Zé da cueca

É incrível como, no nordeste, os pais gostam de botar o nome de José em seus filhos.. Conheci vários Zé. De lá vieram Zé Sarney, Zé Ramalho, Zé Lins do Rego, etc. Não contentes em colocar esses nomes, as mães, em geral as solteiras, colocam no nome do filho um apêndice, como a caracterizar propriedade. Assim, conheci Zé das Dô, ou seja, José, filho de Maria das Dores.

Tem aquela do italiano que quis trocar o nome, pois se chamava Paschoal Bostta. O juiz deferiu e perguntou como ele gostaria de se chamar: Mário Bostta.

Pois no interior do RS tinha o Enilcio Sacco Pretto que pediu para trocar o nome. Como queres te chamar? “José Sacco Pretto”.

São tantas as histórias, que a gente tem que escrever para não esquecer. Como no nordeste todo mundo é Zé, as circunstâncias, a geografia ou outro atributo qualquer é que fazem a diferença. Havia Zé Cajazeira, Zé da Birita, Zé Mecânico, Zé das Guampas e Zé do Pó, esses dois por motivos óbvios.

Mas o mais curioso é o Zé da Cueca. Hoje falecido, ele foi contínuo da Caixa, durante trinta e sete anos, depois se aposentou. Diziam que há vinte anos ele não usava cueca.

Boa alma, um preto alto e gordo, com um apetite voraz de tubarão louco. Ele ia às festas, e inaugurações, carregando uma pasta, onde levava os salgadinhos do coquetel, às centenas, “pra ‘nega véia’ e pros ‘barrigudinho’”.

Um dia chamei um conhecedor do folclore para que contasse algumas histórias dos tantos zé que havia por lá. A vida do Zé das Guampas, como toda a história de corno, era triste. A mulher dava tanto, mas tanto, que o médico aconselhou a retirada de um ovário para ver se diminuía tanta libido.

Mas a pior é a do Zé da Cueca. Uma dia, na década de cinqüenta, ele resolveu ir à “zona”. Depois do amor, o cansaço e o sono. Quando acordou, de madrugada, o lupanar ardia em chamas. Como não tinha luz, vestiu-se no escuro, com a rapidez que a situação exigia.

Voltou para casa, como cachorro que lambeu sabão, e foi dormir, só de cueca.

Foi acordado às sete da manhã, pela mulher e pela sogra, que tentavam colocar água fervente em seu ouvido. Essa é a forma como que as mulheres de lá punem os maridos infiéis. A água derrete as cartilagens, penetrando no cérebro e ocasionando a morte.

Zé teve sorte: só apanhou. Como é que a mulher descobriu? Na hora do incêndio, ao invés de colocar a cueca, ele vestiu a calcinha da prostituta e foi para casa.

Depois dessa, ele nunca mais usou cueca.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 01/11/2005
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