"SINTO, LOGO FAÇO."

Penso, logo existo," foi uma célebre frase usada pelo famoso filósofo francês René Descartes. Pelo simples fato de pensar, dizia ele, concluiu-se que existimos. Se fossemos transportar esta frase para os dias atuais, ela seria mais ou menos como o título acima, isto é, *sinto, logo faço.* Vivemos na era do sentimentalismo. "Deu vontade e sentiu: faça, tem sido o lema de muita gente." Não é mais a coerência e a razão que dizem o que devemos ou não fazer. São os sentimentos. Não se "põe mais à mesa" aquilo que é consistente, concreto e real. A chamada pós verdade é "filha" desta nova forma de enxergar a vida, ou seja, a verdade é aquilo que cada um tem como sendo verdade não fazendo a menor diferença se de fato é ou não verdade. Entendeu? Foi relativizada a privacidade de cada indivíduo. Brotou dos sentimentos deve ser feito. Não se prenda aos limites dos desejos. Seja livre, leve e solto, é o slogan da vez. Mas e a opinião de Deus, não vale mais? Tb foi relativizado a esfera da vida privada. Aliás, Deus sequer existe, diriam os tb religiosos ateus. O problema é que somos seres volúveis. O que sentimos hoje, amanhã já não sentimos mais. Por isso, querer viver de sentimentos e das nossas verdades é perigoso. Assim, por exemplo, um marido (vale para a esposa tb) que sempre dizia amar a esposa, mas que da noite para o dia diz que tem o direito a ser feliz, e, portanto, foi a procura de um novo amor, larga ela e os e a filhos e segue de acordo com o que "sentimentalizou." Claro que não estou condenando os sentimentos. Não é isso. Em certa medida eles são importantes. O problema é quando definem o que devemos ser, fazer ou não fazer, eles nos fazem (ou seria faz?) desfalecer. O sociólogo Zygmunt Bauman escreveu um livro chamado *amor líquido.* Nele, o escritor fala dos laços relacionais frágeis vividos pela geração pós moderna. A liquidez com que são feitas e desfeitas amizades, casamentos, etc, é algo assustador. Não há solidez. Nada dura. Tudo se troca. Tudo se substitui. E assim caminha a humanidade. Enfim, viver só de sentimentos é como construir uma casa sobre areia, isto é, a qualquer momento desaba e vira poeria.

Danilo D
Enviado por Danilo D em 29/05/2019
Reeditado em 29/05/2019
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