ENSINO-APRENDIZAGEM E A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
Numa visão holística da realidade do ensino aprendizagem baseando-se nua justaposição da relação entre as diferentes dimensões, partindo de uma perspectiva em que a articulação entre elas é o centro configurador da concepção do processo ensino-aprendizagem, a multidimensionalidade percebe diferentes dimensões deste processo.
Este processo deve ser analisado do “tripé” sustentado pelas dimensões humanas, técnicas e político-social. Pois está sempre presente direta ou indiretamente no relacionamento humano como um todo.
Abordar o ensino pelo lado humanista da questão é sem duvida partir para o lado afetivo e sentimental do ser humano. Este aspecto não esta circunscrito numa camada sócio-econômico. Portanto, poderíamos dizer que ela é unilateral e reducionista, ou seja, transformar-na-íamos num único centro configurador do processo ensino-aprendizagem, sem preâmbular a sua importância.
Outro lado, porém, verdadeiro é a sistematização ou a ação intencional que procura organizar as condições que melhor propiciem a aprendizagem. Este aspecto é considerado objetivo e racional. Entretanto, não se pode cair numa extremidade que leva ao tecnicismo, que é um processo unilateral. A grande saga é que estas dimensões podem ser usadas dentro de um equilíbrio racional, se contextualizadas.
Ainda há uma dimensão a ser vista: a político-social. Se o processo ensino-aprendizagem é situado, esta dimensão ganha inerência. Esta dimensão não pode ser considerada um aspecto do processo de ensino-aprendizagem, ela permeia toda a prática pedagógica, que em si possui uma dimensão político-social.
Tendo em vista a disparidades e as similaridades da composição destas dimensões em formar o processo ensino-aprendizagem, torna-se necessário o equilíbrio.
Hargreaves (2004) afirma que a sociedade do conhecimento processa informação de forma a maximizar a aprendizagem, estimular a criatividade e a inventividade, desenvolver a capacidade de desencadear as transformações e enfrentar as novas bases materiais que caracterizam a produção, ou seja, a economia e a política que trazem profundas implicações para a educação, neste final de século.
Cada estágio de desenvolvimento das forças produtivas desponta um projeto pedagógico que gera demandas formativas tanto para dirigentes como para trabalhadores. Isto significa que o profissional da educação deve estar atento às mudanças, buscando sempre novos conhecimentos que atendam as exigências imediatas do mercado de trabalho, compreendendo a nova realidade social em que vivemos, identificando os processos pedagógicos que ocorrem ao nível das relações sociais mais amplas, e não apenas nos espaços escolares, tendo competência para dialogar com o governo em suas diferentes instâncias e com a sociedade civil, no processo de discussão e construção das políticas públicas, sabendo organizar e gerir o espaço escolar de forma democrática, internamente e em suas articulações com a sociedade.
É uma tarefa não muito fácil para este profissional que esta passando dificuldades extremas na sua reciprocidade remunerativa. Enquanto os governos rendem-se ao enxugamento econômico, desnutrem as instituições de ensino, prejudicando os professores e consequentemente as gerações futuras.
É de caráter comum e público a demanda de professores que deixam a docência por aposentadorias ou mesmo por outras áreas de atuação por falta de uma justa atenção, representando uma crise de proporções assustadoras.
Neste ínterim de opiniões, de lacônidade entre as dimensões, a filosofia pode nos apresentar fidúcia ao intelecto e a vida. O reducionismo intelectual e a influência da corrente utilitarista conceituam-se como a busca de algo que traz felicidade, ou seja, como fim último da existência. Assim como os romanos que, ao promulgarem suas leis, estabeleceram um "ius civile": direito próprio do cidadão romano e um "ius gentium": o direito aplicável a todos os povos. A esfera educacional esta apontada para alguns setores, ou para alguns “ius civile”. O conhecimento tornou-se um dos principais fatores de superação de desigualdades, de agregação de valor, criação de emprego qualificado e de propagação do bem-estar.
Drucker apontou o valor do conhecimento como o futuro, entretanto, diante da situação incomensurável que se encontra os formadores e ensinadores, como perspectivar o futuro? Será que diante do descaso percuciente do estado teremos o famoso trabalhador do conhecimento em nossa sociedade?
Nesse ponto, iniciam-se as interrogações sobre quais motivos levam os intelectuais da atualidade, os educadores, a advogar a favor da sociedade do conhecimento como uma organização superior de práticas políticas e pedagógicas socializadoras do saber, quando, na verdade, a construção dessa sociedade da informação é meta do capitalismo em seus desdobramentos mais sofisticados.
Segundo KIENBAUM em seu texto “A construção da sociedade do conhecimento brasileira”,
A escolha da designação Sociedade do Conhecimento Brasileira tem raízes, portanto, na percepção das imensas desigualdades sociais e regionais existentes no nosso País, que clamam urgentemente por políticas que sejam capazes de reverter esta situação, e de colocar o Homem no centro de todas as realizações. Assim ela não deve ser vista como uma veleidade acadêmica ou filosófica, mas antes como um balizamento para a seleção de prioridades de investimentos na implementação das linhas de ação sugeridas, privilegiando aquelas aplicações setoriais voltadas para as questões sociais (saúde, educação, emprego, lazer), destacando-se o apoio a uma participação maior e mais integrada (em oposição à exclusão) dos diferentes segmentos da sociedade, bem como a redução das desigualdades sociais e regionais em todo o País. (Kienbaum, 1998, p. 155)
Na Sociedade do Conhecimento é necessário saber como compartilhar as informações, como usufruir o conhecimento como um todo, não apenas para benefício próprio. É necessário deixar de lado a preocupação de fazer algo rápido e em grande escala, e sim aprender como fazer o trabalho transformar-se em informação e distribuí-lo para a sociedade como forma de conhecimento, visando o enriquecimento pessoal através deste compartilhamento, pois como o mundo não para de girar, a cada momento está oferecendo novas oportunidades e descobertas que precisarão ser compartilhadas para se tornarem eternas.
No capitalismo, a meu ver, é frio e não deixa espaço para o emocionalismo. Mesmo quando há eufóricos manifestos a favor da desigualdade. Considero quase impossível a superação da desigualdade via conhecimento ensinado nas escolas.
Então há uma contradição concreta, na verdade, na justificação inconteste da “sociedade do conhecimento”, que apenas se locomovem fantasias humanitárias que se expressam na absoluta desvinculação dos sonhos docentes com a realidade em curso.
Rubem ALVES, educador e psicanalista, ferrenho defensor da dignidade do homem, propõe seja o ato de conhecer fundamentalmente diverso do ato de informar-se. Somente o ato de conhecer poderia expressar um legítimo ato educacional. De fato, o simples ato de informar-se não viabiliza, por si só, qualquer competência reflexiva para perceber o transitório, examinar a multiplicidade de relações, acompanhar as conexões que podem elucidar a intimidade do universal com o particular, próprias do ato de conhecer. Conhecer implica em pensar e pensar, como diz Alves, “é dançar com o pensamento, apoiando os pés no texto lido” (ALVES, 2001).
Como se pode ver, o conhecimento ideal a ser promulgado, não é nem o explicitado por RUBEM ALVES, nem o sonhado pelos educadores.