A morte

Eu tinha sete ou oito anos quando a morte cruel veio buscar o meu tio Raimundo Agostinho que estava morando conosco a mais de um ano. Eu me lembro que dentro de um quarto bem grande da nossa casa estava o corpo do meu tio e muita gente em torno do caixão rezando muito e chorando desesperadamente. A tia Josefa rezava o terço de vez em quando acompanhada pelos visitantes que vinham dar seu último adeus ao nosso querido tio. Eu era muito pequeno e não ligava para aquilo e no entanto o meu prazer era brincar com a meninada como eu que não sabia ainda o que era a morte. A tia Marica não dava uma só palavra durante aquele quadro triste e deprimente. A tia Ana Rosa fazia café ou chá de três em três minutos para povo ali presente que vinha visitar o nosso parente morto e lhe dar o último adeus de despedida. Eu nada percebia do que estava acontecendo porque a morte não havia entrado na minha concepção de menino. Eu via aquilo como se nada causasse terror e nem viesse deixar um vazio enorme em nosso meio. As minhas tias choravam muito com a morte daquele irmão querido que deixava esta vida tão subitamente. A morte do meu tio deixou um vazio enorme entre nós e todos aqueles que o conheciam. Ao ver dentro daquele caixão o meu tio morto eu não tinha a menor ideia que aquele homem ia para não mais voltar. Enquanto as minhas tias choravam eu corria pelo terreiro com os meus amigos de infância que como eu nada sabiam da morte ingrata. Ali em nossa casa com cinco anos depois a morte veio matar a tia Ana Rosa repetindo o mesmo quadro de tristeza e deixando na minha mente uma ferida incurável. A partir dos meus vinte anos me acostumei com a morte e perdi todo medo de quem morria perto da nossa casa ou mesmo outro qualquer parente. Hoje não tenho mais medo da morte porque cheguei à conclusão que todo ser humano passa por ela desde o mais rico ao mais pobre. A morte do tio Raimundo me deixou muita saudade porque com o passar do tempo fui sentindo falta do mesmo sobretudo quando as minhas tias falavam que morrendo não voltava mais. Antes da morte do meu tio a sinistra ceifeira havia matado a minha mãe quando eu tinha apenas dois anos de idade.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 15/04/2019
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