A INGRATIDÃO É EGOCÊNTRICA
Muitos pensam que ser grato é apequenar-se, ser inferior. Muitos acham que o individuo, para ter personalidade, tem de ser firme, durão, não curvar-se em atitude de agradecimento. Ser grato é se humilhar, é se declarar inferior, é como confessar que precisou de outra pessoa, porque no fundo ele não precisa de nada, não depende de ninguém, não pode ser grato, pois gratidão é sinônimo de dependência, submissão.
Partindo dessa ´premissa, devemos ser ingratos, firmes, frios, impiedosos, durões, orgulhosos, para não deixarmos transparecer qualquer sintoma de fraqueza.
A gratidão é um sentimento que floresce no individuo quando ele é criado com amor e compreensão, num ambiente de paz e harmonia. É na fase inicial da vidas que aprendemos a respeitar e valorizar o outro, reconhecer nossas limitações. È nessa fase da vida que aprendemos que existem pessoas melhores e piores do que nós, que precisamos de todos, sem termos de nos humilhar para ninguém. Receber um favor merecido ou imerecido não é um ato de submisssão ou de inferioridade; os que pensam dessa maneira são os verdadeiros ingratos, são os que querem se impor, são pessoas inseguras que precisam de autoafirmação para se sentirem melhores, são individuos acima do bem e do mal.
O egoísmo é o mais adequado sinônimo de ingratidão. Os egoistas são ingratos por natureza, carentes de amor, paz e sabedoria, carentes de valorização, se envolvem com os outros como verdadeiras pedras de gelo, simulando afeto, respeito e lealdade, como atores numa peça teatral. Usam os AMiGOS e seus sentimentos mais nobres, se mostrando pessoas carinhosas, leais, autênticas, mas quando um desses amigos tropeça é descartado sumariamente, friamente, tratado com descaso, sarcasmo, ironia. No fundo o ingrato é um ator que se utiliza da simpatia e da retidão das palavras para esconder a sua verdadeira identidade.
A ingratidão é falta de visão, bom senso e humildade. Por fraqueza espiritual o ingrato não vê o que os outros vêem e nem sente o que os outros sentem. Existe na cabeça do ingrato um vazio de amor ao próximo que se manifesta permanentemente, como se fosse um vicio doentio.
O egoismo é um sentimento nato, um modo de vida, sempre presente no dia a dia das pessoas ingratas, que vivem num mundo à parte, no qual reinam intensamente seus interesses pessoais.
O ingrato não enxerga valores no amigo, no parceiro, mesmo naquele que lhe estendeu as mãos
quando mais precisou, porque, mesmo sendo um individuo limitado, cheio de defeitos, ele se acha irretocável, dono da razão e acima de todos os mortais.
Conta uma lenda judia, que certa vez um homem condenado à morte por apedrejamento homem foi alvo dos atiradores, tendo sido acertado dezenas de vezes por grandes pedras atiradas por carrascos e curiosos que acompanhavam a execução. O condenado suportou em silêncio o terrivel castigo. Apesar das dezenas de pedras atiradas ferindo o seu corpo, nenhum grito se ouviu dele. Passando por ali um homem de quem sempre ouvia palavras amáveis, como "sou seu amigo", "te amo pra sempre", "obrigado por cuidar tão bem de mim", esse homem pegou uma das menores pedras e jogou gratuitamente no amigo, somente para demonstrar aos outros seu descaso, repudiando em público o amigo condenado e virando-lhe as costas no momento em que ele mais precisava. Foi exatamente alí, naquele terrivel momento, quando foi atingido por uma pedra de insiginificante tamanho, que ele soltou um estridente grito que ecoou por todos os lados. O rei, que a tudo assistia, ficou intrigado com aquele grito ensurdecedor e mandou perguntar ao moribundo porque gritara quando atingido por uma ínfima pedra, depois de ter suportado dezenas de pedras maiores e atiradas com mais força, o apedrejado respondeu: "As pedras maiores foram atiradas por pessoas desconhecidas, que não sabem nada de mim. Essas pedras não doeram, por isso me calei, mas o pequeno seixo foi jogado por um homem a quem sempre estendi as mãos, parceiro de todas as horas, amigo por vários anos. Por isso gritei de dor, lembrei-me de sua amizade, lealdade, parceria, nos tempos felizes. E sentindo na pedrada dele, o descaso, a ingratidão, a dor foi insuportável." O rei compadeceu-se do moribundo e ordenou que o pussesem em liberdade .
Resumindo: o ingrato é um infeliz, egoista, vaidoso, prepotente, volúvel, pleno de idéias erradas e extremanente carente. Só ele não percebe que necessita de algo mais na vida, que não é dinheiro, sexo, bugigangas, festinhas ou elogios baratos. É algo que ele na sua pobreza de espirito não identifica, não percebe, envolvido que está pela vaidade e complexo de superioridade, até que um dia, quem sabe, algo diferente lhe toque o coração e ele descubra que Deus existe, e os anjos enviados por ele também, e varrendo o egoismo de sua vida para sempre, ele renasça das cinzas verdadeiramente humano, fraterno, amigo confiável e feliz.
São Paulo, 09 de outubro de 2012
Autor Benedito Morais de Carvalho (benê)