O CRISTIANISMO E AS MULHERES

Tendo chegado o momento da celebração do nascimento de Cristo, julgo oportuno dirimir alguns entendimentos equivocados sobre a relação entre a religião cristã e a mulher.

Muitas pessoas, de modo absolutamente leviano, proclamam em tom professoral que o Cristianismo relegou a mulher a uma condição de inferioridade em relação ao homem.

Nada poderia estar mais longe da verdade. De fato, se os responsáveis por tal crítica se dessem ao trabalho de estudar - minimamente - aquilo que pretendem criticar, certamente mudariam suas falas e opiniões.

Se, por exemplo, tivessem ao menos começado a ler a Bíblia, encontrariam logo no início o seguinte versículo, no qual explicita-se o contexto em que, segundo a tradição cristã, foi criada a mulher: "Não deve estar o bom homem sozinho; e, por isso, façamo-lhe uma companheira similar a si". (Gen. 18, 2)

Percebe-se facilmente, nesse trecho bíblico, o tratamento dispensado ao sexo feminino: a mulher encontra-se em situação de companheirismo em relação ao homem, igualando-o e sendo-lhe semelhante (uma "companheira similar") em termos de valor e importância.

A própria narrativa que versa sobre a criação de Eva a partir de uma costela de Adão traz, de modo simbólico, essa mesma informação: Eva e Adão têm, substancialmente, a mesma origem e compartilham a mesma essência. Nenhum dos dois é melhor que o outro: ambos estão em situação de igualdade perante Deus.

Essa relevância da mulher no âmbito cristão pode ser percebida, também, a partir de uma análise focada na História. No mundo antigo, e mesmo em civilizações muito desenvolvidas, como Grécia e Roma, a mulher era pouco mais que uma mercadoria, que passava das mãos do pai para as do marido. Sua atuação social era mínima, para não dizer inexistente.

Isso começa a mudar, no entanto, entre o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média, com a ascensão e o fortalecimento do Cristianismo. Só então a mulher passa a ser mais respeitada e valorizada, social e culturalmente (e até mesmo em termos jurídicos). Não foram poucas, inclusive, as mulheres que desempenharam papéis de destaque ao longo do período medieval. Desde abadessas poderosas, como Heloísa de Paraclet, até rainhas de grande pompa e autoridade, como Eleonora de Aquitânia e Branca de Castela, passando por intelectuais, eruditas e acadêmicas, como Herrade de Landsberg, Hildegarde de Bingen ou Gertrude de Helfta.

Evidentemente, essa visão contraria o senso comum que se criou acerca do tema, baseado em equívocos, distorções e absoluta ignorância histórica. Trata-se, porém, da verdade sobre os fatos.

De resto, e para encerrar a discussão, basta dizer que coube a uma mulher, de nome Maria, o protagonismo humano na vinda do Salvador. Mulher essa que foi escolhida para ser a mãe de Deus, a quem a Igreja coroou como Rainha de todos os homens e a quem nós, cristãos (católicos, bien entendu), veneramos, chamando-lhe respeitosamente de Nossa Senhora.