NA PALAVRA É QUE VOU... * Sem pueris ingenuidades
Já não tenho idade para me surpreender facilmente. Sem pueris ingenuidades, aliás seriam inadequadas, deploro muito do que vejo em meu redor. E nada posso fazer, porque o mundo gira a seu bel-prazer, independentemente da minha concordância ou da minha discordância. Os mestres que tive sempre me ensinaram ser indispensável o conhecimento e o seu questionamento. Hoje, nesta época de informação ao segundo, o que mais vejo e ouço e leio é o primitivismo da banalidade, é o raciocínio elementar, é a prosápia convencida daqueles que encontraram aquela velha coisa que dá pelo nome de verdade. Não tenho a pretensão da sapiência, por isso mesmo me reduzo à celebrada frase atribuída a Sócrates --- eu só sei que nada sei. É verdade que sim, mas sempre adianto que não me considero tolo. Sustento que um efeito depende duma causa, que não há efeito sem causa, e por aí adiante. Mais sustento que a inércia não existe, logo a inércia que vamos vendo por aí não mais será do que o efeito de uma causa que no subsolo germina…
Louvo os meus mestres, devo-lhes a possível lucidez que suponho ter e não lamento os desaires sofridos, resultantes dessa mesma lucidez. Nunca adoptei o cinismo, mas sempre entendi o porquê de duas frases vulgarmente usadas por alguns: às vezes, convém nos fazermos de tolos,
e estoutra, mais vale cobarde vivo do que herói morto. Não arrisco qualquer juízo. Cada um sabe de si e responde por si. Eu não julgo ninguém, mas faço as minhas escolhas tal como os demais fazem as deles.
As escolhas dos outros valem o que valem por elas mesmas. Se conflituam com as minhas, evidentemente que sustento as minhas escolhas e enfrento lealmente o debate que surgir. Aliás como toda a gente.
O silêncio só é uma escolha quando agimos individualmente. Se inseridos num contexto mais amplo, o silencio que mantemos poderá ser lido como a inércia provocada, que mais não será do que o efeito de uma causa que se ignora ou talvez nem tanto… E aqui poderei ser apodado de especulador, mas há razões e não-razões para especular. E até posso adiantar que seria conveniente ponderarmos a possibilidade de algumas especulações serem mais da responsabilidade de quem é alvo delas do que de quem as tece.
Aqui fica mais uma reflexão, uma entre tantas e tantas que cogito…
José-Augusto de Carvalho
9 de Janeiro de 2019.
Alentejo * Portugal