MEU ERRO FOI O ENVELHECIMENTO

O QUE DEIXOU DE FAZER?

Eu ouvia um profissional sendo lembrado de sua idade. Ele argumenta que se tornou o maior na sua área e que já deu aula para os maiores do país. Porque queriam se tornar como ele.

Num dado momento um rapaz novo em idade e em experiência levanta a voz com uma fúria e quase grita para ser ouvido: você está velho, não se olha no espelho?

Não é só a idade que faz uma pessoa ser deixada para trás. Pode ser o que você deixou de fazer.

É como se tudo que você fizesse perdesse ali seu valor. Como se cada paciente atendido sumisse. Cada doença detectada apenas ao olhar criterioso não fosse precioso.

Ele olha sua mão já trêmula e uma lágrima saiu involuntariamente. O coração parecia agora externo. Batia descompassado e os passos sumiram de suas pernas.

O corredor branco se torna negro e o ar toma forma e parece ser cortado como faca diante de todos.

As mãos que um dia afagou doentes, que abriu e fechou corpos e foi premiado por tal parece ali inútil. Aquela que mesmo não vendo solução afaga e diz faremos de tudo acaba ali sua função.

Essa mão retira o jaleco, o colação sobre a mesa e sai. Para onde ir se durante cinquenta anos ali foi seu pouso.

Não viu os filhos falar, pois tinha uma urgência, não acompanhou na formatura porque outro precisava dele. Também não curtiu a casa de praia que comprou com tantos plantões. O sítio? Nem sabe mais o endereço, só paga a conta dele todo mês.

Seus passos em direção a saída dura poucos minutos de espetáculo. Todos se voltam as suas tarefas.

O que deixou de fazer para ser apunhalado assim? Envelhecimento. Ninguém esperava isso. Como uma mente tão brilhante acabaria ali.

O que não se espera é que tudo que foi oferecido acabe assim. Mesmo que não seja a velhice a te atingir.

Se o erro dele foi envelhecimento qual o de outros?

A vida é feita de ciclos, alguns levam anos e anos para fechar. Outros duram tão pouco que nem saudades deixa. Mas a única garantia da vida é que não duram para sempre.

Assim como seus dias bons ou ruins. Eles sempre vem e vão, não na mesma velocidade, mas acontece. Um amor morre seja pela rotina bravia do tempo, seja pela morte de um.

O ciclo da vida produtiva também é assim. Pessoas passam por nós e mal sabemos quem é. Vão... vem e pouco queremos entender porque é assim.

Alguns sabem demais e vão longe. Outros ficam ali por anos na mesma função. A diferença dos dois? Seu salário, pois todos são importantes. Alguns acham que a importância está na diferença que o maior trás. Mas deixa a faxineira ir embora....

Todos nós vamos ouvir essa frase se não morrermos antes. Envelheceu. Sim estamos envelhecendo todos os dias.

Um dia desses iremos olhar no espelho e descobrir que não se conhece mais. Vai achar pesado sair de carro por causa do trânsito. Nada!!! Seu cansaço chegou e não tem mais paciência nem ânimo para o trânsito.

A cor dos seus cabelos nem você saberá contar e suas pernas e mãos não vai te obedecer.

Se esse dia não chegar é porque foi jogado para fora do barco antes. Então precisamos parar um pouco nosso impulso juvenil e recolher palavras e pensar, o que posso aprender com quem avançou no tempo.

A revolução desse ato veio. Houve uma pergunta que não parecia ter resposta. Até que outro disse na roda de papo. Eu quero aprender o máximo que puder com ele. Se ele foi tão longe eu quero ficar com o que ele tem na mente.

O aluno vai aprender o máximo que puder, o professor vai ser o melhor na nova função e perde quem não viu onde errou.

Ninguém vai deixar de passar, nem deixar de fazer algo. Então vamos aprender ao máximo com quem avançou no tempo. Assim quando a idade nos apresentar sua carta de demissão outro profissional pode nascer ali. Porque todos podemos aprender e todos algo a ensinar.

Até a próxima...

Leticia Carrijo
Enviado por Leticia Carrijo em 11/07/2019
Reeditado em 12/07/2019
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