A saga do cross deck noturno V

Esta saga é um simples exercício de ficção; qualquer semelhança com nomes e fatos da vida real é mera coincidência.

UNO DOIS DE ZERO SETE: A 14 CAIU N’ÁGUA

Enquanto fazia o salvamento, voltei no tempo ao momento exato em que decolara naquela noite...

Decolamos! Estabilizamos em 300 pés e aguardamos a chamada do Mar N-3014, para coordenação. Mas quem chamou pelo rádio foi o CT Ibamar, que estava na aeronave reserva: —12 de 07, a 14 caiu n’ água! A sua calma na transmissão desta mensagem foi fundamental para as nossas ações subsequentes. Ato imediato e contínuo, a aeronave 3012 iniciou uma curva para a esquerda, já descendo para 150 pés, o que não impediu o Comte da 12 gritar um palavrão de desabafo:

—Filhos da puta! Enfim, conseguiram o que queriam! Na altitude para o salvamento determinei o início de um pré-dip check list (lista de cheques para operação de voo pairado no mar) e me dirigi para a popa do NAeL Santa Cruz. Recomendei à minha tripulação calma, profissionalismo, pois naquele momento iríamos salvar vidas... Na primeira passagem sobre o ponto de crash já avistávamos três reflexos que poderiam ser de sobreviventes ou derrelitos. Fizemos mais duas passagens quando vimos granadas iluminativas do tipo caneta sinalizadora (sinais vermelhos) e nos dirigimos para aquela posição. Ali estavam os sobreviventes... E o SH3 se aproximava elegante e muito lentamente...

Eles estavam em suas balsas individuais. O mar era grosso, as ondas altas, o vento muito forte, a noite escura. O vento forte retirava, com frequência, as balsas da posição sob o helicóptero para a posição a ré do helicóptero o que dificultava o recolhimento dos náufragos. Arriamos, inicialmente, a gaiola de salvamento, no entanto, o mar forte, quebrando sobre as balsas, arrancou da balsa um dos sobreviventes por três vezes. Havia dificuldade em se entrar na gaiola, pois ela afundava. O resgate se tomou tenso, pois os pilotos julgavam que com a gaiola seria mais rápido. O vento forte balançava a gaiola e, como um pêndulo, ela ameaçava os sobreviventes. Abdicamos da gaiola. Decidimos arriar somente o sling. Quando este tocou na água alguém o colocou ao redor do corpo... E foi içado. Foi um momento de muita tensão e alegria! Neste içamento o helicóptero afastou-se um pouco do outro sobrevivente, mas sem perdê-lo de vista. Ele lançou novos sinalizadores, como que alertando-nos para não abandoná-lo. Os nossos operadores, S0 Gaspar e CB Fabrício, logo que recolheram o náufrago, nos avisaram que se tratava do CT Bruno e estava aparentemente bem. Voltamos para a posição sobre o outro companheiro, arriamos o sling e o içamos. A sua balsa veio talingada, mas ele a soltou logo em seguida. A bordo do Mar N 3012 o CT Cleber foi saudado pelo Comte Emílio. Verificamos, rapidamente, os seus estados físico e psicológico e, também procuramos saber se tinham avistado, em algum momento, os outros dois tripulantes. Eles nada avistaram, além da aeronave sinistrada, que afundara logo em seguida. Resolvemos voltar para o NAeL Santa Cruz, onde fomos substituídos, para que outra tripulação continuasse as buscas. E pela primeira vez, desde o dia 07/11/1988, após um emocionado pedido pelo rádio VHF para que fosse liberado o pouso usando o espelho de pouso, feito pelo CF Perlingeiro, que já estava no ar com o Mar N-3007, o NAeL Santa Cruz aproou ao vento para receber o Mar N-3012. E preparou a pista em ângulo, içou o espelho de pouso e recebeu uma aeronave do EsqHS-16 de modo profissional, como não se fazia há algum tempo...