ESCADA QUE SOBE, DESCE
A vida é efêmera. Passa tão depressa. Tudo se esvai feito as águas do rio que tenta se agarrar às margens, levando consigo o que nelas encontra. E tudo tem a sua fase no seu tempo certo. O tempo de plantar e o tempo de colher. O nascimento, as travessuras de criança, a juventude risonha e doce, a fase adulta e a velhice. As experiências adquiridas servirão de alicerces evolutivos para a ascensão a novas experiências. Não se está na vida por acaso. Ninguém veste esta farda de carne sem um propósito, sem uma missão, sem um compromisso.
O bem deve ser o gestor dos atos, pois o tempo é curto. Essa estada na vida significa apenas uma pequena fase, um estágio, um curso de especialização na matéria em débito, e o passaporte, com certeza, chama-se AMOR.
Nesse caminho, há também o estrelato que satisfaz o ego, eleva a auto-estima, acalenta o orgulho, a vaidade, a prepotência, mas é passageiro, o que vale dizer que os mesmos degraus que elevam aos píncaros, conduzem aos calabouços. Ora pode-se dar as cartas, dar as ordens, ora recebê-las e cumpri-las humildemente.
A vaidade perniciosa tem preço muito elevado, onerando a matéria e o espírito. Cargos, status, saúde, sofrem a ação do tempo e os rigores da vida. Bens materiais são perecíveis, transitórios. Posições sociais se revezam na gangorra da vida. O descer, por vezes, parece injusto, mas é sempre regido pelas sábias leis na natureza em favor do crescimento humano. É preciso essa inversão para que se exerça a humildade, ferramenta indispensável para o recomeço, para o autoconhecimento, para a valorização da oportunidade de trilhar esse caminho, chamado vida.
Entretanto ele é mestre implacável. Justo, por excelência. De repente tudo atirado ao nada sem um motivo plausível. Por quê? Porque chegou a hora de mais uma nova lição. Chegou a hora de rever se a trilha está correta e se o objetivo está sendo alcançado.
Por isso, antes que a prova bata à porta, é bom que se entenda que a retidão de caráter, a benevolência e o amor são atributos necessários aos caminheiros dessa estrada. Nela, os degraus esgueiram-se à frente. Ora subindo, ora descendo. Escadas avaliam os passantes. Muitos sobem, muitos descem. Os que se encontram no topo, por vezes, são arrogantes, prepotentes, impiedosos, cruéis, porque se julgam poderosos, esquecendo-se de que se há o caminho para a subida, com certeza, há também um outro que traz de volta. A escada que sobe, desce também.
Outros, já na descida da escada, apoiando-se nos corre-mãos, ostentam sentimentos de revolta, de indignação, e até de conformação e piedade, lançando-se, muitas vezes, aos mais execráveis lamaçais e até ao suicídio. É uma questão de individualidade por causa das disposições mentais diferenciadas.
O espírito bem direcionado, comedido e consciente do seu papel na jornada, significa uma bússola para o bem, ajudando a melhorar o meio em que vive.
Lembro-me de um pequeno poema, de autor desconhecido, que bem estampa esse entendimento:
Dois pobres encarcerados,
das mesmas penas culpados
jaziam na mesma cela.
À claridade da lua,
chegam ambos à janela.
Um vê a luz das estrelas.
O outro a lama das ruas.
Nessa descida, muitos pedem ajuda, esquecendo-se de que para receber, geralmente, é preciso que se tenha dado. Quando se tenta aliviar a dor alheia, a nossa é aliviada por acréscimo. O que fizermos aos outros receberemos em dobro, quer seja bem, quer seja mal.
Quantos experimentam a miséria e o ostracismo, depois de haver transitado pelos corredores da fama, do sucesso, dos aplausos... A Lei de Causa e Efeito é uma verdade e o maior tesouro que se pode construir aqui, resume-se no AMOR. Amor fraternal, conjugal, transcendental...
E isso se começa pela família, alicerce seguro de todas as conquistas. É ela o batalhão sempre disposto a socorrer o soldado que tomba na trincheira.
Consciente desse papel e embasado no bem maior, sob as sábias leis da Criação, é possível exercitar o amor transcendental, que se espargirá pelo caminho, impregnando a todos e fazendo valer essa passagem pela vida.