Salvem o Professor

No Brasil tem lei pra tudo. Para garantir os direitos dos consumidores, dos idosos, que preservam o meio ambiente e leis que asseguram direitos às crianças e adolescentes, mas nenhuma para garantir o direito do professor. Existe lei, por exemplo, que dá às crianças, o direito de ser matriculada na escola que bem entender e ainda ser beneficiada com o recebimento de um ou mais dessas inúmeras bolsas pagas pelo Governo Federal, desde que não falte às aulas.

Ocorre que, um considerável número dessas crianças são levadas às escola pelos pais, pelos mais diversos motivos, menos com o intuito de serem educadas. O resultado disso é que as escolas mais parecem depósitos de crianças mal educadas, cheias de vontade, analfabetas, desmotivadas e a culpa disso tudo só recai sobre os ombros dos professores.

As crianças cospem, chutam, mordem e xingam até a mãe do professor, mas este precisa abrir um largo sorriso e abraçar a criança porque qualquer atitude mais severa pode ensejar um processo criminal contra ele, ou deixar a criança “traumatizada”.

Os pais estão transferindo para os professores, toda a responsabilidade no que diz respeito às crianças. Desse modo, o professor passa a ser babá, amigo, confidente, psicólogo, enfermeiro, terapeuta, psicanalista e tudo isto sem esquecer sua principal atribuição: ensinar a ler, escrever e contar, formar cidadãos críticos e responsáveis, conscientes dos seus direitos e deveres, enfim, detentores do conhecimento. Além disso, o professor precisa aceitar sorrindo, o fato de também ser transformado em “saco de pancadas”. Tem que apanhar calado, porque não é permitido tolher os atos da criança.

Professor não pode perder a calma, a compostura, a paciência; não pode elevar o tom de voz, especialmente para não correr o risco de ficar doente. Também não pode se descontrolar. Precisa ter “sangue de barata”, ser apático e insensível, porque o que se exige dele não é o comportamento de um ser humano normal. É por isso que quando um desses profissionais consegue se aposentar, nem têm tempo para desfrutar tal condição: está hipertenso, com as taxas altas, desenvolvendo problemas cardíacos e psicológicos e com as cordas vocais comprometidas.

As salas de aula das instituições educacionais são formadas, em média, por 35 alunos. Em cada sala existe pelo menos um aluno que não deixa o professor dar aula. Mesmo que ele perturbe 34 colegas interessados em aprender, não é permitido retirá-lo da sala para não desrespeitar seus direitos. Mas como é que fica o direito dos outros alunos? Pode-se desrespeitar o direito de 34 alunos por causa de um? E o direito do professor que não consegue fazer o seu trabalho, não conta?

De acordo com os técnicos educacionais, alguns dos quais jamais vivenciaram a rotina de uma sala de aula, quando os alunos não se concentram, não se interessam e não se comportam bem na aula, a culpa é do professor, que não consegue fazer sua aula atrativa para essas crianças.

Ora, nos últimos 50 anos tudo evoluiu. Passamos do disco de vinil para o CD; da máquina de datilografia para o computador; dos boings 747 para os supersônicos, só para citar algumas mudanças. Porém, mudou em relação à maneira do professor ensinar. Ele continua usando sua voz, o quadro e o giz, as mesmas “ferramentas” com as quais minha avó aprendeu seguida pela minha mãe (professora aposentada) e depois por mim.

E eu sigo com a mesma “técnica” para ensinar aos meus alunos, mas para algumas professoras aposentadas eu sou privilegiada porque posso utilizar recursos como mimeógrafos e retroprojetores. Contudo, usar mimeógrafo numa época em que se dispõe de cópias a laser, ninguém merece. É importante ressaltar, que o professor é quem arca com os custos pelos artifícios e artefatos que ele utilizar para tornar suas aulas mais atrativas.

A única diferença que se vê na Educação nas últimas décadas é que o professor deixou de ser chamado de professor para receber o nome de mediador, orientador, coordenador, ou outros termos do gênero. Esta figura perdeu a postura autoritária, mas isso em nada melhorou a qualidade do nosso ensino. O Rio Grande do Norte quase sempre fica em último lugar nas pesquisas de desempenho.

Existem algumas questões que não podemos entender: por que temos tantos técnicos e precisamos importar modelos pedagógicos de outros estados e de outros países? Por que é que esses técnicos não realizam uma pesquisa em nossas escolas, para saberem do que alunos e professores precisam para ter desempenho melhor? Por que não se desenvolve um programa pedagógico com base na nossa realidade? Estas são algumas perguntas que ficam sem respostas, porque, em se tratando de Educação, todo mundo é ouvido. Menos o professor.