Do Carnaval a Pentecostes
O carnaval começava com a entrega das chaves da cidade e a saída do rei com toda a sua corte. O legítimo rei entrega as chaves para um rei falso, um rei de faz de contas, o rei momo. A cidade mergulha no caos onde tudo se inverte. Discípulos afrontam mestres, senhores são substituídos por seus servos, a ordem é totalmente pervertida o espirito se afasta e a matéria entra em decomposição (carnivalis = adeus a carne). O caos se sobrepunha ao cosmos (quando o espírito se afasta, o corpo se decompõe).
Este ciclo de decomposição, terminava com a quarta-feira de cinzas, quando o povo já saturado, cansado e já consciente das feras existentes dentro delas, do insuportável caos que se sobrepôs ao cosmos, iam até as portas da cidade e devolviam as chaves ao verdadeiro rei para que restaurasse a ordem, permitindo que a vida germinasse novamente, e o cosmos fosse refeito.
Este contraste se faz necessário para que se possa manter uma distinção entre o certo e o errado, o bem e o mal, a virtude e o vício. É no caos que se aprende a valorizar a ordem, e para que se possa escolher é necessário conhecer os dois lados. O rei e sua corte se retirava porque já tinham essa consciência, já não estavam mergulhados apenas no mundo material. Se toda a população não tivesse a oportunidade de vivenciar, esse caos que está latente dentro de cada um, certamente se manifestaria a qualquer momento, fora de controle.
Depois da deterioração, começa então um período de nova germinação, de expiação, a quaresma para os cristãos, culminando com a páscoa, que é quando o cordeiro sacrificial da expiação ascende aos céus. Cinquenta dias após a pascoa, temos o Pentecostes.
Pentecostes deveria ser o momento em que o homem após o caos, a deterioração da carne e posterior expiação, deveria novamente renascer e se reconciliar com o cosmos. É quando o divino, o Espirito Santo, desce sobre os apóstolos em línguas de fogo.
Agora eu pergunto: Alguém se lembra do dia de pentecostes? Muito poucos. Ao invés disso o que vemos é o transbordamento do caos, a desordem começando antes e se estendendo após através do carnaval fora de época, micaretas e outros. É o caos avançando e o cosmos, o espiritual, se recolhendo. É a estrela de cinco pontas (pentalfa) invertida.
Além de outras coisas, a estrela de cinco pontas simboliza, nas suas quatro pontas inferiores o mundo material – terra, água, fogo e ar – e na quinta ponta para cima, desponta o espiritual, a quintessência. É o espírito do homem se sobrepondo à matéria. Essa estrela, quando invertida (quinta ponta para baixo) simboliza o espírito mergulhado na matéria, o domínio do material sobre o espírito. É o homem dominado pela matéria e renegando o plano espiritual.
Existe um milenar livro indiano chamado Visnu Purana. Segundo ele haverá um ciclo chamado Kali Yuga. Abaixo, transcrevo parte do capítulo onde o Visnu Purana fala sobre o Kali Yuga. Leiam e vejam se encontram alguma similaridade com o que está acontecendo no mundo atual. Não se esqueçam: Este livro foi escrito muitos séculos antes do início da era cristã.
(Francisco de Assis de Góis)
Kali-yuga, A Última Era do Ciclo Cósmico
Sukadeva Gosvami disse: Então, ó rei, a religião, a veracidade, a limpeza, a tolerância, a misericórdia, a duração de vida, a força física e a memória, todas diminuirão dia a dia em virtude da poderosa influência da era de Kali.
Em Kali-yuga, somente a riqueza será considerada sinal de bom nascimento, comportamento adequado e boas qualidades. E a lei e a justiça serão aplicadas apenas com base no poder do indivíduo. Homens e mulheres viverão juntos por causa da mera atração superficial. O sucesso nos negócios dependerá de fraudes. A feminilidade e a masculinidade serão julgados segundo a perícia sexual da pessoa. E um homem será conhecido como brahmana apenas por usar um cordão. Determinar-se-á a posição espiritual de alguém apenas em função de símbolos externos, e em base a este mesmo princípio as pessoas mudarão de uma ordem espiritual para outra. A dignidade do homem será seriamente questionada se ele não tiver um bom salário. E considerar-se-á um estudioso erudito quem for muito perito em malabarismo verbal.
Alguém será julgado profano se não tiver dinheiro, e a hipocrisia será aceita como virtude. O casamento será feito apenas por acordo verbal, e a pessoa pensará que está apta a aparecer em público apenas porque tomou banho. Será considerado sagrado um lugar que consistir apenas de um reservatório d’água num local distante, e a beleza será julgada pelo penteado de cada um. Encher a barriga se tornará a meta da vida, e quem for audacioso será aceito como veraz. Aquele que conseguir manter a família será considerado hábil, e os princípios religiosos serão observados apenas por causa da reputação.
À medida que a Terra se apinhar de população corrupta, quem quer que, dentre qualquer das classes sociais, mostrar ser o mais forte obterá o poder político. Perdendo suas esposas e propriedades para tais governantes avarentos e desumanos, que não se comportarão melhor do que ladrões ordinários, os cidadãos fugirão para as montanhas e florestas. Atormentados pela fome e impostos excessivos, os homens recorrerão a folhas, raízes, carne, mel silvestre, frutas, flores e sementes para se alimentar. Atingidos pela seca, eles ficarão completamente arruinados. Os cidadãos sofrerão muito com o frio, vento, calor, chuva e neve. Serão atormentados ainda por desavenças, fome, sede, doença e severa ansiedade.
A duração máxima de vida dos seres humanos em Kali-yuga será de cinquenta anos. Na época do fim da era de Kali, os corpos de todas as criaturas diminuirão muito em tamanho, e os princípios religiosos dos seguidores do varnasrama serão arruinados. A sociedade humana esquecerá por completo o caminho dos Vedas, e a dita religião será em sua maior parte ateísta. A maioria dos reis serão ladrões, a ocupação dos homens será o roubo, a mentira e a violência desnecessária, e todas as classes sociais serão reduzidas ao baixíssimo nível dos sudras. As vacas serão como cabras, os eremitérios espirituais não serão diferentes de casas mundanas, e os laços familiares não se estenderão além dos vínculos imediatos do matrimônio. A maioria das plantas e ervas serão pequeninas, e todas as árvores serão semelhantes às árvores anãs sami. As nuvens serão cheias de relâmpagos, os lares serão desprovidos de piedade, e todos os seres humanos parecerão asnos.
Nesse momento, a Suprema Personalidade de Deus aparecerá na Terra. Agindo com o poder da bondade espiritual pura, Ele salvará a religião eterna. O Senhor Visnu – a Suprema Personalidade de Deus, o mestre espiritual de todos os seres vivos móveis e inertes e a Alma Suprema de todos – nasce para proteger os princípios religiosos e para salvar Seus devotos santos das reações da atividade material. O Senhor Kalki aparecerá na casa do mais eminente brahmana da aldeia de Sambhala, o magnânimo Visnuyasa. O Senhor Kalki, o Senhor do Universo, montará em Seu veloz cavalo Devadatta e, de espada em punho, viajará pela Terra exibindo Suas oito opulências místicas e oito qualidades especiais da Divindade. Exibindo Sua refulgência inigualável e cavalgando com grande velocidade, Ele matará aos milhões aqueles ladrões que ousaram vestir-se de reis.
Depois que todos os reis impostores forem mortos, os residentes das cidades e aldeias sentirão na brisa a mais sagrada fragrância da polpa de sândalo e outras decorações do Senhor Vasudeva, e suas mentes ficarão transcendentalmente puras. Depois que o Senhor Vasudeva, a Suprema Personalidade de Deus, aparecer em seus corações sob Sua forma de bondade transcendental, os cidadãos restantes repovoarão a Terra. Depois que o Senhor Supremo aparecer na Terra como Kalki, o mantenedor da religião, começará Satya-yuga, e a sociedade humana gerará progênie no modo da bondade. Quando a Lua, o Sol e Brhaspati estiverem juntos na constelação Karkata, e todos os três entrarem ao mesmo tempo na mansão lunar Pusya – nesse exato momento começará a era de Satya, ou Krta.
Inspirado em palestra da filósofa Lúcia Helena Galvão.