O Centésimo Macaco II – A Ressonância Mórfica e a Metáfora

No artigo anterior, “O Centésimo Macaco”, falamos sobre a possibilidade de todos os seres e sistemas estarem ligados entre si através da ressonância mórfica, uma teoria defendida por Rupert Sheldrake. Segundo ele, os campos mórficos são estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material.

Átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um campo mórfico específico. São eles que fazem com que um sistema funcione realmente como um sistema, isto é, uma totalidade articulada e não apenas um mero conjunto de partes sem interagirem entre si.

Segundo ele sua atuação é semelhante à dos campos magnéticos da física. Se colocarmos uma folha de papel sobre um ímã e espalharmos pó de ferro em cima dela, os grânulos metálicos distribuem-se ao longo de linhas geometricamente precisas. Isso acontece porque o campo magnético do ímã afeta toda a região à sua volta. Não podemos percebê-lo diretamente, mas somos capazes de detectar sua presença por meio do efeito que ele produz, direcionando as partículas de ferro. De modo parecido, os campos mórficos distribuem-se imperceptivelmente pelo espaço-tempo, conectando todos os sistemas individuais que a eles estão associados.

A analogia termina aqui, porque, ao contrário dos campos físicos, os campos mórficos de Sheldrake não envolvem transmissão de energia. Por isso, sua intensidade não decai com o quadrado da distância, como ocorre, por exemplo, com os campos gravitacionais e eletromagnéticos. O que se transmite através deles é pura informação. Nele o conhecimento adquirido por um conjunto de indivíduos agrega-se ao patrimônio coletivo, provocando um acréscimo de consciência que passa a ser compartilhado por toda a espécie.

Sheldrake explica que por meio desse processo as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória coletiva muito parecido com a noção junguiana de inconsciente coletivo. A diferença é que, o “inconsciente coletivo” de Carl Gustav Jung é aplicado exclusivamente à experiência humana enquanto que a ressonância mórfica seria aplicada a todos os sistemas do mundo material. Pode parecer telepatia, mas não é. A telepatia é uma atividade mental superior focalizada e intencional que relaciona dois ou mais indivíduos, enquanto a ressonância mórfica é um processo básico, difuso e não intencional que articula coletividades de qualquer tipo.

Como exemplo ele diz que quando uma nova substância química é sintetizada em laboratório, não existe nenhum precedente que determine a maneira exata de como ela deverá cristalizar-se. Dependendo das características da molécula, várias formas de cristalização são possíveis. Por acaso ou pela intervenção de fatores puramente circunstanciais, uma dessas possibilidades se efetiva e a substância segue um padrão determinado de cristalização. Uma vez que isso ocorra, porém, um novo campo mórfico passa a existir. A partir de então, a ressonância mórfica gerada pelos primeiros cristais faz com que a ocorrência do mesmo padrão de cristalização se torne mais provável em qualquer laboratório do mundo. E quanto mais vezes ele se efetivar, maior será a probabilidade de que aconteça novamente em experimentos futuros.

Com afirmações como essa, não espanta que a hipótese de Sheldrake tenha causado tanta polêmica. A teoria, desde o início, tem sido recebida com entusiasmo por filósofos de mente aberta, porém quando publicou seu primeiro livro, “A New Science of Life” (Uma nova ciência da vida) duas das principais revistas científicas da Inglaterra a receberam de maneira totalmente opostas. A revista New Science a apontou como uma importante pesquisa científica, enquanto a Nature como sendo uma candidata à fogueira.

Existem várias experiências tentando provar a teoria de Sheldrake e que podem ser encontradas na WEB. O fato é que a hipótese gerou um enorme desconforto na comunidade científica quando trombou de frente com a visão do mundo dominante. A corrente majoritária biológica, por exemplo, reduzia a atividade dos organismos vivos à mera interação físico-química entre moléculas e fazia do DNA uma resposta para todos os mistérios da vida. No entanto a realidade da natureza é por demais exuberante para caber na “pequena e limitada caixa” do pensamento reducionista, diz Sheldrake. Basta observar o processo de diferenciação e especialização celular que caracteriza o desenvolvimento embrionário.

Outro fenômeno que desafia a biologia reducionista é a regeneração de organismos simples que ocorre em espécies como a dos platelmintos. Se cortarmos esse animal em diversos pedaços, cada parte se transforma em um organismo completo com todas as funções do anterior que foi cortado. O paradigma científico mecanicista herdado de René Descartes desaba desastrosamente diante de um caso como esse. Descarte concebia os animais como como autômatos, uma máquina. Porém uma máquina perde a integridade e deixa de funcionar adequadamente como antes se algumas de suas peças forem retiradas. Um organismo como o platelminto, no entanto, parece estar associado a uma rede invisível que lhe torna possível regenerar todas suas funções e formas originais mesmo quando partes importantes são retiradas.

Não sabemos se a teoria da ressonância mórfica de Rupert Sheldrake ou algo parecido será um dia totalmente comprovada e aceita pela comunidade científica. O fato é que, a mecânica quântica tem comprovado fenômenos e princípios que a ciência convencional jamais admitiria ou sequer imaginaria existir. A comunidade científica precisa manter rigor em suas constatações, no entanto precisa também manter a mente aberta para novos conceitos, mesmo que a princípio pareçam improváveis. Nada pode ser descartado sem a contestação de todas as provas possíveis.

Quanto à experiência do “Centésimo Macaco”, vários relatos a apontam como uma história fictícia. O próprio Lyall Watson admitiu, mais tarde, tratar-se de uma metáfora criada por ele. Se a considerarmos como um mito contemporâneo uma coisa não se pode negar: ela realmente carrega no seu bojo uma poderosa metáfora dizendo que para se romper paradigmas ou criar novas culturas, é necessário que nossas intenções e pensamentos estejam focados nesse objetivo. Porém devemos estar conscientes que isso poderá funcionar tanto para o bem quanto para o mal. Se focarmos os nossos pensamentos no bem e divulgarmos isso, outros se juntarão a essa corrente até que atinja a massa crítica do “Centésimo Macaco” do lado do bem, vencendo os que estão do lado do mal antes que eles consigam atingir o seu “Centésimo Macaco”.

Apesar da história de Lyall Watson não comprovar, também não tem o poder de descartar a teoria de Rupert Sheldrake sobre a ressonância mórfica.

Serão necessários rigorosos e controlados testes para aprova-la ou descarta-la cientificamente, mas para que isso aconteça os cientistas deverão manter suas mentes abertas e livres de velhos e arraigados dogmas, comuns a muitos deles.

ChicoDeGois
Enviado por ChicoDeGois em 04/06/2019
Reeditado em 04/06/2019
Código do texto: T6664764
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