O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO INSTITUCIONAL E O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO NA CLÍNICA:
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO INSTITUCIONAL E O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO NA CLÍNICA: PONTOS CONVERGENTES E DIVERGENTES
Seilla Regina Fernandes de Carvalho
RESUMO
Este artigo tem a finalidade de trazer à reflexão a Psicopedagogia como um saber híbrido que possibilita perceber o sujeito que aprende como um epicentro do seu contexto particular, irmanado e ambientado nas esferas próximas, co-partícipe no jogo intergrupal onde movimenta suas energias num dinamismo prodigioso e de grande plasticidade. Considerando tais aspectos, o diagnóstico psicopedagógico clínico e institucional resguarda similaridades e aponta para diferenciações quanto ao trajeto de construção e análise dos estudos propostos que devem ser estabelecidos no seu nível de intencionalidade.
Palavras-chave: intencionalidade, ambigüidade, subjetividade, desejo, plasticidade, investigação, operatividade.
Temos na psicopedagogia um campo de estudos que amalgama elementos epistêmicos de outras áreas do conhecimento e reelabora discursos nos espaços enriquecedores do sujeito que apreende a si e ao mundo. Uma ciência que tem adiante a tarefa de resgatar o sujeito como ser integral, viabilizando o auto-enfrentamento e discernimento quanto ao processo de humanização, que se dá mediante a compreensão de seu papel como sujeito do saber. O ato educativo contém em si um movimento de extrema vitalidade e ambigüidade na completude desse desígnio. Pois, ao conservar princípios civilizatórios de um período histórico, preocupa-se também em habilitar os sujeitos para a transição do momento histórico fazendo-os repensar sobre sua condição de impermanência, e de transitoriedade.
A escola como agência reprodutora da sociedade pode se dar conta desse aspecto dicotômico, porém, não produz o pensar, ao contrário, compactua com uma relação esquizo-paranóide e se transforma em uma entidade que aparta o sujeito da vida; a vida lá fora é transgressora e a escola enquanto vida reguladora, que separa o saber do prazer, destitui o pensar reflexivo do sujeito e o ‘a-sujeita’ a um estado de coisas que o torna imerso num vazio desejante. É o que faz a escola, desvia as pulsões de vida em nome de um princípio de realidade exacerbado. Isso a transforma numa instituição (como muitas outras) que patologiza os indivíduos, os transformando em seres - alunos, professores - ausentes de si. Que espelham frustrações, transferem medos, verbalizam no vazio de seus sistemas de crenças, pois, que o discurso da fala é sem energia sem desejo e sem ação transformadora.
Em algumas correntes que estudam a bioenergética podemos encontrar o conceito de domosfera que se refere ao ambiente energético intergrupal. Esse ambiente carrega uma intencionalidade, é revelador e reverbera potenciais de entropia ou homeostase a depender do padrão energético e da dinâmica vivenciada no contexto do grupo; o elemento adoecido em sua psicoesfera emana um determinado padrão que leva ao adoecimento do grupo - como aquele organismo investido de potência. Impedindo assim, que a energia vibre, flua, transite e viabilize o crescimento de seus integrantes e do sistema como um todo.
Muitas vezes podemos perceber na escola posturas encapsuladoras reverberando um tipo de energia que impede o grupo de crescer e produzir transformações efetivas; couraças utilizadas a fim de manter a estabilidade dos ritos – alunos enfileirados, metodologia estanque, conteúdos engessados e descontextualizados, disseminação do senso comum, arrogância do saber por parte do professor.
Diante desse cenário, que relações com o conhecimento podem ou devem ser estabelecidas? Como penetrar na subjetividade da instituição e/ou do sujeito sem cair na tentação de oferecer receitas, estratégias, antídotos, àqueles imbuídos da representação do saber? Quem são os mantenedores, vitalizadores desse organismo que longe de uma homeostase se mantêm cristalizados em rituais inibidores do ato de pensar? E que tipo de saber é encontrado nesse espaço - a escola? Afinal o saber não está no sujeito?
A Psicopedagogia com seu aparato teórico poderá se constituir na ciência das probabilidades do ser, que oportuniza reflexões profundas quanto à construção dos saberes construídos e constituídos na história do indivíduo e dos sujeitos enquanto organismos institucionais; saberes que se encontram entrelinhados nas multidimensões do ser – aprendente/ensinante/aprendente - seja mediatizados numa terapêutica individual seja numa intervenção a partir de operatividade intergrupal.
E o que tem o diagnóstico psicopedagógico com tudo isto? O diagnóstico psicopedagógico é um processo sistêmico que tem um caráter dialético, e busca entender causas, a partir de uma sintomatologia, que leva às intervenções pertinentes a fim de produzir o equilíbrio do sujeito em análise ou da instituição pesquisada. O diagnóstico psicopedagógico se reveste de plasticidade e reversibilidade já que pode ser revisado no contínuo do seu movimento. As intervenções se dão a partir de uma postura investigadora do psicopedagogo seja na clínica ou na instituição.
É possível conceber que o trabalho na instituição poderá ser aprofundado, enriquecido, complementado pelo olhar clínico, que tem uma característica terapêutica e pode dar conta das demandas do sujeito que atua como minipeça integrante de um maximecanismo. Porém, é importante sinalizar que os instrumentos de avaliação diagnóstica utilizados na clínica, não devem na sua maioria, ser utilizados no diagnóstico da instituição, já que este último pretende traçar o perfil do grupo (CARLBERG, 1998).
Os aspectos divergentes deste trabalho são observáveis quando levamos em consideração que:
Na instituição o psicopedagogo atua reestruturando a função desta junto aos envolvidos, identificando sintomas bloqueadores do processo ensino-aprendizagem, redimensionando as vias e os mecanismos de aquisição dos conhecimentos, bem como administrando ansiedades e conflitos que refletem no dinamismo intergrupal.
O diagnóstico institucional – escola – tem como primeiro instrumento de pesquisa a EOCMEA – Entrevista Operativa Centrada no Modelo Ensino Aprendizagem – (CARLBERG, 1998) ou a EOCA – Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – (VISCA, 1987 apud BARBOSA, 2001) que possibilita uma aproximação com o objeto de estudo, bem como identificar os sintomas e formular as hipóteses sobre as causas que coexistem com os mesmos; Entrevistas com os professores, diretor (a), coordenador (a) pedagógico (a), orientador (a) educacional; Observação e análise do sintoma através daquilo que se apresenta na dinâmica do grupo; Provas Projetivas (Parelha Educativa) com elementos do grupo em diagnóstico; Levantamento estatístico das notas dos alunos; Jogos de socialização; Utilização do Cone Invertido para a análise das observações.
Enquanto na clínica é estudada a aprendizagem normal e patológica tanto com um sentido preventivo como terapêutico, sendo investigado o significado, as causas e a modalidade de aprendizagem do sujeito com intervenções realizadas – a partir de uma metodologia clínica – no intuito de ressignificar o processo e/ou sanar as dificuldades. Com um olhar focalizado na história do sujeito, trabalha sobre as causas a partir da identificação dos sintomas.
Na clínica se estabelece a pesquisa diagnóstica que pode, em linhas gerais, ser modificada dependendo do caso:
Entrevista Familiar Exploratória Situacional, que tem como objetivo a compreensão da queixa nas dimensões familiar e escolar, a percepção das relações familiares além do engajamento dos pais e da criança no processo de diagnóstico; Sessões lúdicas centrada na aprendizagem; EOCA – Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem; Observação frente à produção do sujeito; Testes e Provas Operatórias; Provas projetivas; Provas psicomotoras; Entrevista de Anamnese.
Os aspectos convergentes podem ser ressaltados quando se constata que:
Tanto o psicopedagogo com atuação na instituição quanto o psicopedagogo com atuação na clínica realizam intervenção utilizando métodos, instrumentos e técnicas próprias da Psicopedagogia; Atua na prevenção dos problemas de aprendizagem; Desenvolve pesquisas e estudos científicos relacionados ao processo de aprendizagem e seus problemas; Tem como objetivo devolver ao sujeito o prazer de aprender e criar estratégias de resgate e exercício da autonomia; Orienta, coordena e supervisiona cursos de especialização de Psicopedagogia, em nível de pós-graduação.
Alguns métodos de diagnóstico podem ser comuns às duas vertentes da atuação psicopedagógica, como é o caso da aplicação da técnica projetiva Parelha Educativa que objetiva pesquisar o vínculo que aluno mantém com a aprendizagem; Aplicação da EOCA que permite a observação e análise do sintoma através da temática, da dinâmica e da produção do sujeito ou do grupo; A utilização do Quadro Auxiliar que visa facilitar o acesso às informações obtidas no decorrer do processo diagnóstico, podendo ser adaptado conforme as necessidades de cada profissional; O Encaminhamento, a Devolutiva ou o Informe Psicopedagógico que são utilizados como fechamento da seqüência diagnóstica do psicopedagogo tanto no âmbito da clínica como da instituição.
O diagnóstico psicopedagógico é um instrumento que investiga os elementos que se interpõem no processo de aprendizagem do sujeito. Pois, podemos pensar que o sujeito aprendente está lá... aqui... encontra-se num espaço temporal, dimensional e existencial permeado de suposições sobre o eu orgânico, o eu emocional, o eu mental, o eu psíquico, o eu energético. Impressões que são mediatizadas pelo outro – a família, a escola, a religião, o estado - e transformadas em mitos, meias-verdades refletidas nos espelhos das verdades do outro, espaços do eu que por vezes são intangíveis, mas que de alguma forma são organizados pelas estruturas cognitivas. Nesse processo de compreensão e contextualização da realidade alguns percalços podem ser visíveis já que com a percepção obnubilada o sujeito se mistura nessas impressões e necessita ser reconduzido em sua trajetória pessoal investido da energia necessária para o saber de si, do outro e do mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ABRAMOVICH, Fanny. Quem educa quem? São Paulo, Círculo do Livro, 1985.
BARBOSA, Laura Monte S. A psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba, Expoente, 2001.
BARONE, Leda M. C. De ler o desejo, ao desejo de ler: uma leitura do olhar do psicopedagogo. Rio de Janeiro, Vozes, 1994.
BOSSA, Nádia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre, Artmed, 2000.
CARLBERG, Simone. A Psicopedagogia institucional: uma práxis em construção. Curitiba, 1998. Apostila.
CERATO, Sônia. A ciência conscienciologia e as ciências convencionais. Rio de Janeiro, IIPC, 1998.
WEIS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro, DP&A editora, 2004.
Publicado em 26/09/2007
Seilla Regina Fernandes de Carvalho - Pedagoga (UNEB-BA), concluinte do curso de Especialização em Psicopedagoga Clínica e Institucional (FAP-PR), com habilitação na Docência do Ensino Superior, Orientadora em Projetos de Educação Sexual de Crianças e Adolescentes, Integrante da Equipe de Avaliação do Prêmio Pólo de Incentivo à Educação do COFIC – Comitê de Fomento Industrial de Camaçari – Ba.