TEODICÉIA BRASILEIRA (em alusão à tragédia na escola de Suzano)
Durante milênios, o problema da existência do mal foi objeto de discussões entre pensadores abalizados. Filósofos e teólogos se debruçaram sobre o tema, esforçando-se para compreender o porquê de haver coisas más num mundo criado por um Deus eminentemente bom. Um dos primeiros foi o grego Epicuro, com seu famoso paradoxo que questionava os três atributos divinos: onisciência, onipotência e onibenevolência. Santo Agostinho, séculos mais tarde, explicou o mal com base no livre-arbítrio: Deus criou os homens como seres racionais, livres para tomar suas decisões - cada homem, portanto, escolhe o caminho que quer seguir, e evidentemente nem todos optam pelo caminho do bem. Já no século XVII, por influência de um livro de Leibniz, esse tipo de discussão se aprofundou ainda mais e passou a ser chamado de "teodicéia".
E assim, após o debate ter evoluído e se aprimorado tanto ao longo do tempo, chegamos a uma forma particularmente curiosa de teodicéia no Brasil do ano de 2019: aqui, neste bisonho contexto cronotópico em que nos encontramos, toda e qualquer manifestação do mal é prontamente explicada pelos bem-pensantes da mídia e das redes sociais (eles, que tão diligentemente buscam a verdade) segundo uma fórmula pronta e invariável: "é o efeito Bolsonaro!".