Ciranda
INTRODUÇÃO
Este artigo é resultado de nosso interesse e esforço em registrar a diversidade da etnia brasileira em formação. Este e outros artigos se utilizam de alguns dos muitos cantos e danças para ilustrar essa diversidade. Por isso, esse conjunto foi titulado “Canta e Dança Brasil”, que juntamente com “Matriz Brasil” e “Mestiçagem em Preto e Branco” compõem a série “Mestiço Brasil”.
Então, essa introdução exige que, de forma muito simples, comentemos sobre Canto e Dança. E, como ambas as atividades estão intimamente ligadas e, até certo ponto, regidas pela música, comentemos, também, sobre música.
A música podemos dizer que é forma de linguagem, que se utiliza da voz, instrumentos musicais e outros artifícios, para expressar algo resultante da inspiração humana. Consiste em combinação de sons e de silêncios, que se desenvolvem ao longo de determinado tempo. Ritmo, melodia e harmonia são seus elementos característicos.
Canto é o ato de expressar a linguagem musical com a utilização da voz. Ou seja, é a produção de sons, que respeitem dois dos elementos característicos da musica, o ritmo e a melodia.
Dança é o ato de expressar a linguagem musical com a utilização do corpo. São movimentos ritmados em passos e gestos prescritos ou improvisados. Consiste em sequências, propositalmente selecionadas, do corpo em expressão pelo movimento.
Estes movimentos têm valor estético e simbólico. Quando dançamos, estimulados pelo rimo, melodia e canto de seus versos, quando presentes, expressamos aquilo que a música nos transmitiu.
A música, o canto e a dança são expressões da alma de um povo. Se folclóricas, ou seja, aquelas com origem na ancestralidade, então, por meio delas, os povos criam e fortalecem raízes.
Com essa manifestação trina, música, canto e dança se expressa o espírito de um povo, por meio de seu louvor ao universo, de seus sentimentos no dia a dia na luta pela vida.
O QUE É
Ciranda é tipo de dança e música muito conhecida no passado como brincadeira infantil, porém, hoje é dança de roda de adultos, que as crianças continuam participando.
A ciranda sempre é dança de roda, acompanhada por versos cantados e movimentos figurados. Para participar é só entrar na roda, que se multiplica em outras concêntricas, tornando o número de participantes limitado, exclusivamente, pelo espaço onde é praticada.
Tradicionalmente, a ciranda era praticada pelas mulheres nas beiras do mar, para esperarem a volta, em paz, de seus homens, que foram á pesca. Hoje, não mais se restringe ao litoral, mas a temática de seus cantos continua a representar a vida.
Apesar de ser mais conhecida como praticada no nordeste, em especial Pernambuco, a ciranda, também, é praticada no norte, Pará, e no litoral paulista e fluminense.
Assim, a ciranda além de ser uma das inúmeras formas da expressão da alma diversa do povo brasileiro, contém em si mesma essa diversidade, sofrendo alterações conforme a região onde é praticada.
Importante destacar que no Pará, aciranda, conhecida como “Ciranda do Norte”, sofreu maiores alterações, porque passou a ter o enredo, da manifestação folclórica paraense, que ocorre durante os festejos juninos, “Cordão do Pássaro Junino”.
ORIGEM
Para alguns estudiosos, a expressão “ciranda” teria origem na palavra espanhola zaranda, instrumento para peneirar farinha, ou no vocábulo árabe çarand, que significa encadear, enlaçar, tecer uma coisa.
Apesar de a Ciranda ter chegado ao Brasil no final do século XIX e trazida pelos portugueses e espanhóis, ela foi levada para a península ibérica pelos mouros. Ocorreu o mesmo com alguns dos instrumentos tradicionais que marcam seu ritmo, ou interpretam suas melodias, como a zabumba e a rabeca.
Inicialmente, expandiu-se nas regiões Norte e Nordeste.
As cirandas, como outras inúmeras danças circulares, têm origem anterior aos mouros nos povos ancestrais que, dançando, louvavam a natureza, seus processos e seus ciclos.
CARACTRÍSTICAS GERAIS
Sua prática é realizada com a formação de grande roda, geralmente nas praias ou praças, onde os integrantes dançam ao som de ritmo quaternário simples, lento e repetido.
O ritmo quaternário simples, lento tem o compasso é marcado por toque grave da zabumba, ou do bumbo na cabeça do compasso e toques abafados nos outros tempos. O movimento dos participantes faz a coreografia.
A letra da ciranda pode ser improvisada ou já conhecida. De melodia simples e normalmente com estribilho.
Começa com roda pequena que vai aumentando, à medida que as pessoas chegam para dançar, segurando nas mãos dos que já estão dançando. Se a roda atinge tamanho que dificulta a movimentação, forma-se outra menor no interior, concêntrica à roda maior.
PARTICIPANTES
Mestre Cirandeiro, responsável pela direção da ciranda e pela seleção dos cantos. As músicas cantadas pelo mestre podem ser aquelas já decoradas ou improvisações, ou até mesmo canções populares desenvolvidas em ritmo de ciranda.
Músicos responsáveis pela interpretação do ritmo e da melodia, para conduzir a dança.
Brincantes responsáveis pela coreografia. São os dançarinos, chamados de cirandeiros.
Apesar de tradicionalmente os brincantes serem mulheres, hoje as cirandas são abertas a qualquer gênero e faixa etária.
INSTRUMENTOS
Nas cirandas tradicionais, a zabumba (ou o bumbo), o ganzá e a caixa são os instrumentos básicos utilizados. Todos de percussão. Também, algumas vezes, são utilizados a cuíca, o pandeiro, a sanfona ou algum instrumento de sopro.
Como existem diferenças marcantes entre as cirandas das diversas regiões, em algumas cidades do litoral paulista encontramos a utilização do adufo, espécie de pandeiro artesanal, marcação reforçada com dois pedaços de pau batidos como se fossem palmas, ou sobre o tampo de mesa e até tamancos, como na localidade de Tarituba. Além disso, para reforçar a marcação também foi encontrada a utilização da timba.
Muito utilizado a rabeca e a viola nas cirandas conhecidas como caiçara.
COREOGRAFIA
A coreografia é bastante simples: na marcação do zabumba, ou do bumbo, os cirandeiros pisam forte com o pé esquerdo à frente. Num andamento para a direita na roda de ciranda, os dançarinos dão dois passos para trás e dois passos para a frente, sempre marcando o compasso com o pé esquerdo à frente.
Os cirandeiros podem complementar esses movimentos elevando e baixando os braços, sempre de mãos dadas de forma coordenada com as passadas para frente e para trás.
CONCLUSÃO
A ciranda é expressão comunitária, sem preconceitos, em que adultos e crianças se de mãos dadas e na alegria das brincadeiras de roda louvam o esplendor da natureza e da vida.
A roda não indica diferenças, amplamente reconhecidas nas formas em que é expressa nossa essência. Ela indica nossa igualdade nessa essência de origem única. A Roda indica que a ciranda é de todos nós.
A Ciranda, dança de roda, Roda que representa o universo contido no mais íntimo de cada ser. E, se quisermos aprender a amar, temos que procurar nessa Roda, o amor que um dia praticamos e esquecemos.
Sem exageros, podemos eleger a Ciranda como a mais democrática das danças brasileiras.
O encanto, a simplicidade das cirandas, tem tanta força que, certamente, devem fazer parte, juntamente com Aquarela do Brasil, Hino Nacional, do que poderíamos chamar repertório do inconsciente nacional.
Para ilustrar, vou enumerar versos de três Cirandas e finalizo com a pergunta se pelo menos uma delas não recordaste, ou não solfejaste a melodia, como se numa ciranda estivesses presente:
Cirandeiro, cirandeiro, óh, a pedra do seu anel brilha mais do que a luz do Sol...
Esta ciranda, quem me deu foi Lia, que mora na ilha de Itamaracá...
Sou rosa vermelha, ai! Meu bem querer. Beija-flor sou tua rosa e hei de amar-te até morrer...
FONTES:
Dicionário do Folclore Brasileiro – Câmara Cascudo; e
SITES:
bibliotecaderitmos.com.br;
folclorenordestino.blogspot.com.br;
greenme.com.br;
pt.wikipedia.org; e
wikidanca.net.