Apenas um nome

Cada cidade tem seus pontos de interesse. No Rio é o Corcovado. Em Buenos Aires, o Caminito. Em New York, a Estátua da Liberdade. Em Atenas, todos se sentem tentados a subir até o Parthenon. Pois na noite em que se conheceram, eles foram, cada um a seu modo, fazer um passeio peculiar: jantar no barco que percorre o rio Sena, em Paris. Ele estava com um grupo de pessoas; ela com um casal amigo. Quando o barco passou ao lado da Notre-Dame, ele brinda com a taça de vinho, e nota que, há uns metros dali, em outra mesa, a moça olhou para ele e sorriu. Entusiasmado, ele torna a levantar o copo. Dessa vez, além do sorriso, ela responde erguendo a flûte de champanhe. Na cena seguinte, os dois estão sentados, juntos, em outra mesa, alheios aos companheiros que faziam grande algazarra, como a celebrar aquele encontro internacional. Começaram dias inesquecíveis. Ambos abandonam seus grupos, para se entregar à aventura de conhecer Paris segundo a paixão. Num fim de tarde, sem querer, eles entram em uma ruela em que havia uma festa. As pessoas cantavam, dançavam, comiam baguetes de pão com queijo camembert e bebiam bordeaux. Convidados, eles logo aderem à alegria e deixam voar a imaginação, enquanto a concertina tocava uma musette parisiense. Eles rodavam abraçados, no êxtase do nous dancerons l’amour, les yeux au fond des yeux.. da obra imortal de Mouloudji, “Un jour tu veras”, naquela entrega que só os amantes conhecem, e que ignora tempo, espaço e limites. Era outono em Paris. Les feuilles mortes dançavam com eles nos pisos da rive gauche, sob um céu plúmbeo. Da janela do apartamento dela, em Montmartre, ao amanhecer, o primeiro raio de sol era deles, iluminando depois a torre de St. Germain de Prés. Mas o tempo investe contra o romance, e chegara a hora de ela voltar para sua fria e longínqua Rússia. A fantasia perdia espaços para a realidade. E pior, não poderiam nem trocar correspondências... Na despedida, emocionada, ela só lhe disse uma palavra: bonheur! Com o passar do tempo ele esqueceu o rosto da moça e o gosto dos seus beijos. Eles conviveram apenas quatro dias. Para ele, passados alguns anos, Paris é sinônimo de saudades... Hoje ele só lembra que ela tinha um sorriso bonito e triste, cabelos vermelhos e pele clara. E se chamava Nadine.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 31/10/2005
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