Imagem: Monumento a Bento Gonçalves na cidade de Rio Grande - RS.
Os 180 anos da morte
do Leão farrapo charqueadense
Hoje estamos há exatos 180 anos de 18 de setembro de 1839, data em que, faltando apenas dois dias para a Revolução Farroupilha (1835 - 45) completar quatro anos, o coronel José Manuel de Leão (1788 - 1839) foi morto em sua charqueada, situada próxima ao Arroio dos Ratos (1). Tu sabes quem foi ele?
Seguidamente escrevo sobre esse vulto da história riograndense durante a Semana Farroupilha, pois me causa surpresa que ele, na cidade de Charqueadas, não seja alvo de homenagem alguma, isto é, não nomeia praça, rua, avenida, escola ou, mesmo, entidade tradicionalista. Para se ter uma ideia, o ex-senador Ramiro Barcellos (1851 - 1916), que não era nem nascido à época do conflito, é (merecidamente, claro) nome de CTG - indicado, curiosamente, em 1959, por um tradicionalista igualmente chamado José Leão (2) -, de rua e de escola.
José Leão era o quarto nome na lista do processo que o Império fez contra os farrapos, abaixo apenas de Marciano Pereira Ribeiro - presidente da República do Piratini (? - 1840), de Bento Gonçalves (1788 - 1847) e de Onofre Pires (1799 - 1844) (3). Logo, vê-se, tratava-se de alguém considerado. Além de proprietário de uma charqueada, era vereador em Triunfo (cidade natal de Bento), onde possuía reidência, e coronel de legião Farroupilha, eis que aderiu ao movimento desde o início. Libertou, fardou, armou e enviou cem escravos para lutar pelos revoltosos (4) na famosa e temida tropa denominada Lanceiros Negros, que seria dizimada no infame episódio da Batalha de Porongos (14/11/1844), um massacre que poderia ser mais adequadamente chamado de Traição de Porongos, visto que os escravos guerreiros encontravam-se desarmados por ordem de David Canabarro (1796 - 1867), sob cujo comando estavam. Aliás, o comandante da tropa imperial em Porongos, Francisco Pedro de Abreu (1811 - 1891), também conhecido por Chico Pedro ou Moringue, foi o mesmo que liderou o ataque à charqueada de Leão...
Então chefe do 5° Corpo de Cavalaria, Moringue liderou 40 cavaleiros e 60 infantes contra cerca de 20 farrapos, surpreendendo-os pela manhã na charqueada, assim narrando o episódio em seu relatório: "...seguindo tudo debaixo do meu comando fiz desembarque no dia 18, às 4 horas da madrugada, (...); e daí marchei, (...), à distância de uma légua, pela costa do Arroio dos Ratos, onde mandei fazer uma picada falsa, e nela passei a gente com bastante custo em duas canoas que para isso mandei levar a rasto a cincha de cavalos. E concluída a passagem dividi a gente e mandei cercar vários pontos, sendo a guarda rebelde na barra do Arroio dos Ratos, a chácara do Leão e sua charqueada; e havendo felicidade em todas as partes foram mortos sete rebeldes, entre os quais o coronel de legião José Manuel de Leão (...), e ficaram prisioneiros 9, (...), cento e tantos cavalos e cento e tantas reses..." (3).
Já o relato dos familiares do coronel nos dá detalhes mais específicos e dramáticos: "A expedição de cavalaria atacou a charqueada de Juca Leão e, depois de matar a este e seu irmão Chico e outros, surpreendeu uma guarda daquele, dos quais matou cinco e aprisionou oito, e apreendeu 100 cavalos e algum gado (...). Segundo contam os descendentes de Juca Leão, o Barão do Jacuí [NR - título que Moringue receberia posteriormente] teria assassinado a sangue frio os irmãos Leão em uma emboscada na madrugada (...). Após praticar o ato, fez questão de levar à viúva e à filha pequena de José Manuel o seu poncho todo ensangüentado, inquirindo-as se sabiam a quem pertencia, tendo depois exposto o seu cadáver" (4).
Seja como for, o fato é que o coronel Leão foi um destacado farroupilha, morto em combate pela causa no chão onde atualmente fica o município de Charqueadas, há 180 anos. Seu algoz, o major Chico Pedro, comandaria no ano seguinte, em outra batalha contra os rebeldes, um jovem de apenas 15 anos (que, inclusive, pode até ter participado do fato acima relatado), esse, sim, nome de uma cidade da Região Carbonífera. Se chamava José Antônio Corrêa da Câmara, mas sobre ele escreverei no próximo dia 20 de Setembro, em outro artigo.
PS - Por fim, queria destacar uma informação sobre a vida do coronel José Manuel Leão que já mencionei em outros textos, mas que, creio, nunca é demais retomar. Alguns escritores lhe atribuem erroneamente a paternidade do autor teatral triunfense José Joaquim de Campos Leão (1829 - 1883), o Qorpo Santo. Na verdade, esse é de outra família Leão, também de Triunfo, sendo filho de Miguel José de Campos e de Joaquina Maria do Nascimento, embora tenha recebido o sobrenome de seu avô materno, Francisco Machado Leão (5).
Referências:
(1) VEIT, Bebedito. Por que Charqueadas? Arroio dos Ratos: Gráfica PBS, 2008, 66 p.
(2) PIRES, Saldino. Histórias do povo de Charqueadas. um patrimônio desconhecido. Barra do Ribeiro: Naibert, 2012, 94 p.
(3) PIRES, Saldino. Charqueadas, sua origem, sua história, sua gente. Charqueadas: Folha Mineira, 1986, 156 p.
(4) PUFAL, Diego de Leão. A família Leão e a Revolução Farropilha. Blog Antigualhas, histórias e genealogia, 17 set 2008.
(5) PUFAL, Diego de Leão. Qorpo Santo, um pouco de suas orígens. Site Portal de Notícias, 23 set 2016.
Os 180 anos da morte
do Leão farrapo charqueadense
Hoje estamos há exatos 180 anos de 18 de setembro de 1839, data em que, faltando apenas dois dias para a Revolução Farroupilha (1835 - 45) completar quatro anos, o coronel José Manuel de Leão (1788 - 1839) foi morto em sua charqueada, situada próxima ao Arroio dos Ratos (1). Tu sabes quem foi ele?
Seguidamente escrevo sobre esse vulto da história riograndense durante a Semana Farroupilha, pois me causa surpresa que ele, na cidade de Charqueadas, não seja alvo de homenagem alguma, isto é, não nomeia praça, rua, avenida, escola ou, mesmo, entidade tradicionalista. Para se ter uma ideia, o ex-senador Ramiro Barcellos (1851 - 1916), que não era nem nascido à época do conflito, é (merecidamente, claro) nome de CTG - indicado, curiosamente, em 1959, por um tradicionalista igualmente chamado José Leão (2) -, de rua e de escola.
José Leão era o quarto nome na lista do processo que o Império fez contra os farrapos, abaixo apenas de Marciano Pereira Ribeiro - presidente da República do Piratini (? - 1840), de Bento Gonçalves (1788 - 1847) e de Onofre Pires (1799 - 1844) (3). Logo, vê-se, tratava-se de alguém considerado. Além de proprietário de uma charqueada, era vereador em Triunfo (cidade natal de Bento), onde possuía reidência, e coronel de legião Farroupilha, eis que aderiu ao movimento desde o início. Libertou, fardou, armou e enviou cem escravos para lutar pelos revoltosos (4) na famosa e temida tropa denominada Lanceiros Negros, que seria dizimada no infame episódio da Batalha de Porongos (14/11/1844), um massacre que poderia ser mais adequadamente chamado de Traição de Porongos, visto que os escravos guerreiros encontravam-se desarmados por ordem de David Canabarro (1796 - 1867), sob cujo comando estavam. Aliás, o comandante da tropa imperial em Porongos, Francisco Pedro de Abreu (1811 - 1891), também conhecido por Chico Pedro ou Moringue, foi o mesmo que liderou o ataque à charqueada de Leão...
Então chefe do 5° Corpo de Cavalaria, Moringue liderou 40 cavaleiros e 60 infantes contra cerca de 20 farrapos, surpreendendo-os pela manhã na charqueada, assim narrando o episódio em seu relatório: "...seguindo tudo debaixo do meu comando fiz desembarque no dia 18, às 4 horas da madrugada, (...); e daí marchei, (...), à distância de uma légua, pela costa do Arroio dos Ratos, onde mandei fazer uma picada falsa, e nela passei a gente com bastante custo em duas canoas que para isso mandei levar a rasto a cincha de cavalos. E concluída a passagem dividi a gente e mandei cercar vários pontos, sendo a guarda rebelde na barra do Arroio dos Ratos, a chácara do Leão e sua charqueada; e havendo felicidade em todas as partes foram mortos sete rebeldes, entre os quais o coronel de legião José Manuel de Leão (...), e ficaram prisioneiros 9, (...), cento e tantos cavalos e cento e tantas reses..." (3).
Já o relato dos familiares do coronel nos dá detalhes mais específicos e dramáticos: "A expedição de cavalaria atacou a charqueada de Juca Leão e, depois de matar a este e seu irmão Chico e outros, surpreendeu uma guarda daquele, dos quais matou cinco e aprisionou oito, e apreendeu 100 cavalos e algum gado (...). Segundo contam os descendentes de Juca Leão, o Barão do Jacuí [NR - título que Moringue receberia posteriormente] teria assassinado a sangue frio os irmãos Leão em uma emboscada na madrugada (...). Após praticar o ato, fez questão de levar à viúva e à filha pequena de José Manuel o seu poncho todo ensangüentado, inquirindo-as se sabiam a quem pertencia, tendo depois exposto o seu cadáver" (4).
Seja como for, o fato é que o coronel Leão foi um destacado farroupilha, morto em combate pela causa no chão onde atualmente fica o município de Charqueadas, há 180 anos. Seu algoz, o major Chico Pedro, comandaria no ano seguinte, em outra batalha contra os rebeldes, um jovem de apenas 15 anos (que, inclusive, pode até ter participado do fato acima relatado), esse, sim, nome de uma cidade da Região Carbonífera. Se chamava José Antônio Corrêa da Câmara, mas sobre ele escreverei no próximo dia 20 de Setembro, em outro artigo.
PS - Por fim, queria destacar uma informação sobre a vida do coronel José Manuel Leão que já mencionei em outros textos, mas que, creio, nunca é demais retomar. Alguns escritores lhe atribuem erroneamente a paternidade do autor teatral triunfense José Joaquim de Campos Leão (1829 - 1883), o Qorpo Santo. Na verdade, esse é de outra família Leão, também de Triunfo, sendo filho de Miguel José de Campos e de Joaquina Maria do Nascimento, embora tenha recebido o sobrenome de seu avô materno, Francisco Machado Leão (5).
Referências:
(1) VEIT, Bebedito. Por que Charqueadas? Arroio dos Ratos: Gráfica PBS, 2008, 66 p.
(2) PIRES, Saldino. Histórias do povo de Charqueadas. um patrimônio desconhecido. Barra do Ribeiro: Naibert, 2012, 94 p.
(3) PIRES, Saldino. Charqueadas, sua origem, sua história, sua gente. Charqueadas: Folha Mineira, 1986, 156 p.
(4) PUFAL, Diego de Leão. A família Leão e a Revolução Farropilha. Blog Antigualhas, histórias e genealogia, 17 set 2008.
(5) PUFAL, Diego de Leão. Qorpo Santo, um pouco de suas orígens. Site Portal de Notícias, 23 set 2016.