CONSIDERAÇÕES ÓBVIAS.

00.300

Rio de Janeiro, Quarta-feira, 6 de Novembro de 2019

Neste mesmo espaço já contei a viagem que fiz, junto com familiares, à cidade de Lagarto-SE. Isso aconteceu no início da década de sessenta do século passado. Era ainda um guri, beirando meus dez anos de idade. Claro que só me lembro de lances rápido dessa viagem e da permanência naquela cidade por alguns dias no sítio de meus avos maternos.

Depois disso, já na década de oitenta, já homem feito, voltei lá por muitas vezes. E há pouco tempo atrás estive lá mais uma vez. Possuo muitos parentes ainda na cidade. Também muitos amigos. E é na casa de um deles, Avelar de João D'Isaura, onde fico alojado nesses períodos.

Alguns dos parentes se sentem deslocados com essa minha escolha, mas copiei o gesto de meu pai, que quando ia para sua cidade natal, ficava em companhia de João D'Isaura e Duil, seus amigos de longa data. Foram pessoas de extraordinária fraternidade e isso é o que contou, ao final.

Mas nesse tempo todo em que vou lá, nunca me passa despercebida uma certa circunstância que observo em algumas das pessoas com as quais convivo. É a ausência da aprendizagem da leitura. Alguns, já bastante adultos, não possuem nenhum domínio disso. Nem das letras e nem das palavras. E isso é uma situação pra lá de assustadora.

São nessas horas que percebemos o quanto de atraso o nosso país já possuiu. Os pais das décadas anteriores à metade do século passado, mas também alguns mais recentes, até proibiam que seus filhos frequentassem uma escola. Eram analfabetos, sem a mínima noção do que isso representava em suas vidas. E, claro, na vida de seus filhos, também.

Tais reflexos se podem observar até nesses dias atuais. Pessoas que possuem muitas dificuldades de sobrevivência. Principalmente no manuseio de equipamentos modernos, e até mesmo o uso de um terminal bancário. Forma um verdadeiro terror em suas vidas essa situação.

E isso se agrava em alguns quando alguém se propõe a ensiná-los a ler/escrever, bem como a manusear um smartphone e até mesmo um micro ondas. É uma dificuldade intransponível por parte deles. E não há quem reverta tal quadro, mesmo sabendo-se que uns raros ainda conseguem assimilar algum conhecimento nessa situação.

Dessa vez que estive lá, ainda vi pessoas em várias faixas etárias, não sabendo ler. Mas ainda existem várias, nos trinta e poucos anos de vida, ainda sem nenhum estudo. Mesmo que vivam na região rural da cidade, isso não chega a ser aceito, porque os interiores do país já possuem estruturas bem próximas de um grande centro. E até mesmo a televisão e a internet facilitam o aprendizado das letras e das leituras. É só a pessoa se interessar e querer aprender. E sempre aparece gente que quer ensiná-los.

E é triste observar-se tais coisas. O nosso país, infelizmente, ainda não se desenvolveu da forma esperada. Do que observo, ainda existem aqueles que querem se aproveitar da ignorância alheia. Mas isso não acontece só nos interiores do país, não. Em capitais não é difícil ver-se pessoas analfabetas. Uma pena.

Terceiro Milenio
Enviado por Terceiro Milenio em 06/11/2019
Código do texto: T6788429
Classificação de conteúdo: seguro