O Conservador de Pondé e Uma Abordagem Hegeliana
“Conservador não é gente que quer que pobre se ferre, é gente que acha que pobre só para de se ferrar quando vive em uma sociedade de mercado que gera emprego. Não existe partido liberal-conservativo no Brasil, só fanáticos e corruptos de esquerda e direita.”
Esta mensagem é atribuída ao filósofo e escritor brasileiro Luiz Felipe Pondé e, de fato, ela está postada no seu twitter em 19 de outubro de 2019.
Eu tenho profundo respeito por pessoas que exercitam o pensamento independente, como é o caso, até mesmo independentemente da sua tendência política e ideológica, como também é o caso. É bom quando algo que lemos de um intelectual nos provoca a refletir e também a exercer o livre pensar. Pois de tudo podem nos privar, das ideias é que não, já disse o nosso maior escritor e fundador da Academia, Machado de Assis.
Por isso eu venho, com respeito, discordar de nuances do seu conceito. Não se pretende aqui contraditar e nem comentar em cima do seu “post”, antes externar de modo igualmente independente o resultado de uma reflexão provocada por interessante leitura. E que bom que assim seja.
Um conceito, para mostrar o seu vigor, exige estar apoiado em uma lógica firme. Neste caso, reduzir o conservador a uma pessoa que entende que a sociedade de mercado existe para que o pobre deixe de se ferrar é limitar um tanto o uso da nossa inteligência. Fez-me pensar sobre o conservador, este personagem existente tão próximo de cada um de nós.
A sociedade de mercado existe para manter o beneficiado conservador na sua posição distante do trabalhador pobre, se assim pudermos circunscrever uma relação tão complexa, e, se possível, ampliar a distância entre as classes sociais. Existe para que as forças do mercado, que estão sob o seu controle, se fortaleçam e assim permaneçam. Não há esse interesse para que o pobre pare de se ferrar de forma sincera, apenas e somente para manter o “status quo”, e tudo bem por isso para ele, conservador.
A reflexão provocada nos remete à Dialética do Senhor e do Escravo, de Hegel, onde se estabelece uma relação de reconhecimento. Ao senhor não interessa destruir o servo, ele o conserva, pois assim ele é reconhecido como senhor. Conservar, literalmente, significa "com-servo". Produzir servos e a sua manutenção resulta na satisfação da luta pelo reconhecimento empreendida pelo senhor.
O interesse do senhor (o conservador) será sempre manter o servo (o pobre) na sua condição. O pobre produz coisas que não são suas, mas aprende a se superar, sobreviver e vencer as necessidades da vida, o que o torna livre em certo sentido. O conservador depende das coisas que o pobre produz, o que o torna dependente do servo, por isso o seu interesse na manutenção do estado de coisas, no conservadorismo. Jamais terá interesse em qualquer mudança.
Assim como nos colocamos em discordância com nuances do pensamento de Pondé, aqui voltamos também para concordar com outras. Com efeito, podemos aceitar que o conservador queira que a sociedade de mercado resolva o problema do pobre na medida que não o leve ao desespero revolucionário, Pode até chamar isso de “parar de se ferrar”, traduzido como um estado de conformidade. Pode até chamar de um valor “liberal”, mas o será por um motivo egoísta, não por achar que o mundo está bom para todas as pessoas. A extinção ou a diminuição da desigualdade social não está no cardápio do conservador.
Quanto ao que significa um partido liberal-conservativo, não nos abstenhamos de ver isso bem explicado e na prática – mesmo – porque as raízes dos conceitos que compõe essa expressão composta, são antagônicas e contraditórias. Mas estejamos de mente aberta. Sempre.
E tu, leitor ou leitora? És conservador ou conservadora?