African Queen

De repente, os olhares, principalmente os masculinos, como que obedecendo a um comando único, voltaram-se para a mesma direção. A porta do elevador daquele luxuoso hotel africano se abriu, e de lá saiu uma exuberante mulher, negra, alta, bem vestida, senhora de si, deixando mudos os que a contemplavam.

Se é verdade que a cidade de Nairobi, capital do Quênia, tem fama de ser o berço das mais belas mulheres do continente, nem por isso os visitantes, esperavam, já de chegada, deslumbrar-se com a visão daquela deusa negra que flutuava pelo lobby do hotel, na direção do salão de convenções.

Era mês de maio. Lá fora o calor, como de resto quase o ano todo, era muito forte. A vento das savanas fazia subir ao céu uma camada, fina e avermelhada, de poeira, que funciona como um filtro de luz, deixando à vista o enorme globo solar africano, visível sem raios ou reflexos. Aquele círculo vermelho no céu lembrava a todos que aquilo era a África.

Do lado de dentro, no aprazível hotel, a temperatura era amena, temperada pelo eficiente ar-condicionado.

À noite, no jantar, eles se conheceram. Embora trabalhassem no mesmo ramo, em lugares diferentes e longínquos do planeta, aquela noite serviu para aproximá-los. Numa mesa de seis pessoas, sorteadas aleatoriamente, com fins de integração, eles se surpreenderam lado a lado.

Primeiro foram conversas informais. No jantar comentaram um pouco do trabalho e do conclave. Na hora do licor falavam em suas vidas, projetos e expectativas. A parte seguinte do programa, previa uma esticada à elegante boate do cosmopolita hotel, que ficava no subsolo.

À porta, dois enormes leões de marfim, em tamanho natural, pareciam ser o divisor entre a realidade e a ilusão, entre o formal do lado de fora e a fantasia do interior. Para não fugir ao tema nacional do Quênia, a boate chamava-se Simba (Leão).

Aos poucos eles conversam, dançam e se tornam receptivos um ao outro. Ele descobre, vencendo alguns preconceitos, que ela é uma mulher viva, inteligente, bonita, bem vestida, perfumada, com uns olhos quentes, voz de veludo e sorriso misterioso.

Dominando excepcionalmente o inglês, a bela negra, de quase um-metro-e-oitenta, coleia suas sedutoras formas, num vestido laminado de azul, ao som da música que o conjunto típico tocava. O rapaz aos poucos, como um pássaro atraído pelo olhar da serpente, vai se deixando enfeitiçar por aquela pérola negra.

O alto sol da manhã seguinte os encontrou juntos, numa das elegantes suítes do hotel, nem sabiam se na dele ou na dela.

Foram dias de encanto, calor, magia e cor. Ele nunca soube o nome dela. Chamava-a de "queem" (rainha).

Até hoje, muitos anos depois de regressar, ela apenas recorda que foi a um seminário internacional de Loterias mas, sintomaticamente, não lembra nada do assunto que foi tratado.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 01/11/2005
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