Lições de um motorista de estrada
Chegou um momento em que o belo tapete da estrada, ladeada de pinus e eucaliptos, atravessava a serra e, logo depois, a uns trinta quilômetros de Salinas, despencava num cânion avantajado, como se fosse testar os efeitos da gravidade. E então o perigo aumentou; não havia mais ordem na fila, tudo se desfez definitivamente e a impaciência avançou o limite de prudência.
A experiência da estrada poderia dar luzes aos mais observadores para escrever um tratado sobre as lições de trânsito. Há várias regras empíricas que precisam ser observadas e que nem sempre estão escritas nas leis e regulamentos. Vou enumerar, aleatoriamente, as doze que formulei:
1. Não dê chances ao azar
2. O bom motorista não desgruda os olhos dos retrovisores
3. Leve em conta os imprevistos deixando entre seu carro e os que estão próximos, na frente e atrás, a distância que o bom senso determinar
4. Não tente pautar a pressa dos outros; facilite a ultrapassagem
5. Não insista em continuar na estrada se estiver com sono ou a visibilidade estiver ruim
6. Chuva e direção segura não combinam
7. Nada é mais perigoso do que criar a impaciência no trânsito
8. Não irrite um motorista de carreta nas subidas sem pensar nas consequências das descidas
9. Esteja sempre atento; jamais saia de sua faixa em curvas
10. O melhor motorista é o sobrevivente
11. Não erre o traçado da curva, pois pode ser impossível corrigir depois
12. Por ser perigoso, nunca discuta no trânsito.
Poderia ainda falar da fé e do apelo a qualquer recurso de boa sorte, pois, mesmo com todas as lições aprendidas, nunca se está livre das fatalidades ou dos acontecimentos que não podemos prognosticar. Pois foi o que me aconteceu naquele trecho, eu subindo a serra e o caminhão-tanque descendo. Por estar alerta, notei que o motorista não conseguiu fazer corretamente a curva e foi então que disse a mim mesmo: “prepare-se!”.
Pois foi com esta preparação mental que antevi algumas possibilidades quando estávamos a uns cinquenta metros um do outro e eu ainda consegui pensar em várias coisas antes do pânico: “este cara perdeu o controle do seu caminhão, virou passageiro e não pode fazer nada; vou morrer se permanecer na minha faixa; se eu for para a outra ele poderá querer fazer o mesmo; ele pode capotar, atravessar na pista, e vir em minha direção num verdadeiro trabalho de varredura; vai pegar o meu carro e me jogar no precipício.”
Alguém acredita que a gente consegue pensar nisto tudo em cinco segundos, numa situação como aquela? Não só consegui, mas ainda tive sangue frio de lhe sinalizar, de um modo que nem me lembro mais, de que eu iria para a contramão. Aí ele não tentou consertar a trajetória do caminhão e, por infinita sorte me livrei de morrer esmagado.
O bom motorista é o sobrevivente às situações de azar ou de imprudência, a menos que seja refratário ao aprendizado. Naquele dia afortunado em que o caminhão deu umas duas ou três rabeadas na pista e passamos um pelo outro à distância da espessura de uma lâmina, aprendi mais esta lição.
Tão parecido com a própria vida, onde sobrevivemos a cada instante desde o dia em que escapamos do aborto espontâneo, das pestes infantis, do uso de drogas, das loucuras do trânsito urbano, da indução ao suicídio, das doenças degenerativas, da invasão letal dos vírus ou do ataque cardíaco.
A experiência da estrada poderia dar luzes aos mais observadores para escrever um tratado sobre as lições de trânsito. Há várias regras empíricas que precisam ser observadas e que nem sempre estão escritas nas leis e regulamentos. Vou enumerar, aleatoriamente, as doze que formulei:
1. Não dê chances ao azar
2. O bom motorista não desgruda os olhos dos retrovisores
3. Leve em conta os imprevistos deixando entre seu carro e os que estão próximos, na frente e atrás, a distância que o bom senso determinar
4. Não tente pautar a pressa dos outros; facilite a ultrapassagem
5. Não insista em continuar na estrada se estiver com sono ou a visibilidade estiver ruim
6. Chuva e direção segura não combinam
7. Nada é mais perigoso do que criar a impaciência no trânsito
8. Não irrite um motorista de carreta nas subidas sem pensar nas consequências das descidas
9. Esteja sempre atento; jamais saia de sua faixa em curvas
10. O melhor motorista é o sobrevivente
11. Não erre o traçado da curva, pois pode ser impossível corrigir depois
12. Por ser perigoso, nunca discuta no trânsito.
Poderia ainda falar da fé e do apelo a qualquer recurso de boa sorte, pois, mesmo com todas as lições aprendidas, nunca se está livre das fatalidades ou dos acontecimentos que não podemos prognosticar. Pois foi o que me aconteceu naquele trecho, eu subindo a serra e o caminhão-tanque descendo. Por estar alerta, notei que o motorista não conseguiu fazer corretamente a curva e foi então que disse a mim mesmo: “prepare-se!”.
Pois foi com esta preparação mental que antevi algumas possibilidades quando estávamos a uns cinquenta metros um do outro e eu ainda consegui pensar em várias coisas antes do pânico: “este cara perdeu o controle do seu caminhão, virou passageiro e não pode fazer nada; vou morrer se permanecer na minha faixa; se eu for para a outra ele poderá querer fazer o mesmo; ele pode capotar, atravessar na pista, e vir em minha direção num verdadeiro trabalho de varredura; vai pegar o meu carro e me jogar no precipício.”
Alguém acredita que a gente consegue pensar nisto tudo em cinco segundos, numa situação como aquela? Não só consegui, mas ainda tive sangue frio de lhe sinalizar, de um modo que nem me lembro mais, de que eu iria para a contramão. Aí ele não tentou consertar a trajetória do caminhão e, por infinita sorte me livrei de morrer esmagado.
O bom motorista é o sobrevivente às situações de azar ou de imprudência, a menos que seja refratário ao aprendizado. Naquele dia afortunado em que o caminhão deu umas duas ou três rabeadas na pista e passamos um pelo outro à distância da espessura de uma lâmina, aprendi mais esta lição.
Tão parecido com a própria vida, onde sobrevivemos a cada instante desde o dia em que escapamos do aborto espontâneo, das pestes infantis, do uso de drogas, das loucuras do trânsito urbano, da indução ao suicídio, das doenças degenerativas, da invasão letal dos vírus ou do ataque cardíaco.