O código Da Vinci

O livro de Dan Brown atingiu seus objetivos: abriu uma polêmica fora do comum e faturou muito dinheiro. O escopo era confundir e faturar alto: ele conseguiu! Até aí nada demais, para quem conhece o espírito americano.

Na nota introdutória de seu livro, o escritor, até então desconhecido, autor de dois livros medíocres, conta que “todas as descrições dos documentos e rituais secretos são precisas”. Ora, não é porque alguém afirma a precisão de uma coisa que ela vai ser ungida com a verdade, imune a contestações.

O fato é que Teólogos e intelectuais atacaram o livro e os “fatos” acerca dos quais ele é baseado. Brown está posando de ateu, para – dizendo-se imune a credos religiosos – escrever as bobagens que escreveu. Toda essa celeuma, porém, acirrou a discussão, fazendo de “O Código Da Vinci” não apenas um livro bem-sucedido em termos de vendas, mas também o mais controverso.

A história, ao estilo Indiana Jones, 007, O retorno da Múmia ou Lara Kroft, começa com o assassinato de um museólogo dentro do Louvre de Paris, o qual, nos estertores dá pistas para a revelação de um segredo milenar. Depois de sua morte, descobre-se que era um líder da sociedade secreta “Priorado de Sião”. No filme, o pai da “tomb rider” pertencia aos illuminatti.

Como ficção aventuresca, o livro até pode dar um filme interessante. O “segredo milenar”, para criar um suspense universal, envolve a Igreja Católica. A partir daí o livro transforma-se numa salada, um legítimo thriller de ficção, envolvendo o Santo Graal, o mistério do sorriso da Mona Lisa, as Cruzadas, misturando seus parcos conhecimentos sobre Leonardo Da Vinci com seitas de existência polêmica, como a dos Cavaleiros Templários etc. Um legítimo “samba do crioulo doido”.

Na busca do sensacionalismo, o autor também provocou a ira incontrolável de instituições religiosas, batendo de frente, ao colocar em dúvida a divindade de Jesus Cristo, mostrando-o “casado” com Maria Madalena, uma líder ativista: a mulher forte por trás do filho do Homem. O autor comete esse despautério porque sabe que os cristãos são pacíficos. Já pensou se ele escreve algo contra a maçonaria, os judeus ou o Islã? Por muito menos os aiatolás condenaram Salmon Rushdie à morte.

Um professor de teologia, de São Paulo, disse com muita propriedade “...Priorado de Sião, Leonardo Da Vinci e seus quadros, Madalena e Jesus, dinastia Merovíngia, Santo Graal, Cavaleiros Templários, Opus Dei, tudo isso, para quem estudou Bíblia, História e Literatura parece mais uma sopa destemperada de ingredientes picantes do que alimento para a alma ou para a cultura”.

Como especialista em Teologia e História das Religiões li e reli o livro, na esperança de estar sonhando, pois nunca imaginei encontrar tanta bobagem junta.

Igual ao "Chacrinha", Dan Brown não veio explicar e sim confundir e provocar. E conseguiu. O autor, com menos de 40 anos, alcançou o que todo o escritor sonha. Chegou lá. Suscitou polêmica e está vendendo a rodo. Não importa quantos livros se escreverão contra o dele: já faturou milhões. E milhões de dólares!

É do seu livro que o mundo vai falar por muito tempo. E os cristãos são culpados por essa difusão, pois a maioria nunca leu nenhum documento oficial, jamais abriu o catecismo, mas quando vê o tal livro que diz que Jesus casou com Madalena e que existe um tal cálice sagrado em algum lugar do planeta, vai compra, lê e concorda e passa a defender o escritor. Há outros que sabem rudimentos da religião, mas não têm visão abrangente da fé. Esses não leram o livro de Brown, mas “iluminados” por seus gurus, afirmam: “não li mas não gostei”.

O curioso, se não fosse trágico, é que muitos cristãos, mal catequizados e pior ainda evangelizados, lêem uma obra desse tipo e ficam cheios de dúvidas, questionando se o autor não teria "descoberto" algi como, como a afirmação de que Constantino teria alterado a redação da Bíblia.

Até a sensacionalista revista Veja achou que o Brown exagerou... Não se trata de literatura, mas de marketing. O autor fez um livro inconsistente, mas que vende bem. Era o que ele queria.

Trata-se de um livrinho bem ordinário, apesar de suas 480 páginas e de seu alto preço. Fará par com as abobrinhas de Paulo Coelho, Zíbia Gaspareto e coisas do gênero. Não é um livro sério. Se me derem de presente eu recuso.

(artigo publicado na Revista Rainha dos Apóstolos - rainha@pallotti.com.br - em 2004).

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 03/11/2005
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