Dia da Consciência Negra
Prestem atenção nestes feitos de pessoas que provocaram mudanças e reflexões de grande importância no Brasil e mundo. Preste atenção se são pessoas conhecidas, se já ouviram falar delas em algum momento.
Começaremos com Phillip Emeagwali, matemático e cientista da computação que conectou, por meio da internet, 65 mil computadores no ano de 1998. O trabalho em conjunto dos dispositivos originou uma “supermáquina” capaz de realizar bilhões de cálculos por segundo.
Alice Ball, foi uma química que criou o primeiro tratamento eficaz contra a hanseníase quando tinha apenas 23 anos.
Annie Easley foi uma cientista aeronáutica que desenvolveu um software para o lançamento do Centaur, um dos foguetes mais importantes da NASA.
George Carver foi um notável botânico e bioquímico norte americano que revolucionou as técnicas da agricultura criando importantes alternativas para conservação do solo.
Jane Wright, oncologista, foi essencial na criação de alternativas para o câncer.
Maria Firmina dos Reis nascida no Maranhão em 1822 foi a primeira mulher a feitos importantes, como passar em um concurso público como professora, fundar uma escola mista e realizar a escrita de um romance.
A lista poderia ser mais extensa, mas já aponta a uma questão. O que estas pessoas tem em comum? Por que são tão pouco conhecidas?
O que tem em comum é que todas são negras e ao mesmo tempo e infelizmente, invisibilizadas. O motivo de provocar esta reflexão é por termos tido nesta semana, o 20 de novembro, o dia da Consciência Negra, uma data que ainda exige mudança no comportamento de muitos de nós brasileiros.
Não tem como falar do dia da Consciência Negra, sem destacar o problema do racismo, afinal só será possível buscar a cura, se reconhecermos a doença.
Os dados não mentem, de 100 jovens que são assassinados no Brasil, 76 são pretos ou pardos, o menor salário é o da mulher negra, são elas também as que mais sofrem violência, tanto doméstica, como obstetrícia, a maior quantidade de pessoas encarceradas no Brasil, quase 70% são negras.
O problema tem origem. Durante quase 4 séculos, o Brasil torturou e escravizou milhões de africanos. Com o término deste período sangrento, o da escravidão, o Brasil traz em sua biografia além da violência praticada contra os negros, uma história de desigualdade social que precisa ser enfrentada para avançar.
Ao serem "libertos" da escravidão foram jogados ao próprio destino, sem instrução escolar, sem moradia, sem trabalho. Essa desigualdade ainda persiste de forma intensa no Brasil e precisa ser trabalhada, sobretudo nas escolas.
Os professores tem grande importância no caminho para a superação do racismo. Entre outras questões, a lei 10.639/03 foi criada para esta finalidade, mas antes de colocá-la em prática é preciso aguçar a sensibilidade, pois não é apenas trabalhar história e cultura afrobrasileira por obrigação, por que a lei exige, mas por entender a necessidade dela para um país mais humano, livre de preconceitos.
É preciso que os mestres fiquem atentos às manifestações de racismo na escola, não são poucas as crianças negras que sofrem por receberem adjetivos como "cabelo ruim, "cabelo duro", "cor suja", "cor feia", a perversidade é grande e muitas vezes naturalizada. É preciso parar a aula, conversar com a turma e de forma alguma deixar parecer que é aceitável comportamento desta natureza. É preciso intervir, ressaltar a importância e a beleza da diversidade humana.
É necessário não tratar a cultura afrobrasileira, como efeméride, como uma data que só deve ser lembrada em 20 de novembro. É preciso garantir momentos privilegiados durante o ano todo para pesquisar grandes feitos realizados pelo povo negro e ensinar aos alunos, colocando-os também como pesquisadores destes conteúdos, reservando momentos para leitura de contos e histórias africanas, procurando conhecer também, provérbios africanos para assim perceberem o quanto são ricos de sabedoria e reflexões.
Estas singelas sugestões não tem como objetivo apenas trabalhar a lei, ou colocar foco na data de 20 de novembro, são ações que nos ajudam a ficar mais perto de nossa própria história como povo brasileiro.
O brasileiro conhece pouco sua história e em se tratando de origem, poucos sabem que tem sangue africano correndo nas veias, portanto, falar de cultura e história é conhecer a si próprio também.
É necessario falar de Zumbi do Palmares, Carolina Maria de Jesus, Dandara, Marielle Franco. Colocar luz na existência de pessoas negras brilhantes, colocar luz na existência e na resistência! Importante também, levar imagens da beleza no povo africano, das inúmeras constribuições na culinária, na linguagem oral, corporal, matemática. De toda a tecnologia trazida pelos africanos e que são importantes para o Brasil até hoje. O ganho será certo, alguns imediatos, outros talvez os mestres nem percebam, pois só virão lá na frente. Agindo assim, serão além de professores, promotores de justiça social.