O QUE FAZER DA AUSÊNCIA?
O QUE FAZER DA AUSÊNCIA?
Lílian Maial
Domingo é o pior dia para ausências.
De segunda a sexta há todos os afazeres de praxe: trabalho, escola, academia, curso, casa, sei lá mais o quê. Sábado tem família, cinema, show, compras, agito, azaração. Mas aí chega Domingo, acorda-se tarde e já nem se sabe mais se é desjejum ou almoço o que se come. Lê-se o jornal, espreguiça-se, passa-se os olhos na programação televisiva... e aí? Vai dando aquela angústia do fim do lazer. Vai-se morrendo junto do dia. E se for um daqueles dias plúmbeos então...
Se para quem está acompanhado tudo isso é triste, para quem está só é que são elas... O sábado à noite é um verdadeiro martírio. Chega-se na janela e vê-se os casais passeando, as moças em bandos arrumadas para as festas, os rapazes abastecendo os carros para buscar as garotas, enfim, movimento, alegria, energia. E você aí, debruçada, vendo a banda passar. E por que o telefone não toca? E por que ele não aparece? E por que estou tão só?
Se você bobear, rola aquele clima de auto-piedade, de culpa, de rejeição. Surge a angústia e algumas lágrimas vão brotar como válvula de escape.
Em caso de sorte, pode pegar um cineminha sozinha, rodar pelo shopping e encontrar alguns conhecidos de bairro, por que não?
Até aí, tudo bem, mas e o Domingo? O que fazer com a ausência no Domingo?
Domingos foram feitos para se passar a dois. Se estiver meio friozinho, de preferência sob as cobertas, assistindo a um filminho romântico ou de aventura. Sozinho você vai procurar um filme-cabeça, daqueles de tentar suicídio pelo mundo cruel. Sai fora!
Abre-se livro, fecha-se geladeira, desliga-se som, liga-se a TV, entra-se na Internet, abre-se o ICQ... e nada. Ninguém on line, ninguém parece conhecer solidão.
Está certo, pode-se sair sozinho, passear... ver uma exposição, ir a um museu, tentar a casa de algum parente ou amigo. Mas todo Domingo? E o dia inteiro? O que fazer com a ausência no Domingo?
A solidão é o mal do novo século, que já machucava um bocado o final do anterior. Milhões de pessoas inscritas em sites de busca de companheiros. Milhares de salas de chat abarrotadas de solitários à procura de identificação. E quanto mais o tempo passa, mais só se fica. Quanto mais se conhece amigos virtuais, mais real se torna a desesperança.
O homem não nasceu pra ser sozinho, é fato. Então por que nos é tão difícil conviver? A resposta pode estar dentro de nós, de nossas exigências e intolerâncias.
Nota-se que a solidão é muito mais freqüente entre pessoas por volta dos 40 anos. É comum nessa faixa etária as pessoas já estarem estabelecidas na vida (em termos profissionais e familiares), muitas já separadas, cuja solidão é fruto de lares desfeitos. Noutras, a convivência nunca trouxe vantagens e optaram por seu individualismo, pagando um preço alto nos Domingos à tarde. É nessa idade também que já conhecemos todo o tipo de pessoas e de problemas surgidos com elas. Nos tornamos sim, mais exigentes na seleção da companhia. Mas não vem daí a solidão, pois essa de “ruim com ele, pior sem ele” é “conversa mole para boi dormir”.
Parece que o ser humano esqueceu de desenvolver, dentre todas as suas capacidades, a de extrair de dentro de si as melhores opções de criação, invenção, meditação, busca da paz. Não é de fora para dentro que vêm as satisfações, mas ao contrário, é de dentro que se encontra o prazer de usufruir os bons momentos. Se não se está bem consigo mesmo, não se pode encontrar paz exterior. E muito menos tentar compartilhá-la. Acaba em desastre, em frustração. Há que se exercitar a própria companhia, o prazer de seus momentos exclusivos. Pensar, trocar idéias consigo próprio. Sondar suas próprias vontades, seus próprios interesses de lazer. Certamente haverá um sem número de surpresas, já que quase tudo pode ser feito sem a necessidade de terceiros.
É óbvio que a companhia é necessária e desejável, mas uma pessoa amadurecida e que possua auto-conhecimento jamais entrará em depressão e estado de angústia por não ter com quem compartilhar suas tardes de Domingo.
Olhar em volta, apreciar um pôr-do-sol, sentir o vento no rosto, sair para uma caminhada, ouvir os pássaros fazendo arruaça... são todos sinais de que há vida, de que se está vivo. Quer programa melhor do que viver? Por último, se nada funcionar, abra o micro e escreva um artigo sobre o que fazer num Domingo solitário.
Lílian Maial