PÁGINAS VÁRIAS
PÁGINAS VÁRIAS
Aquela montanha que recorta o horizonte já não é mais um gesto da natureza em uma sentinela perdida. É agora um entrave à estrada que segue para o leste.
E também aquelas nuvens carregadas e a névoa, que cobrem o horizonte, não são mais a natureza em cólera nem o manto da tristeza que cobre as coisas, mas um risco ao avião, uma cortina que ameaça perigos.
Tudo hoje perdeu a significação que tinha. Nós evoluímos tanto, tanto, que perdemos, pouco e pouco nossa ingenuidade. Os nossos símbolos eram mantos de pudor para cobrir as coisas. Elas não eram o que eram, mas o que significavam.
O riso claro daquele regato não é mais a canção que ouvíramos, nem os pássaros cantam as coisas do mundo, mas a sua fome e os seus míseros desejos.
Tudo perdão para nós a sua significação. O mundo é agora, e apenas, os que as coisas valem para os nossos mais utilitários desejos.
O mundo é agora, e apenas, um objeto de mercado. O espírito do mercador venceu. Os vendilhões do templo, que Cristo escorraçou, terminaram vitoriosos. A interpretação meramente econômica e utilitária da vida e do mundo é apenas uma concepção de mercadores.