Recuperação (ou de quando já não se reconhece humano)

Eu sei que as coisas mudaram, mas não muito. Nosso mundo está em perigo. No topo da montanha, um pássaro. No trono do Reino, um asno.

Nesse vai e vem de absurdos e discursos escatológicos - expandidos aos borbotões por seguidores não muito diferentes do profeta do apocalipse -, é lamentável observar o caos logo à frente.

Constada a inominável colisão – e conjuntamente a estonteante vertigem -, não se poderá recuperar a devastação ética, geracional, moral, política, humana - só para ficar nesses parcos exemplos da crise que se aproxima - sem que nos debrucemos, com sinceridade, sobre o que pretendemos para nós e as gerações vindouras. Trata-se, a grosso modo, de tentar salvar resquícios mínimos de civilidade e, consequentemente, do que é humano.

Negar o que está a olhos vistos, não significa que nada está acontecendo. Os fatos, abundantes e em crescente soma, dia a dia desmentem as contraditas da orda que reina.

Demitir profissional reconhecido - cuja função representava o merecido apoio internacional à contenção da devastação da maior floresta tropical do mundo – luta essa pela preservação, além de reconhecer a importância dos povos originários que nela habitam e dela cuidam –, é sintomático da cegueira que hoje se adensa nos píncaros do poder.

O terremoto que rompeu o dique de nossa frágil democracia, trás no seu bojo o que há de mais nefasto que se poderia chamar de uma governança lesiva aos interesses do nosso país. Um procedimento de lesa pátria, defendem, já, alguns juristas e analistas políticos.

Tentar encontrar onde o fio civilizatório se rompeu, não será tarefa fácil. Porquanto, urge que nos unamos para que, como já dito, as gerações futuras, não sejam elas, as vítimas dos erros de seus antepassados. No mais, ter sem pra em mente que o futuro só tem sentido se, e somente se, não jogarmos nossa história parta debaixo do tapete do esquecimento. Nações que assim agiram, impreterivelmente, repetiram as mesmas atrocidades que um dia ceifou sua gente.

Em qualquer país com instituições alicerçadas em bases sólidas, todo aquele que - ainda que de forma velada (e não é esse o caso) exponha seu país ao vexatório internacional, tornando-o um pária nas Relações Internacionais - não honrar a liturgia do cargo e, ademais, assume posição insuspeita de subserviência, já teria respondido por suas responsabilidades.