.

O BNDES criou linhas de incentivo de financiamento a juros baixos para as editoras, esse, não beneficia às pequenas. O financiamento é para maquinário, a maioria das pequenas editoras imprime seus livros em gráficas, sendo assim, o financiamento na cadeia produtiva do livro só pode ser para a aquisição de papel. O papel, no meu caso, representou menos de 15% dos custos de publicação, os outros custos como capistas, revisores, ilustradores, enfim, ligados à mão de obra, sobem anualmente à média de 5%. O custo de impressão, anualmente, sobe mais que esse percentual. Depois do livro produzido, temos os custos de distribuição, para as editoras pequenas que brigam por espaço nos grandes distribuidores, estes custos são arcados, diminuindo consideravelmente a margem de lucro, pois não há política de preço diferencial nos serviços que os correios prestam transportando livros.


A política tributária diferenciada também não chega aos pequenos, pois como optamos pelo SIMPLES, o produto que vendemos não é tributado como a redução prevê. Aliás, com as mudanças neste ano, na aplicação do Simples Nacional, nossa tributação aumentou.


Se me perguntassem o que funcionaria ou já funcionou, com algumas análises, eu teria respostas. O PAC para a literatura, do Governo do Estado de São Paulo, funciona bem, este ano a verba é de R$ 15.000 para lançar livros novos, 20% da tiragem dada gratuitamente às bibliotecas e às escolas, as inscrições vão até o fim do mês. Outro ponto, como não conseguimos colocar nossos produtos nas vitrines, por vezes, nem nas prateleiras das livrarias, ações como a Rua do Livro ao lado do Museu da Língua Portuguesa, e o Corredor Literário na Paulista, podem vir a ser num futuro breve, bons pontos de venda, se bem divulgados, se receberem espaço na mídia e o respaldo da opinião pública. Estive na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, no último mês, dezenas de crianças vieram conversar comigo, faziam perguntas que eu nem imaginava, pudessem ser do contexto de interpretação que elas têm sobre os autores, algumas achavam estranho o fato de eu ser escritora e estar viva. Um programa de seleção de obras de autores da atualidade, que levassem primeiramente os livros destes às escolas, depois, atividades de integração destes autores com os alunos. Isso com certeza produziria um marco nesses escolares, proliferando consideravelmente o hábito da leitura e desmistificando sensivelmente a visão que eles têm da literatura, algo fora do seu contexto, obrigatório, útil apenas para provas e vestibulares.


Como diz o nosso presidente, em nenhum momento neste país, houve tanta discussão e políticas para resolvermos nossos problemas de renda e cultura, mas estamos ainda muito longe de onde deveríamos e lotados de manchetes para inglês ver.