Xô Papa-figo
Ensinar é uma arte que vicia. É como uma droga, que uma vez experimentada, cela seu destino para sempre. É uma sensação que vai entrando pelas narinas, invade o cérebro e toma conta de todo o corpo, deixando o indivíduo completamente dominado, dependente, viciado.
Dentro de uma sala de aula, o professor sente-se realizado, poderoso, o dono do pedaço, porque naquele espaço ele pode ser quase tudo: pai, mãe, amigo, confidente, conselheiro, psicólogo ou enfermeiro.
A sala de aula é o habitat natural do professor, que muitas vezes, na tentativa de tornar sua aula mais atraente, se transforma num palhaço, e ali, naquele picadeiro, ele canta, encanta, dança, rodopia, discursa e faz uma platéia sorrir. Outras vezes ele se transforma num ator e dá vida a vários personagens com um único objetivo: fazer com que os alunos entendam as teorias e os teoremas.
Se existe dificuldade no desempenho de uma função, esta se encontra justamente na do professor – aquele que forma todos os outros profissionais, tais como médicos, engenheiros, advogados, jornalistas, enfim, nenhum profissional pode se formar sem antes passar pelas mãos experientes de um professor. Nem mesmo o próprio professor.
Desde o meu tempo de criança escuto as pessoas falarem sobre as responsabilidades que cercam a vida de um professor. Além de se exigir que ele tenha uma resposta pronta e satisfatória para todas as perguntas, ele ainda carrega sobre os ombros, o peso de ser responsável pelo destino de uma nação. Afinal, todo mundo está cansado de saber que “tudo começa pela escola”.
Ocorre que, quando tudo está mal na Educação, a culpa recai sobre os ombros do professor, que não está cumprindo bem o seu papel. Quando tudo vai bem, o mérito é de todos. Menos do professor, que nada mais faz do que cumprir com a sua obrigação.
Também existe um consenso, quase geral, de que professor não trabalha. Ora, um professor que porventura atue em apenas uma escola, precisa preparar planos de aula, corrigir atividades e atualizar cadernetas, entre outros afazeres, que não é possível realizar em apenas vinte minutos. Imagine, então, o estresse daquele que trabalha em duas ou mais escolas. As suas atividades, portanto, extrapolam seu horário de trabalho e ele não é remunerado por isso.
Agora, o presidente do Brasil que é muito bonzinho, anuncia algumas medidas visando melhorar a qualidade da Educação no País e estimular aos profissionais da área. Dentre as medidas a serem adotadas, destaca-se o piso nacional de salários para a categoria, no valor de 850 reais, para os que trabalham 40 horas semanais.
É importante salientar que os professores deverão primeiro provar que merecem receber tal salário. Para isto serão submetidos a uma prova e os aprovados receberão, daqui a três anos, o “merecido salário”, que na ótica do presidente, vai incentivar os professores a se dedicar mais ao seu trabalho.
Na condição de cidadã que paga em dia seus impostos, eu gostaria muito de saber a que provas são submetidos os nossos nobres representantes com assento no Congresso Nacional, quando decidem aumentar seus salários, reduzir sua carga horária de trabalho e ainda se auto conceder benefícios quando precisam trabalhar de forma extraordinária, porque deixaram de realizar suas tarefas em tempo hábil.
A atitude do presidente Lula demonstra que ele realmente conhece muito bem os mecanismos que estimulam e elevam a auto-estima dos trabalhadores. Só temo que o meu País varonil tenha suas finanças abaladas daqui a três anos, quando ele começar a pagar este salário aos profissionais da Educação. E mais: com um estímulo destes, também temo que, em um determinado momento no futuro, o presidente queira pagar um salário de 850 reais aos professores e não encontre mais quem esteja interessado em ganhar relevante salário.
Diante da forma como a Educação e os profissionais do setor vêem sendo tratados, estou começando a pensar que o presidente Lula da Silva come mesmo fígado de criancinhas.