Um dizia "Sergipe"; o outro respondia "37". Na rua Sergipe, 37, bairro de Higienópolis, ficava a casa em que os conspiradores, montaram seu quartel general, naquele nervoso sábado, de 09 de julho de 1932. O endereço foi transformado em senha e contrasenha para comunicações entre eles. Mensageiros entravam e saiam do local. A ordem era assegurar o controle das forças militares e policiais em São Paulo, bem como dos correios, da telefônica e de outros serviços. São Paulo, por suas principais lideranças políticas, aliadas a militares dissidentes, declarava-se em insurreição armada contra o regime de Getúlio Vargas, instalado um ano e nove meses antes. Tinha início o episódio conhecido como Revolução Constitucionalista, Contrarrevolução, Revolução Paulista, Guerra Paulista ou Guerra Civil Brasileira conforme a perspectiva e a orientação política do observador.
O passar dos anos não atenuou a controvérsia que a cerca, a começar pelos múltiplos nomes que lhe atribuem. Foi batizada de CONSTITUCIONALISTA por seus promotores e com esse nome continua para quem a enxerga como insurreição de pura índole democrática e legalista, contra o regime de exceção em vigor desde a derrubada do presidente Washington Luiz, em outubro de 1930. "Contrarrevolução" é como a chamaram os homens de Vargas, sugerindo que se tratava de uma reação da oligarquia paulista à Revolução (esta, sim, "revolução de verdade") de 1930. "Guerra Paulista" foi como a chamou o historiador Hélio Silva, autor da série de livros intitulados O Ciclo de Vargas, dando ênfase ao caráter solitário da insurreição de São Paulo.
Entre muitas manifestações a mais marcante aconteceu na esquina da Rua Barão de Itapetininga com a Praça da República. A tentativa de invasão da sede da Legião Revolucionária foi repelida a tiros e caíram mortos quatro jovens manifestantes: Euclides Miragaia, Mario Martins, Dráuzio Marcondes e Antonio Camargo. Agora havia até cadáveres para jogar na conta do regime. Com seus nomes formou-se uma sigla com a qual seria batizado o movimento de mobilização dos civis para a guerra- MMDC e a data do morticínio 23 de maio, deu-se significado tão memorável que veio a nomear uma das principais avenidas de São Paulo.
Em paralelo com as manifestações públicas corria a conspiração contra o governo federal, ela possuía duas faces, uma civil, outra militar.
Os postos instalados pelo movimento MMDC foram para atender a enxurrada de voluntários que queriam alistar-se para a guerra. Dez mil inscreveram-se nas primeiras 72 horas. Nas semanas seguintes mulheres se engajariam na produção de fardas e a Associação Comercial lançaria com estrondoso êxito a campanha "DÊ OURO PARA O BEM DE SÃO PAULO". Na história do Brasil nunca se viu mobilização tamanha para um esforço de guerra. E nunca uma causa mereceu a produção de tantos cartazes, tantas medalhas que incitavam as pessoas à luta.
A guerra desenvolveu-se em três frentes principais e uma secundária. As principais foram a do vale do Paraíba, junto a divisa com Rio de Janeiro, a da Mantiqueira, junto a divisa com Minas Gerais, e a do Sul, junto a divisa com o Paraná. São Paulo perdeu nas armas, mas ganhou no grito. Proclamou-se vencedor moral quando foi eleita a Constituinte pela qual lutara, em maio de 1933. O argumento é discutível, pois Getúlio já programara a eleição antes de estourar o conflito. Mesmo assim, funciona até hoje como um dos sustentáculos da celebração da revolução de 1932 como momento de glória na história paulista.
Pesquisa de Benedito Morais de Carvalho (Benê)
São Paulo, 09 de julho de 2019