As revoluções pelas quais a língua portuguesa já está passando.

A revista VEJA, em sua edição nº 2025, de 12 de setembro deste ano, através de grande e elucidativa matéria assinada pelo competente jornalista Jerônimo Teixeira, abordou o polêmico assunto que envolve a transformação de nossa língua portuguesa, por um acordo ortográfico, arquivado desde 1990.

Essa protelação vem causando profunda ansiedade nos milhões de brasileiros preocupados em dirimir as dúvidas, em razão da necessidade de falar e escrever bem. O domínio de um idioma, em sua padronização, torna-se uma medida imprescindível para a valorização de profissionais de todas as áreas. A utilização inadequada de uma crase pode comprometer o sucesso de muitos que se esforçaram para alcançá-lo.

Conforme declarações do lingüista britânico David Crystal, uma das maiores autoridades do mundo em linguagem, a globalização e a revolução tecnológica da Internet estão propiciando o começo de um novo mundo lingüístico. As alterações insubordinadas da ortografia constantes dos blogs e das remessas de emails, bem como o aumento no ritmo da extinção de idiomas, fazem parte desse novo universo virtual. Por essa razão, cresce a consciência de que as línguas bem faladas e escritas, protegidas por normas cultas, são ferramentas da cultura e também armas da política.

A reforma do português ora em curso se defrontará com um desafio inédito.Todas as pessoas que mantém longas conversações na Internet usando tão somente interjeições e símbolos gráficos, não se importarão com as novas regras de utilização do hífen. A necessidade de minimizar o tempo de escrita e se aproximar do tempo da fala obrigou os usuários a ser cada vez mais objetivos e concisos. No âmbito profissional também a objetividade eletrônica está dominando. Os modelos padronizados de correspondências comerciais estão sendo considerados obsoletos, sendo substituídos pelos rápidos e sucintos emails.

Apesar de a língua vir sofrendo estímulos deformadores nos blogs e chats, a palavra escrita jamais foi usada anteriormente com tanta intensidade. Será ótimo que seja sempre assim. Um modo ainda de se destacar na carreira e na vida é a demonstração de que existe nas comunicações formais, o perfeito domínio da tradicional norma culta do português. Para que isso ocorra é preciso que se tenha algo a dizer de forma lógica e racional, além de conhecer as palavras, uma vez que o vocabulário, por si só, não garante exatidão ou distinção do contexto.

A intenção do acordo ortográfico é a de incrementar a valorização do português. A unificação da língua portuguesa, desde o início, bastante censurada, tanto no Brasil como em Portugal, foi uma causa cara para o filólogo brasileiro Antônio Houaiss, falecido em 1999. O acordo, firmado em 1990 pelos Países de Língua portuguesa (CPLP), não teve o cumprimento dos prazos de implantação das novas regras, tendo sido a ratificação do mesmo, adiada sucessivamente. Após vários debates sobre o assunto com os países envolvidos, as autoridades de Portugal, matriz da língua, têm demonstrado o interesse em dilatar os prazos de adaptação às novas regras em até dez anos.

Particularmente, como praticante da escrita profissional durante quarenta anos, embora esteja convicto de que a minha opinião poderá ser desconsiderada pelos entendidos do problema, eu discordo da necessidade de unificação da língua portuguesa. Acredito apenas na necessidade de se proceder a uma rigorosa e conscienciosa revisão, não somente na nomenclatura de nossa língua, mas, sobretudo, na esfera educacional onde o aluno não recebe os ensinamentos adicionais que outrora eram ministrados e que foram modificados ou suprimidos. No que concerne à utilização da informática, com o emprego de abreviaturas e grafias simbólicas, justificadas pela maior agilização, eu nada tenho contra, permitindo-me, no entanto, no direito de não proceder da mesma forma, por entender que sendo aposentado, disponho de maior tempo e, assim, posso preservar o que mais admiro no escritor, isto é, a correta e elegante composição dos textos.

Fonte: A riqueza da Língua. Autor e editor já mencionados.

Demarcy de Freitas Lobato (Em memória)
Enviado por Demarcy de Freitas Lobato (Em memória) em 18/09/2007
Código do texto: T657434