O SEQUESTRO DA RAZÃO
Não é sobre pontos de vista políticos, é algo mais essencial, mais inerente à condição humana.
Trinta e tantos passageiros de um ônibus, boa parte deles a caminho do trabalho, e um indivíduo que resolve sequestrar essa gente toda, pois algo não saiu como o esperado para ele e, portanto, alguém deve ser punido por essa injustiça cósmica com o coitadinho.
O sequestrador é um ressentido, nenhuma circunstância é atenuante razoável à ameaça contra a integridade física dos passageiros daquele ônibus, ninguém pode resolver os problemas do ressentido e nenhum dano causado a quem quer que seja trará equilíbrio ao estado geral de coisas na perspectiva desajustada do infeliz.
O ressentido age no sentido de que todos à sua volta correspondam às demandas de um delírio histérico, a sua percepção da realidade, totalmente incompatível com a verdade objetiva dos fatos.
Ele fracassa, mas já é a figura emblemática do discurso do jornalismo abjeto praticado no Brasil, ele é uma vítima, nos termos de comentaristas da Globonews, por exemplo.
Veja que já não é uma questão de morrer de amores por Witzel ou por Bolsonaro, não é disso que se trata, aqui. O escândalo obsceno está na perversa inversão psicótica que transforma em herói -- portador de uma "mensagem" , é o que andam dizendo -- qualquer covarde fracassado disposto a incendiar um ônibus com passageiros pois essa é a sua concepção de ser humano e lidar consigo mesmo e com seus semelhantes.
Todos os indignadinhos seletivos que compram tal discurso ventilado pela nossa primorosa imprensa são, de igual forma, tão monstruosamente dementes quanto o sequestrador.
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