ATIVISMO CULTURAL E O SEU AGENTE

O ativista cultural é o agente político que faz as coisas acontecerem no campo da Cultura e seus vetores. Figura especialíssima que sem o fruto de seu trabalho nada ocorre no plano prático. É aquele que abre o espaço social para os efetivos agentes produtores de atos e fatos culturais. É aquele que normalmente apresenta o artista ao público em geral. É ele quem faz a interação entre os sujeitos ativo e passivo. O campo de sua atuação ocorre tanto na área pública como nas organizações não governamentais. É aquele que está sempre preocupado com o todo, com macrocosmo situacional, e não com as micro-situações, se bem que muitas vezes, por falta de outros agentes no desdobramento do processo cultural, tenha de agir até no detalhamento executivo dos projetos. A ótica do ativista cultural não é a de seu sucesso pessoal como artista e criador na área de Artes. Impõe-se o coletivismo, o solidarismo, ou seja, tudo aquilo que venha a funcionar, nos estamentos sociais, como fomentador do processo de caldeamento cultural. Este agente normalmente atua em várias frentes de trabalho, tentando articular e/ou estabelecer elos de ligação entre tais compartimentos estanques, aproximando lideranças culturais e evitando que as localidades, cidades e/ou grupos se tornem guetos de servidão ou expressões maniqueístas de ação e conduta. Requer-se, desde logo, que este agente tenha um perfil ativo como pessoa: solidarista, agregador. É possível identificar-se, de pronto, o seu perfil idealista, pleno de verdades hauridas em suas vivências. O desprendimento pessoal o caracteriza. Todavia, o seu trabalho deve ser sempre remunerado, quando suas ações produzirem lucro para as partes envolvidas. O lucro pessoal não descaracteriza nem proscreve o ativista. Todo o trabalho humano tem que ter compensação, a qual permita prover as necessidades básicas para sobreviver no dia-a-dia. O trabalho do ativista é o fator credenciador de seu sucesso e renome. É, também, verdadeira mola-mestra de propulsão para esse idealista que mereça ser denominado como ativista cultural. Mas, pelo que tenho observado, o agente do ativismo cultural nasce pobre e morre na mesma condição: desprovido de recursos financeiros. O que move o ativista é o altruísmo. O seu prêmio se constitui de copiosas menções de honra como SÓCIO BENEMÉRITO em dezenas de instituições culturais. É a maneira mais usual de a comunidade agradecer pelo trabalho. O verdadeiro ativista é caracterizado pelo idealismo: retira de seu bolso expressiva parte dos recursos com que fará "andar o barco" das ações culturais. Deixa o poder público com suas costumeiras dificuldades e passa a viver à cata de apoios não governamentais para poder realizar eventos. O que mais vai caracterizar as ações do ativismo cultural é a conjugação permanente entre os vetores Cultura e Educação. Para um país que tem baixíssima média de leitura de livros/ano, esta conjugação de esforços é a única e preciosa maneira de produzir uma criatura humana mais feliz, mais plena de cidadania e de utilidade para as ações culturais no seio da comunidade. A denominação deste tipo humano como Ativista Cultural, agente efetivo do Ativismo Cultural, foi objeto de proposta apresentada pelo autor deste trabalho em nome da Casa do Poeta Rio-Grandense, durante o 1º Congresso Brasileiro de Poesia (e único), promovido pela Casa do Poeta Brasileiro - POEBRAS, e ocorrido em Nova Prata/RS, em 1991, durante o 2º Encontro Latino-Americano de Casas de Poeta. Pretendíamos, com este nominativo, unificar as variantes costumeiras de Animador Cultural, Agitador Cultural, Promotor Cultural, Divulgador Cultural, etc. A proposta foi aprovada, por unanimidade, e, hoje tomou corpo em todo o Brasil. Entendo que é chegada a hora de regulamentar esta profissão, dando realce ao seu prestador. Esta providência legislativa dignificaria o ativista, e permitiria que se fizesse justiça a esse importante agente da política cultural. E, sob os olhos da legalidade, mensurar a amplitude de suas ações e aplicar valor remuneratório justo a esse incansável trabalhador, que é a verdadeira mola propulsora das ações culturais.

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2006/2011.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/67130