Trinta Anos da Ruína do Muro
Há trinta anos ruía o Muro de Berlim, cognominado de Muro da Vergonha, símbolo da Guerra Fria, resquício da Segunda Guerra Mundial. Minha geração cresceu ouvindo relatos os mais variados acerca deste ícone nefasto, abominado pelos alemães que viviam na parte oriental de Berlim e execrado pela outra parte da mesma Cidade, a ocidental.
Tinha uma média de 155 km de extensão e quase quatro metros de altura. O Muro de Berlim dividiu famílias, ceifou vidas, uma vez que muitos alemães orientais tentavam ultrapassá-lo sendo alvejados pelos soldados nas torres de observação com ordem expressa para matar ‘desertores’ do regime implantado no período stalinista como espólio da disputa geopolítica travada entre americanos e soviéticos, capitalismo versus comunismo.
O soerguimento desse Muro inspirou a feitura de muitos outros, mundo afora. Recordemos o que separa os assentamentos judaicos, o Muro da Cisjordânia, construído pelo Estado de Israel para apartar israelenses e palestinos, o Muro do México, agora com maior investida no governo Trump na tentativa de embarrar imigrantes que se arriscam entrar nos EUA clandestinamente guiados por “coiotes”, gente que promove o tráfico humano na região.
O mundo é hodiernamente uma aldeia global após a chegada da internet. Os muros separam e provocam afastamento físico e promovem a divisão, quando não a morte de pessoas e culturas subjugadas a partir da lei do mais forte sobre o hipossuficiente, o mais fraco.
Nos últimos trinta anos o mundo mudou substancialmente após a queda do Muro de Berlim e o desmantelamento da União Soviética na era Gorbatchov e sob as bênçãos de João Paulo II. O bloco capitalista saiu fortalecido da Guerra Fria. Contudo, os frutos dessa pseudovitória estão saltando aos olhos ante tanta ebulição na América Latina e noutras partes do orbe, quando nem a França escapa.
Foi escassa a derrocada do Muro de Berlim para pôr abaixo uma ideologia que mantinha cativos cidadãos que não detinham o direito de opção nem de alternativa.
Hoje outros muros se erguem intensos ante as celebrações pelo trigésimo aniversário do mais imponente dos muros da história recente. Muitos são os muros que erguemos atualmente. Muro da discórdia, quando se torna impossível debater ideias e optamos pelo apoiamento incondicional de ‘mitos’ que surgem de nenhum lugar para lugar nenhum, desprovidos de projetos e carcomidos pela insensibilidade contagiosa.
A nova Ordem constrói muros e implode pontes, seja aqui ou noutras partes. Retiram-se direitos de trabalhadores e outros são negados. Países ricos agem com jeito de colonizador ante os antigos colonizados. O Grupo de Lima e a Organização dos Estados Americanos – OEA -, dão o preceituário a ser seguido sem contestações ou divagações. Aqui ou ali estoura uma rebelião tentando derrubar velhos muros, a exemplo do Chile e do Equador, além da Argentina que varreu nas urnas uma orientação política pautada no liberalismo econômico, angustiante para os pobres.
Um Muro caiu faz trinta anos. Outros têm sido levantados sem pudores. É preciso que lutemos para desfazer os muros que ainda persistem nos corações e nas mentes, apontando, portanto, para dias diferentes, tomados por novas posturas numa sociedade saudável e consciente do seu papel onde seja possível viver um mundo dentro de outros mundos, ultrapassando muros invisíveis e unindo por meio de pontes possíveis.